Disco: “No No No”, Beirut

/ Por: Cleber Facchi 15/09/2015

Beirut
Folk/Indie Pop/Alternative
http://www.beirutband.com/

Toda banda tem em sua discografia uma obra “menor”. Não se trata de um registro desagradável ou falho, muito pelo contrário: boas composições são facilmente apontadas e encontradas dentro deles. Trata-se apenas de um álbum “esquecível”. Um trabalho que ao ser comparado com outros discos do mesmo artista, passa praticamente desapercebido, exaltado apenas por quem encontrou em suas faixas uma subjetiva forma de identificação e apreço. Dentro da discografia do Beirut, esse é o papel assumido por No No No (2015, 4AD).

Quarto álbum de estúdio da banda comandada por Zach Condon, o registro de versos doces e rápida execução está longe de parecer uma obra memorável. De fato, é possível encontrar em todo o registro de nove faixas uma sutil continuação do disco apresentado pelo músico norte-americano em The Rip Tide, obra entregue ao público em 2011 e, possivelmente, o último sopro de criatividade na discografia do grupo de Santa Fé, Novo México.

Do flerte com o pop em A Candle’s Fire, passando pelo uso de sintetizadores em Santa Fe, até alcançar as melodias entristecidas de East Harlem, todos os elementos assinados por Condon há quatro anos voltam a se repetir no interior do presente disco. Observadas com atenção, faixas como Gibraltar, No No No e At Once, ainda que graciosas, repetem com naturalidade a mesma abertura apresentada pela banda no registro anterior. Uma cansativa reciclagem de ideias que está longe de ser observada apenas no trabalho do Beirut, mas em boa parte das bandas que buscaram apoio na cultura musical do Leste Europeu.

DeVotchKa, Gogol Bordello e, em menor escala, Hawk And A Hacksaw, artistas que passaram os últimos cinco ou dez anos lidando com uma redundante seleção de obras. Trabalhos ancorados em uma mesma base musical e que dificilmente parecem capazes de avançar. Em No No No, Zach Condon e os parceiros de banda até se esforçam, detalham curiosos atos instrumentais – como na crescente As Needed -, mas acabam sempre regressando ao mesmo universo de referências e conceitos assinados dentro dos originais Gulag Orkestar (2006) e The Flying Club Cup (2007).

Outro problema de No No No está no desequilíbrio e falta de ritmo da obra. Enquanto nos minutos iniciais, o disco segue de forma coesa, revelando faixas que, mesmo íntimas dos últimos trabalhos da banda, parecem agradar o ouvinte, com a chegada de Pacheco, manter a atenção no disco se torna uma tarefa difícil. Depois de Perth, junto de Gibraltar, a canção mais acessível do disco, Condon e os parceiros de banda se arrastam, perdem o controle e mergulham em um universo de faixas desinteressantes. Nem a mudança de ritmo em Fener parece convencer.

Assim como na dobradinha March of the Zapotec e Holland EP, de 2009, fica a sensação de que Zach Condon e demais companheiros estão tentando se encontrar. Em No No No, canções agradáveis ecoam aqui e ali, mas nada que supere ou pareça igualar o precioso trabalho do músico em faixas como Nantes, Postcards From Italy ou qualquer outra composição que inaugurou e ainda define a real beleza na obra do Beirut.

No No No (2015, 4AD)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Gibraltar, No No No e Perth
Ouça: Hawk And A Hacksaw, Andrew Bird e Belle and Sebastian

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.