Disco: “No Dust Stuck On You”, Black Drawing Chalks

/ Por: Cleber Facchi 04/10/2012

Black Drawing Chalks
Brazilian/Alternative Rock/Stoner Rock
https://www.facebook.com/blackdrawingchalks

Por: Cleber Facchi

A vida é um grande feriado para nós”.

Com um título de razões hedonistas e proposta inteiramente festiva, Life Is a Big Holiday For Us (2009), o segundo registro em estúdio da banda goiana Black Drawing Chalks conseguiu definir bem o que seria encontrado dentro da acelerada obra. Rápido, sujo e em alguns instantes capaz de brincar com a sensualidade dos acordes, o trabalho trouxe em curtos minutos um concentrado de experiências que passavam pela década de 1970, sugavam o que havia de mais rústico ao longo de toda a produção dos anos 1990, até se deparar com o Stoner Rock reformulado do Queens Of The Stone Age no inicio dos anos 2000. Referências sempre ricas e capazes de alimentar conceitualmente todos os limites do rasteiro álbum, até então, o registro mais inventivo da banda.

Agora com a chegada de No Dust Stuck On You (2012, Crânio), terceiro e mais novo disco de estúdio do quarteto goiano, somos imersos em um tratado de sonorizações quase opositivas e nada próximas ao que fora despejado há três anos. Esqueça a celebração, o toque festivo e as danças, da capa soturna aos acordes conduzidos pelo peso e a pressão, o novo disco surge dentro de um planejamento distinto, mais denso e em alguma medida capaz de soar como uma tenebrosa ressaca. Nem pense que que você irá encontrar uma nova My Favorite Way (a melhor música de 2009 e talvez a composição mais empolgada os últimos anos dentro do rock nacional), ao lançar o terceiro álbum o BDC aposta no novo, ainda que ele venha temperado com um gostinho de passado.

Dos acordes iniciais aos últimos instantes do disco, No Dust Stuck On You é um trabalho que cresce e se solidifica pela expressão das guitarras, substituindo a força clara da bateria (instrumento que ditava o fluxo do projeto anterior), por um novo acabamento. Contudo, se opositivo é o resultado que passeia pelo álbum, temos agora uma manifestação distinta, mesmo das já tradicionais guitarras que acompanham a trajetória da banda. Sai a aproximação ao trabalho de Josh Homme na fase Songs for the Deaf (2002), entram os encaixes densos que definem Era Vulgaris (2007), preferências que por vezes esbarram no Sludge de grupos como Mastodon (do álbum The Hunter) e até os momentos mais comerciais da carreira do Metallica.

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Fruto de mais uma coerente produção de Gustavo Vasquez e Fabrício Nobre (ambos representantes da “extinta” MQN), além, claro, de uma maior participação do próprio quarteto, o novo álbum abre espaço para o que a banda deve promover em um futuro próximo. Assim como a crueza de Big Deal (2007) abria caminho e firmava as bases para o que a banda viria a desenvolver em poucos anos, com o recente álbum temos mais uma vez a exata manifestação desse resultado. Ainda que dono de qualidades incontestáveis e um percurso próprio, o terceiro disco parece arar o solo (agora mais pedregoso e quase intransponível) para o que o grupo pode apresentar em um futuro próximo.

Procurando por um espaço particular dentro desse novo ambiente de ruídos intransponíveis e distorções marcadas pelo peso, não é difícil nos depararmos com criações que parecem imensas rochas de berros e poluição instrumental, feito que as guitarras rasgadas de Walking By e a densidade de Swallow traduzem de maneira pontual. Mesmo denso, o trabalho permanece rodeado por composições mais “fáceis” e de atitude dançante, delineamento que comanda a pulsos firmes (e pernas dançantes) a ferocidade de No Anchor e Disco Ghosts, um garage rock comercial que se aproxima de forma quase intencional do que servia como marca nos trabalhos passados.

Direto e sem se importar em ferir os tímpanos mais sensíveis, No Dust Stuck on You é um passo maduro e cada vez mais autoral dentro da trajetória do BDC. Se antes o grupo goiano parecia manifestar uma desconfortável relação de intimidade com o rock alternativo estabelecido em solo estadunidense desde idos dos anos 1990, hoje é possível assumir sem medo que tudo aquilo que a banda promove no decorrer do novo disco é tão próprio quanto aquilo que Josh Homme e tantos outros ícones do Stoner Rock alavancaram em seus trabalhos. A vida continua como um grande feriado para o Black Drawing Chalks, agora com um toque extra de seriedade.

No Dust Stuck on You (2012, Crânio)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Love Bazzucas, Forgotten Boys e Vespas Mandarinas
Ouça: Swallow, Walking By e Disco Ghosts

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.