Disco: “New Bermuda”, Deafheaven

/ Por: Cleber Facchi 08/10/2015

Deafheaven
Black Metal/Post-Rock/Alternative
http://deafheaven.com/

Com exceção do público que acompanhava o Deafheaven desde a estreia com Roads to Judah (2011), foi difícil não se espantar com a explosão criativa do grupo em Sunbather. Segundo registro de inéditas da banda de São Francisco, Califórnia, o álbum apresentado em junho de 2013 sustenta quase 60 minutos de guitarras instáveis, gritos e delicadas melodias instrumentais, proposta que distancia o coletivo comandado por George Clarke e Kerry McCoy de outros representantes do Black Metal, mergulhando o ouvinte para um cenário cada vez mais próximo do Pós-Rock e outros campos da música experimental.

Em New Bermuda (2015, ANTI-), terceiro álbum de estúdio do grupo californiano, todos os elementos incorporados há dois anos assumem novo e detalhado encaminhamento. São pouco mais de 40 minutos de duração e cinco faixas extensas – Brought to the Water, Luna, Baby Blue, Come Back e Gifts For The Earth -, material e tempo suficiente para que as guitarras de McCoy e do parceiro Shiv Mehra passeiem por diferentes décadas, preferências instrumentais e ruídos, ampliando o rico leque de referências que definem o trabalho da banda desde o começo da presente década.

Dividida em diferentes atos, constantes quebras e curvas bruscas, a inaugural Brought to the Water parece ditar as regras para todo o restante da obra. Pouco mais de oito minutos em que a voz de George Clark cobre as pequenas lacunas deixadas pelas guitarras, baixo e bateria dos parceiros, sempre íntimos das texturas instrumentais criadas por veteranos como Mogwai, Godspeed You! Black Emperor e Slint. De fato, se não fosse pela voz gutural do vocalista, seria fácil encaixar New Bermuda em uma lista com os grandes exemplares recentes do Pós-Rock. Durante toda a obra, elementos do “Heavy Metal” não apenas são abafados, como extintos pelas guitarras melódicas traçadas pela banda.

Mais do que um trabalho agressivo, desafiador como o disco de 2013, cada instante do presente álbum parece confortar o ouvinte, posicionado em diferentes cantos de um imenso labirinto musical – livre de brechas ou possíveis planos de fuga. Prova disso está na decisão do grupo em amarrar distintos recortes instrumentais em uma mesma composição. Se em Sunbather a banda decidiu afastar os instantes de fúria dos (raros) momentos de calmaria – resumido na trinca Irresistible, Please Remember e Windows -, com o novo álbum, cada faixa vai da avalanche de ruídos ao silenciamento em poucos segundos.  

Exemplo explícito disso está nas duas das canções mais extensas do disco, Luna e Baby Blue. Enquanto a primeira abre de forma agressiva, violenta, encaixando momentos rápidos de calmaria, com Baby Blue, as guitarras de Kerry McCoy e Shiv Mehra lentamente preparam o terreno para a explosão de versos e vozes a partir dos três minutos de faixa. Um constante ondular de vozes, ruídos e versos que tanto dialogam com o som atmosférico de bandas como Wolves in the Throne Room como influências confessas a exemplo de Metallica, Pantera e outros gigantes do metal norte-americano.

Musicalmente amplo, repleto de segredos em cada faixa, New Bermuda confirma a mesma aquietação explícita desde o primeiro álbum de inéditas da banda. Parece difícil estabelecer onde começa e termina a mesma faixa, reforçando o caráter homogêneo do registro. Um descontrole calculado que, assim como em Sunbather, consegue bagunçar a mente do ouvinte sem necessariamente perder a direção que orienta, faz crescer e ainda pontua a obra.

New Bermuda (2015, ANTI-)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Wolves in the Throne Room, Lantlôs e Mogwai
Ouça: Brought to the Water, Luna e Come Back

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.