Disco: “Noise Reminders”, Sin Ayuda

/ Por: Cleber Facchi 14/09/2011

Sin Ayuda
Brazilian/Alternative Rock/Experimental
http://www.myspace.com/sinayuda

Por: Cleber Facchi

Há um lugar onde o Sol brilha mais forte, a boa música ecoa mais alta e as guitarras se projetam em formas melhor delineadas. Nesse lugar vive a Sin Ayuda. Escondido no interior de São Paulo, mais especificamente na cidade de Taubaté, o quarteto paulista faz um tipo de som que poderia facilmente ser encontrado em alguma grande cidade norte-americana do começo dos anos 90 – talvez Los Angeles ou Seattle -, afinal, bastam alguns segundos dentro de Noise Reminders (2011, Popfuzz Records), primeiro álbum da banda para percebermos que todas suas composições parecem se voltar para outras épocas, momentos ainda mais longínquos que talvez até ultrapassem a própria década de 1990.

Se dividindo entre o emprego de ruidosas guitarras e violões que brincam tanto com a música folk, como com a psicodelia, a banda vai lentamente tramando diversas possibilidades musicais, tudo isso enquanto costura as dez radiantes composições que solidificam a totalidade do disco. Seguindo de maneira uniforme o mesmo caminho já percorrido pelo single Wednesday, Thursday Lie, o álbum reverbera além da boa música uma fina camada de nostalgia através de suas canções, que mesmo inéditas trazem pequenas recordações e esbanjam certa dose de referências ao trabalho de outros veteranos do rock alternativo.

Aos comandos de Ricardo Henrique (Bateria), Julio Cavalcante (Baixo), Diego Xavier  (Voz e Guitarra) e Vinicius Pacheco (Voz, violão e guitarra), o disco se dissolve em ondas, fazendo com que cada música do álbum cumpra um papel específico sendo delimitada através de uma especialidade ou uma sutileza própria. Vasto, o registro consegue apresentar tanto faixas que trafeguem pela mesma sonoridade melódica de grupos como Sunny Day Real Estate e Mineral (feito Advice From a Grandmother Gull), assim como faixas que se afundam em doses de psicodelia e experimentações, tal qual Math, que de alguma forma lembra Julian Lynch.

Quem pensa que a constante troca de sons e temáticas dentro do álbum pode prejudicar a boa formação do disco, logo verá que mesmo seguindo por vias opostas, todas as faixas do trabalho partilham de uma mesma tonalidade, algo que se revela através da atmosfera levemente abafada das canções, o que garante também um toque de caseiro e artesanal ao álbum. Longe de qualquer aproximação com um tipo de som comercial ou que facilite ao “grande público”, Noise Reminders vai jogando com suas próprias regras, com o grupo experimentando diferentes possibilidades musicais em pouco mais de 30 minutos.

Tal qual a capa do disco – autoria de Evil Deal -, que apresenta uma espécie de criatura fantástica, montada a partir do cruzamento de diferenciados animais e elementos vegetais,  a sonoridade que toma conta do registro se manifesta de forma bem similar, com o grupo seguindo sem medo de arriscar e cruzando despretensiosamente sons até opositores no interior do registro. Se em uma canção as guitarras soam estridentes e fomentadas por uma propriedade instrumental entusiasmada, na composição seguinte o quarteto mergulha em um oceano de calmaria e exposições acústicas, quebrando qualquer possibilidade de produzir um registro óbvio.

Empacotado em uma embalagem Lo-Fi – não por escolha da banda, mas por questões técnicas –, em alguns momentos do álbum conseguir uma boa absorção dos vocais é uma tarefa simplesmente impossível de ser conquistada, algo que obviamente prejudica uma melhor execução do registro. Outros erros são percebidos através de músicas como Start Over, que acabam apresentando um tipo de som muito similar ao que outros grupos vem desenvolvendo recentemente, impedindo que o grupo consiga proporcionar um trabalho inteiro de grandes acertos. Contudo, por ser sua primeira grande empreitada musical, a banda segue muito bem, fechando um trabalho que antecipa nossas expectativas pelos próximos trabalhos do grupo.

 

Noise Reminders (2011, Popfuzz Records)

 

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Hierofante Púrpura, Venice e The Tape Disaster
Ouça: Wednesday, Thursday Lie

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.