Disco: “New View”, Eleanor Friedberger

/ Por: Cleber Facchi 27/01/2016

Eleanor Friedberger
Indie/Alternative/Female Vocalists
http://www.eleanorfriedberger.com/

A cada novo trabalho em carreira solo, Eleanor Friedberger reforça o distanciamento em relação ao som produzido com o irmão Matthew Friedberger, do The Fiery Furnaces. Livre dos experimentos, curvas bruscas e temas psicodélicos que abasteceram obras como Gallowsbird’s Bark (2003) e Blueberry Boat (2004), são os arranjos e versos delicados, quase sempre confessionais, que caracterizam a curta discografia particular da cantora.

Com o recém-lançadp New View (2016, Frenchkiss Records) não poderia ser diferente. Terceiro registro em estúdio de Friedberger, o álbum de 11 composições inéditas parece seguir exatamente de onde a cantora parou há três anos, durante o lançamento do bem-sucedido Personal Record (2013). Trata-se de uma obra que detalha o cotidiano da artista de forma bem-humorada (He Didn’t Mention His Mother), explora conflitos pessoais (Never Is a Long Time) e lentamente mergulha em elementos sentimentais íntimos de qualquer ouvinte (A Long Walk).

A diferença em relação aos dois últimos trabalhos da cantora está na forma como Friedberger parece manter o completo domínio sobre a obra. Seja na montagem dos versos ou na estrutura musical tecida para o álbum, New View, diferente dos antecessores Last Summer e Personal Record, nasce como uma registro em que cada composição serve de estímulo para a canção seguinte. Uma lenta sobreposição de ideias e temas instrumentais que acompanha o ouvinte até os últimos instantes da obra.

Musicalmente, New View se projeta como o trabalho em que Friedberger mais investe em novas possibilidades, arranjos e instrumentos, escapando do som “contido” que marca dos primeiros discos. São pianos elétricos no interior da psicodélica Cathy With the Curly Hair, guitarras carregadas de efeito em Two Versions of Tomorrow e até arranjos que flertam com elementos típicos da música country, marca de composições como Open Season e Your Word.

Essa mesa fluidez se reflete nos versos que abastecem a obra. Ao mesmo tempo em que se concentra na formação de letras tímidos, marca de composições como Never Is a Long Time – “Now it’s on November / Hiding all the summer’s crimes / All the things I’ll never remember / Never is a long time” -, Friedberger faz do registro uma verdadeira coleção de hits. Músicas como a pegajosa Sweetest Girl ou mesmo a inaugural He Didn’t Mention His Mother, uma das canções mais acessíveis já compostas pela norte-americana.

Parte desse permanente estágio de leveza do álbum parece vir diretamente da década de 1970, uma das principais fontes de inspiração de Friedberger. São arranjos, melodias e vozes que lentamente se apropriam e replicam o trabalho de gigantes como Van Morrisson e Bob Dylan. A própria imagem de capa do álbum nasce como uma adaptação de registros assinados por Joni Mitchell e Nico. Fragmentos que definem a essência nostálgica e referncial de Friedberger dentro do presente álbum.

 

New View (2016, Frenchkiss Records)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Neko Case, Cat Power e Angel Olsen
Ouça: Two Versions of Tomorrow, Open Season e He Didn’t Mention His Mother

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.