Disco: “No Mythologies to Follow”, MØ

/ Por: Cleber Facchi 11/03/2014


Danish/Indie Pop/Female Vocalists
http://www.momomoyouth.com/

Mø

No Mythologies to Follow (2014, RCA) é um verdadeiro mosaico de referências. Registro de estreia da cantora dinamarquesa MØ, o álbum vai além do catálogo de experiências recentes exaltadas pela artista. Trata-se de uma obra que pula os limites anunciados em Bikini Daze EP (2013), rompe com as primeiras composições da jovem cantora e reflete com exatidão grande parte das emanações que ocupam a música atual. Um misto de eletrônica, pop, Hip-Hop e outras reverberações sutis que aos poucos edificam toda a base da artista.

Como se cada música do disco fosse um objeto específico, a ser observado individualmente, MØ atravessa as diferentes tendências da obra em um único sentido: encontrar a própria orientação estética. Ressuscitando velhas músicas conhecidas, caso de Maiden de 2012, Pilgrim e Glass de 2013, a cantora vai aos poucos cercando o espectador com um registro nostálgico e ainda assim marcado pelo ineditismo. Um passo entre lá e cá que acaba caindo na dança (XXX 88), ecoa melancolia (Dust Is Gone) e ainda abraça o grande público (Don’t Wanna Dance).

A comunicação com a obra de artistas como Purity Ring (Dust Is Gone), Santigold (Fire Rides) e, principalmente, Lykke Li (Never Wanna Know) é apenas um passo para alcançar o território particular da dinamarquesa. Brincando com a colagem de referências, MØ aos poucos fragmenta a arquitetura de outros projetos para estabelecer uma massa de sons autorais. É como se todas as tendências instaladas em faixas como Waste Of Time fossem a chave para entender o universo da cantora. No Mythologies to Follow é um trabalho que não esconde suas experiências, pelo contrário, obriga que o espectador desvende cada uma delas.

Ao mesmo tempo em que soa próxima de uma variedade de artistas, com o lançamento do debut, MØ parece amarrar as pontas soltas de uma sequência de outras obras. Enquanto Waste Of Time é tudo aquilo que Lana Del Rey poderia ter realizado em Born To Die (2012), Slow Love brinca com os exageros da década de 1980 em uma estrutura renovada – contrária ao conforto de um catálogo recente de obras. Uma constante sensação de “arrumar” o que deu errado e ao mesmo tempo transformar a música de outros artistas em um resultado próprio da cantora.

O mais curioso dentro de No Mythologies to Follow talvez seja perceber o quanto o álbum, mesmo versátil, mantém firme uma mesma linha conceitual. Parte desse resultado está no manuseio exato das batidas, uma espécie de definição estrutural que acompanha o disco da abertura (Fire Rides) ao encerramento (Glass). Com base nessa organização, MØ consegue não apenas aproximar composições antigas de faixas recentes, mas passear por músicas densas, caso de Never Wanna Know, e canções dançantes, como Waste Of Time, sem necessariamente ecoar desequilíbrio.

Ao apostar em um registro que passeia por entre diferentes estágios em poucos segundos, MØ não apenas cria um senso de direção para a presente obra, como apresenta os prováveis caminhos que devem orquestrar os futuros discos. Enquanto faixas como XXX 88 reforçam o lado mais “quente” da cantora, outras como Dust Is Gone e Waste Of Time comprovam uma sobriedade rara em projetos do gênero. Uma sequência (torta) de passos que podem levar a artista para direções quase opostas, todas, ao menos por enquanto, marcadas pelo acerto.

 

No Mythologies to Follow (2014, RCA)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Lykke Li, Purity Ring e Lorde
Ouça: Waste Of Time, XXX 88 e Never Wanna Know

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.