Disco: “Noctourniquet”, The Mars Volta

/ Por: Cleber Facchi 23/03/2012

The Mars Volta
Experimental/Progressive/Rock
http://www.themarsvolta.com/

Por: Cleber Facchi

Houve um tempo em que ouvir qualquer novo álbum lançado pela dupla Omar Rodríguez-López e Cedric Bixler-Zavala sob o nome de The Mars Volta era um verdadeiro fenômeno. Enquanto o rock da última década se encaminhava para a produção de um som cada vez mais sintético e longe de suas raízes originais, o som proposto pelo duo (e pela série de parceiros que os acompanhavam) fluía nostálgico, bebericando ora do rock progressivo que aflorou na década de 1970, ora de experimentos musicados que fariam o mestre Frank Zappa se sentir feliz por ter seus ensinamentos tão bem aplicados. Esse tempo, entretanto, já passou.

De fato, desde o lançamento do fraco Amputechture em setembro de 2006 que o trabalho da banda não parece mais o mesmo, barrando quase completamente as aventuras complexas propostas nos ótimos (e por vezes geniais) De-Loused in the Comatorium e Frances the Mute. Diferente dos primeiros dois álbuns da dupla (ou grupo, como queiram), a partir do terceiro trabalho a força de Rodríguez-López, a principal mente do projeto, pareceu se perder dentro das melodias propostas, abandonando a fluidez orgânica e sutil do rock clássico que a banda se propunha a desenvolver para se perder em experimentos forçados que mais pareciam uma continuação dos sempre excêntricos trabalhos desenvolvidos em carreira solo pelo guitarrista.

Se com o lançamento de The Bedlam in Goliath em 2008, a banda (e principalmente Omar) já demonstrava cansaço, com a chegada do contido e acústico Octahedron em 2009 o grupo dava sinais mais do que claros de que precisava parar, pelo menos por enquanto. Embora interessante e capaz de romper com as redundâncias que os integrantes do projeto vinham desenvolvendo até então, as extensas oito faixas do trabalho pouco entusiasmavam, servindo por vezes como um acumulado de canções de ninar para roqueiros veteranos ou como um “sopro de genialidade” para os sempre cegos (e surdos) fanáticos seguidores de banda.

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A pausa, há tempos necessária para a carreira do TMV, finalmente veio, tanto que a banda acumulou um longo espaço de três anos antes que o recente Noctourniquet (2012, Warner Bros.) fosse finalmente lançado. De certa forma um recorde, já que os últimos discos vinham em uma sequência de um ou dois anos. Como resultado dessa espera (necessária) e um tempo maior para que o grupo pudesse administrar melhor cada nuance do novo disco, ouvir algumas das inéditas composições fazem com que a sonoridade da banda surja repleta de frescor (ou pelo menos próximo disso), muito embora velhos erros ainda se façam presentes no decorrer de toda a obra.

É admirável o esforço que a banda faz para romper com algumas inconsistências do passado, acrescentando referências marcadas pela eletrônica (de forma leve e ponderada) capazes de quebrar velhas fórmulas ou estratégias já batidas do coletivo. A nova proposta – que acaba resultando em ótimas composições, como In Absentia -, entretanto não consegue salvar o álbum de cair em velhos erros do passado, sendo o excesso de faixas e a longa duração do registro o principal deles. Desde o primeiro álbum que o grupo perde a chance de “emagrecer” seus trabalhos. Não basta apenas diminuir o tempo de duração das canções (algo testado com relativo sucesso no atual disco), é preciso arrancar de vez os excessos, algo que Imago (praticamente um pop-rock vagabundo) e Molochwalker (Omar, você não precisa brincar de Wolfmother) acabam representando.

Diferente dos anteriores álbuns da banda, Noctourniquet não serve para mais do que duas ou três audições – ele cansa, e muito. É definitivamente um disco para ter algumas de suas faixas isoladas e apreciadas particularmente, fazendo com que o ouvinte evite assim os excessos (principalmente concentrados na parte final do disco) e reverberações sonolentas que se instalam ao longo da obra. A pausa de fato trouxe melhorias ao trabalho da banda, contudo, o tempo de descanso talvez devesse ser maior para o Mars Volta.

Noctourniquet (2012, Warner Bros.)

Nota: 5.0
Para quem gosta de: At The Drive-In e The Sound Of Animals Fighting
Ouça: In Absentia

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.