Disco: “Noia EP”, Jennifer Lo-Fi

/ Por: Cleber Facchi 09/02/2011

Jennifer Lo-Fi
Brazilian/Alternative/Indie Rock
http://www.myspace.com/jenniferlofi

Há algo de raro no som do Jennifer Lo-Fi, uma unidade quase perfeita entre som, letras e vocais, que se estende em todas as composições do grupo paulista. Como se cada elemento fosse cuidadosamente pinçado e inserido de maneira ainda mais delicada, para enfim dar forma ao que comercialmente acaba sendo chamado de EP, disco ou álbum, mas que ganha um caráter muito mais artístico pelas mãos do quarteto. Com o lançamento de Noia (2011), o terceiro EP da curta carreira da banda, o universo de referências e texturas que sempre estiveram presentes nos trabalhos anteriores, aqui chega de maneira muito mais despojada e dotada do mesmo virtuosismo.

Se nos dois primeiros lançamentos – Jennifer Lo-Fi de 2009 e Summer Sessions de 2010 – a sonoridade do grupo vinha expondo composições que beiravam o Post-Rock (muito por conta dos antigos projetos musicais de alguns dos integrantes) através de um som quase contemplativo, com o novo EP o som proposto pela banda chega muito mais diluído, livre de arranjos extensos, mas nem por isso pior. O terreno quase etéreo alcançado pelo grupo dá agora lugar a um som muito mais firme e direto, embora faixas como Bacon permitam que a banda explore novas nuances, dessa vez com um peso maior nas guitarras.

Se antes era um toque de Mogwai e Explosions in The Sky que evidenciavam o lado viajado da banda, agora as viagens partem de rumos diferentes. Os toques de rock alternativo, além das pequenas doses de psicodelia e experimentalismo aproximam a sonoridade do quinteto do que é despejado pelas guitarras de Omar Rodriguez-Lopez no The Mars Volta. Tudo de uma maneira muito mais contida e discreta.

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Pela primeira vez cantando somente em português, o quinteto formado por Sabine Holler (vocais e guitarra), Filipe “Miu” (guitarra), Gustavo Santos (baixo), William Couto Jr (guitarra) e Luccas Villela (bateria) não apenas demonstra que domina a língua pátria como ninguém, através de suas ótimas letras, como também prova que é possível compor boas faixas sem depender de estrangeirismos, como ainda insistem alguns grupos “nacionais”.

O som proposto pelo Jennifer Lo-Fi está bem longe de ser um produto sintético e descartável. Cada uma das composições vem recheada por uma sonoridade viva e que explode em detalhes, texturas, formas e sons, impedindo que o grupo venha a cair em um marasmo, do qual muitas vezes é impossível escapar. Noia é a maior prova disso. A banda consegue mesmo que de maneira mais simplista, ser responsável pela excelência de faixas como Ovos ou Neveo, se desvinculando de fórmulas ou ritmos facilmente arranjados, algo que mesmo bandas já reconhecidas no cenário alternativo ainda não conseguiram se livrar.

Falta somente uma estreia, com um disco cheio e dotado da mesma beleza que transpassa seus pequenos registros. Qualidade para isso o quinteto já provou ter e tem de sobra, falta apenas que venham exigir o espaço que é deles por direito.

Noia (2011)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Gigante Animal, Nuda e Macaco Bong
Ouça: Bacon

Por: Cleber Facchi

BONUS ↓

Jennifer Lo-Fi (2009)

Summer Sessions (2010)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.