Disco: “Nocturne”, Wild Nothing

/ Por: Cleber Facchi 24/07/2012

Wild Nothing
Indie/Dream Pop/Shoegaze
https://www.facebook.com/wildnothing

Por: Cleber Facchi

O Wild Nothing sempre foi uma banda de extremos. Desde que as primeiras composições do grupo norte-americano começaram a surgir em findos da década passada que Jack Tatum, líder e único membro fixo da banda, tem nos surpreendido com uma variedade de canções pontuadas pela sutileza instrumental e a forma extremamente amargurada dos versos. Passada a boa repercussão do inicial Gemini (2010), o músico de Blacksburg, Virginia retorna com mais um trabalho em que as experiências individuais servem como base para que o artista estabeleça uma estranha relação de proximidade com os ouvintes, utilizando das dores compartilhadas um meio de chegar até o espectador.

Como o próprio título já aponta, Nocturne (2012, Captured Tracks) conduz Tatum a um desfiladeiro de composições ainda mais sombrias do que as exploradas no disco passado. Instrumentalmente maior e impregnado pelos detalhes, o álbum amarra em faixas etéreas e guitarras tomadas pelos efeitos a fórmula base para um tratado de confissões honestas temperadas por uma sonoridade de resultados sempre obscuros e emocionais. Apostando em uma proposta menos ruidosa do que a que há dois anos entrecortava faixas como Summer Holiday e Chinatown, com o novo disco o músico planeja um resultado uniforme, com todas as faixas se encaminhando de maneira a formalizar um único composto sonoro.

Enquanto boa parte da recente safra de artistas relacionados aos sons do Shoegaze/Dream Pop se deixa levar por uma proposta mais jovial e por vezes descompromissada, Tatum mantém na seriedade a marca de cada uma de suas composições. Instrumentalmente afundado em um oceano de formas complexas que borbulham acordes dolorosos, o músico concentra nos versos de caráter intimista e tomado por experiências particulares as bases para todo um arsenal de criações cinza-amarguradas. Logo, não é difícil perceber criações de versos sufocantes, proposta que batiza músicas como a dolorosa Midnight Song ou a melódica Counting Days.

Mesmo que em alguns instantes do registro Tatum se deixe aproximar de uma massa sonora compacta sem grandes nuances ou distinções, o uso de solos voláteis, acordes heterogêneos e efeitos constantes preenchem o trabalho com detalhes. Nesse ponto o álbum soa constantemente próximo do que Lotus Plaza alcançou ao longo do também confessional, distorcido e detalhista Spooky Action At A Distance. Por vezes, a similaridade entre os registros é tanta que as ondas de distorções promovidas por um parecem se completar no trabalho do outro, aspecto que banha com originalidade e beleza faixas mais comerciais como The Blue Dress, Shadow ou a própria faixa título.

Ainda que em alguns instantes faltem hits aos moldes de Chinatown ou outras grandes canções que caracterizaram o álbum passado, a delicadeza como o disco se movimenta estimula a produção de faixas graciosas e que atraem na mesma intensidade. Exemplo marcante disso está em This Chain Won’t Break, música que se apropria da mesma delicadeza que corta a obra do Galaxie 500 ao mesmo tempo em que costura com atributos sutis o mesmo encaminhamento pop encontrado no último álbum do The Pains Of Being Pure At Heart, Belong (2011). Assim, dentro dessa fórmula bem resolvida, o músico e a banda que o cerca estimulam o crescimento de um disco que não apenas ultrapassa a temerosa barreira do segundo álbum, como pavimenta uma carreira sólida aos futuros lançamentos do Wild Nothing.

Utilizando de artifícios que por vezes ultrapassam os limites de um álbum convencional de mesma proposta, Jack Tatum estimula o surgimento de músicas capazes de ocultar uma série de referências grandiosas e comoventes. Como um animal de hábitos noturnos, o registro jamais se revela por inteiro ao ouvinte, guardando em cada canção um vasto conjunto de mínimas particularidades e ruídos detalhados que aos poucos surgem e desaparecem magicamente nos ouvidos do espectador.

Nocturne (2012, Captured Tracks)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Lotus Plaza, Beach House e Lower Dens
Ouça: This Chain Won’t Break, Nocturne e Shadow

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.