Disco: “No Blues”, Los Campesinos!

/ Por: Cleber Facchi 29/10/2013

Los Campesinos!
Indie/Alternative/Indie Pop
http://www.loscampesinos.com/

Por: Cleber Facchi

Los Campesinos!

Poucas bandas nascidas na última década parecem surpreender tanto quanto a britânica Los Campesinos!. São quatro bem sucedidos discos – Hold on Now, Youngster… e We Are Beautiful, We Are Doomed, de 2008, Romance Is Boring (2010) e Hello Sadness (2011) -, uma sequência curta de EPs, singles e um efusivo álbum ao vivo. Todos trabalhos desenvolvidos sob uma arquitetura de versos e sons festivos que, ao menos por enquanto, deram conta de evitar possíveis erros ou mesmo tropeços instrumentais. Dono da uma fórmula própria – e mutável a cada novo exemplar -, o coletivo alcança o quinto registro em estúdio reforçando a própria capacidade de produzir um som tão vasto, quanto em começo de carreira.

Primeiro álbum desde a saída da baixista Ellen Waddell e demais componentes que acompanham o grupo desde o começo da carreira, No Blues (2013, Wichita) é uma obra que ameniza a despedida com uma dose explícita de celebração instrumental. Tão intenso quanto qualquer outro registro prévio do grupo, o trabalho de apenas dez composições condensa toda a essência da banda sem necessariamente esquecer do teor de novidade. Um espaço autoral em que sintetizadores, guitarras, batidas e versos pontuados pela esquizofrenia das líricas dançam em um jogo colorido de interferências.

Resposta voluntária ao cenário melancólico assumido em Hello Sadness (2011), o novo disco traz no efeito de celebração o princípio para manter o ouvinte atento até o último instante. Da dobradinha de abertura, firmada com For Flotsam e What Death Leaves Behind, ao teor de grandeza em Selling Rope (Swan Dive To Estuary), cada etapa do registro garante a certeza declarada de que o ouvinte vai esbarrar a todo o momento em composição melodicamente acessíveis. É como se o ato simples de cantarolar ao final de cada música fosse uma resposta natural ao enquadramento harmônico proposto pela banda. São coros de vozes ou mesmo o próprio alinhamento dos arranjos que prendem o ouvinte em uma verve frenética, interrompida somente no ecoar do último acorde.

Pensado tanto para os antigos seguidores como para os novos ouvintes, o trabalho firma no detalhamento homogêneo e na relação constante entre as músicas um evidente ponto de apoio. Como um bloco único de sons, No Blues esforça uma aproximação natural entre vozes, guitarras e demais instrumentos espalhados pela obra, um exercício que praticamente extingue as vocalizações dinâmicas dos dois primeiros discos, mas autoriza a banda a brincar com a própria essência. É como se todo o jogo de experiências exaltadas com Romance Is Boring (2010) fossem compactadas em uma peça única, forçando o espectador a pinçar aspectos específicos de cada música.

Todavia, o mais surpreendente em No Blues não está na matemática coesa entre os sons ou na relação de continuidade com os projetos anteriores do grupo, mas em perceber que mesmo depois de sete anos de carreira e quatro álbuns de estúdio, a banda ainda tem fôlego e criatividade para mais um cercado atento de composições. Assim como nos primeiros registros, ou mesmo no álbum passado, o que não falta ao novo disco são hits. Oficialmente o trabalho começa com What Death Leaves Behind, pula para os sintetizadores de Cemetery Gaits, cai na melancolia de Glue Me, explode no amor nonsense de Avocado, Baby, emenda em Let It Spill, até seguir em um teor decrescente leve pelo restante final da obra. Uma seleção tão enérgica que mesmo bandas veteranas precisariam de uma vida inteira para encontrar um resultado similar.

Claro que o registro está longe de repetir a mesma euforia jovial explícita nos dois primeiros discos. Trata-se de uma obra madura, em que a coerência entre os sons parece ser muito mais importante para o grupo do que o simples efeito desesperado dos arranjos. Basta observar o planejamentos instrumental que luga Glue Me e As Lucerne/The Low, o momento mais sóbrio da obra, ou mesmo como as melodias tratadas em Cemetery Gaits assumem um efeito inédito dentro da trajetória da banda. No Blues, assim como os primeiros discos, reforça o quanto o Los Campesinos! parece longe de encontrar um possível estágio de conforto e firmação, fazendo dessa ausência de ápice um natural efeito de novidade para a composição criativa da banda.

 

No Blues

No Blues (2013, Wichita)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Tokyo Police Club, Art Brut e Broken Social Scene
Ouça: What Death Leaves Behind, Cemetery Gaits e Avocado, Baby

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.