Disco: “Nocturnal”, Yuna

/ Por: Cleber Facchi 01/11/2013

Yuna
Indie Pop/Female Vocalists/Alternative
http://www.yunamusic.com/

Por: Fernanda Blammer

Yuna

Não existem limites para a música pop. Barreiras geográficas, religiosas ou políticas, tudo isso cai por terra quando as melodias ecoam alto e os sons encontram maior representatividade do que qualquer percepção cultural. E assim é ao invadir o território da cantora e compositora malaia Yuna, em Nocturnal (2013, Verve), um disco que ultrapassa os próprios limites geográficos, vai de encontro às harmonias solares da música pop até regressar ao próprio território em busca de alimento lírico-musical. Um jogo de interferências que dão a volta ao mundo para  favorecer ao ouvinte um conjunto simples de faixas, mas que nunca perdem o caráter encantador.

Sequência natural ao que a cantora conquistou no último ano com o autointitulado debut, Nocturnal assume com acerto as mesmas pistas deixadas por Pharrell Williams, produtor do disco, porém, em um resultado explicito de leveza e maior acolhimento. Sem a pressão de produzir um registro exageradamente comercial ou crivado de hits, Yuna dança em uma medida própria de tempo e pequenas melodias, trazendo para o álbum um exercício cuidadoso, em que cada fração sonora do trabalho deve ser observada isoladamente.

Visivelmente próxima de toda a cena pop-britânica – e até além dela -, Yuna encontra no mesmo catálogo de referências expostas por Eliza Doolittle, Corinne Bailey Rae ou mesmo os dinamarqueses do Quadron um princípio para brincar com os sons com certa dose de novidade. Desenvolvido em um cuidado explícito, Nocturnal inaugura nas emanações vocais de Falling, canção que traz de volta toda as melodias abandonadas no Soul da década de 1980, porém, livre do teor empoeirado de sintetizadores e batidas com ecos. Um jogo tímido de sensações que emenda nos arranjos de Mountains, explode nas cores de Rescue e segue linear até o fecho do disco.

Sem o mesmo teor plástico do registro anterior, com o novo álbum Yuna parece confortável em um ambiente conhecido em totalidade apenas por ela. Enquanto Lights & Camera fragmenta elementos da eletrônica em um cardápio tímido de batidas, outras como Someone Who Can amarram no uso de violões e vozes presentes um efeito doce de melancolia que em pouco tempo encontra as batidas sintéticas. É comum se acomodar no cenário intimista de I Want You Back, encontrar a porção épica-Coldplay de Colors e depois voltar ao rock leve de I Wanna Go sem que isso pareça exagerado.

Livre de qualquer detalhamento complexo, Nocturnal é uma obra que parece orientada a atrair delicadamente o ouvinte. Do momento em que Falling tem início até a chegada de Escape, cação de encerramento do álbum, cada instante do registro usa de um jogo de experiências sensoriais para fisgar o público. São solos minimalistas de guitarras, sintetizadores ou mesmo samples que parecem criar pequenas ranhuras coloridas, facilmente assimiláveis (e essenciais) após algumas audições. Mesmo a forma como os vocais são posicionados reforça isso, marca evidente no crescimento de algumas palavras e versos inteiros.

Espécie de fuga, Nocturnal talvez seja o registro mais indicado para quem busca se distanciar da grandeza anunciada de nomes como Icona Pop, Charli XCX ou Sky Ferreira. Trata-se de um abrigo musical, primeiro da própria Yuna, que compartilha sonhos, tristezas e pequenas emoções em um cuidado evidente, depois para o ouvinte, que encontra nas mesmas percepções da artista um ponto de conforto cada vez mais atrativo e difícil de ser evitado.

 

Nocturnal

Nocturnal (2013, Verve)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Quadron, Eliza Doolitle e Corinne Bailey Rae
Ouça: Rescue, Falling e Someone Who Can

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.