Disco: “New Moon”, The Men

/ Por: Cleber Facchi 21/03/2013

The Men
Alternative Rock/Indie/Rock
http://wearethemen.blogspot.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

The Moon

Quem se encontra pela primeira vez com as melodias acessíveis, vocais quase límpidos e toda a instrumentação convencional que circula em New Moon (2013, Sacred Bones), talvez seja incapaz de imaginar o passado sujo e essencialmente experimental que orientava o trabalho do The Men. Pouco (ou quase nada) do que flutuava no oceano de canções acinzentadas de Leave Home (2011) parece ser encontrado na atual fase do (hoje) quinteto nova-iorquino. Grupo que se mantém cada vez menos interessados pelas melodias sujas que habitavam e inundavam as primeiras faixas, fazendo dos novos lançamentos um desafio continuo aos velhos e possivelmente novos ouvintes.

Mais distinto projeto já lançado pela banda – hoje composta por Mark Perro, Nick Chiericozzi, Rich Samis, Ben Greenberg e Kevin Faulkner -, o novo disco abandona a agressividade do Punk e as divisões entre o Noise e o Garage Rock para valorizar um lado melódico no trabalho do quinteto. São composições capazes de atravessar o campo de distorção ruidoso do Dinosaur Jr. e chegar do outro lado portando um rock tão claro e audível quanto o The Hold Steady do memorável Separation Sunday (2005). Saem os experimentos sujos herdados do Sonic Youth da década de 1980 para que toda uma nova carga de elementos abasteçam a banda.

São passagens declaradas pelo rock da década de 1970 e tudo o que há de mais marcante nas composições da época. Do rock alternativo da década de 1990, preferência que tanto abastecia o trabalho do grupo no começo de carreira, pouco parece ter sobrevivido. Talvez um pouco de Hüsker Dü, ou a julgar pelas melodias de I Saw Her Face, boa parte do que Bob Mould conseguiu incorporar no clássico Copper Blue (1992), obra-prima do Sugar. Alguns ecos de Pixies, outros de The Byrds, passagens importantes pela psicodelia e até o Proto-Punk de Iggy Pop surgem ao longo do disco, tudo embalado em uma única certeza: a previsibilidade está longe de habitar as composições da banda.

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Mesmo nos instantes em que mais se aproxima do passado recente – como nas guitarras que abrem I Saw Her Face ou nos ruídos descontrolados de The Brass -, tudo surge como novidade. Rompendo com o hermetismo de Open Your Heart (2012), com o terceiro álbum a banda parece nitidamente interessada em provar de novas experiências sonoras. O que poderia resultar em um imenso jogo de ruídos e formas etéreas (como as que marcaram o primeiro álbum), hoje parece se encaminhar para um som de natureza consciente e vozes bem estabelecidas, algo que Supermoon sustenta com sobriedade em mais de oito minutos de duração, ou mesmo a rapidinha Without a Face e seus pouco mais de dois minutos.

Ao mesmo tempo em que o álbum se abre para numerosos percursos, não há como deixar de perceber a capacidade do grupo em manter todas as composições dentro de um cerco instrumental próximo. Parece natural que a agressiva explosão de guitarras em I See No One esteja de alguma forma alinhada com a passagem pelo Southern Rock de Bird Song ou com o consequente mergulho nos sons acelerados do rock de garagem em Freaky. Contrário do que pode parecer, New Moon (o título é mais do que coerente) vai em busca de novidade de forma assertiva, sem se afastar das origens da banda, ao mesmo tempo em que faz de cada novo plano do álbum um encontro com a novidade.

Se existia um abismo entre o primeiro álbum e Open Your Heart como bem explicitei no texto escrito há quase um ano, hoje essa medida de afastamento parece ser ainda maior. Ora voltado ao rock clássico, ora capaz de revelar a mesma montanha de sons angustiantes que até bem pouco escorria das canções do grupo, o The Men segue uma postura distinta dentro do rock alternativo atual. Se se apegar a nada, não será uma surpresa se no próximo ano a banda aparecer com um disco cravejado por acertos eletrônicos. E a julgar pelos três primeiros discos, teremos mais uma vez uma obra ordenada pelo acerto.

 

The Men

New Moon (2013, Sacred Bones)


Nota: 8.2
Para quem gosta de: Metz, Iceage e Pissed Jeans
Ouço: I Saw Her Face, Supermoon e Bird Song

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.