Disco: “Nonfiction”, The Range

/ Por: Cleber Facchi 05/11/2013

The Range
Experimental/Electronic/Alternative
https://soundcloud.com/donky-pitch

Por: Cleber Facchi

Oficialmente Drukqs, último registro em estúdio de Richard David James pelo Aphex Twin, foi apresentado há mais de uma década. Entretanto, mesmo distante do público, nunca antes a obra do produtor escocês esteve tão em evidência quanto no cenário atual. Imerso no próprio isolamento, o produtor reverbera com detalhe na obra de uma série de projetos recentes, algo que James Holden trouxe no ambiente obscuro de The Inheritors, Gold Panda nas interferências climáticas de Half Of Where You Live ou mesmo o veterano Kieran Hebden (Four Tet) na composição que abastece o ainda recente Beautiful Rewind.

Entusiasta das mesmas composições lançadas pelo escocês, o estadunidense James Hinton assume aquela que parece ser a interpretação mais curiosa da essência de Aphex Twin. Em Nonfiction (2013, Donkey Pitch), estreia com o The Range, mais do que resgatar experências específicas firmadas pela IDM e a eletrônica dos anos 1990, o artista de Rhode Island busca fragmentar a própria base em uma sequência instável de preferências. Assim como o espiral que ilustra a capa do álbum, atravessar as composições de Hinton é ser submetido a um catálogo de referências que circulam com liberdade. Uma obra em que a incerteza parece ser a única garantia do ouvinte.

Desenvolvido de forma atenta em cima de 11 temas específicos, o trabalho assume em cada composição um detalhamento instrumental mutável. Ainda que Loftmane, canção de abertura pareça estabelecer todos os limites conceituais da obra, abrindo espaço para que samples, instrumentos e batidas se acomodem em um mesmo cenário, basta a faixa seguinte, Everything But, para perceber o quanto nada permanece estável na obra de Hinton. São pequenas apropriações ambientais dissolvidas em uma estrutura particular, tramas sintéticas que abrem caminho para a canção seguinte e uma certeza de que tudo e nada dançam em um mesmo espaço.

Mais do que resgatar traços específicos daquilo que Aphex Twin, Squarepusher, Mouse On Mars e outros gigantes da IDM testaram há duas décadas, Nonfiction é uma obra que encontra no presente um espaço de invenção. Traço evidente disso está na construção de Jamie. Quarta faixa do disco, a canção incorpora no manuseio esquizofrênico do Hip-Hop em aproximação com a Ambient Music um concentrado que parece fluir com acerto apenas dentro do universo volátil exposto pelo norte-americano. A própria Metal Swing, canção de encerramento do disco, partilha do mesmo grau de estranheza, ambientando pianos, vozes e um fluxo íntimo do R&B em um jogo de sobreposições que beiram a melancolia.

Sem a necessidade em manter os pés fixos em um único território musical, The Range transforma cada faixa do álbum em um palco aberto para pequenos ensaios. Se em minutos Everything But transita por um terreno de delicadas ambientações etéreas, logo em sequência, The One se apropria de um conjunto de referências completamente opostas, raspando no pop sem se desligar das mesmas interpretações do novo R&B. Sobram ainda passeios pela década de 1980 (FM Myth), canções próximas de um resultado sublime (Postie) ou mesmo faixas que interpretam a eletrônica dentro de uma linguagem totalmente particular (Sad Song).

Dentro dessa estética plural e longe de seguir com a construção de um exercício essencialmente linear, cada música exposta no disco passeia livremente por diferentes arranjos e possíveis quebras instrumentais. Em Seneca, por exemplo, uma das primeiras composições apresentadas pelo produtor, o que deveria ser um jogo simples de harmonias e batidas, aos poucos explode em um caleidoscópio de interferências. Exercício similar está em Hamiltonian, música que fragmenta a própria calmaria em um cardápio de sons próximo das pistas, ou algo que Telescope revela em um puro bloco de experimentos. “Apenas” um amontoado distinto de peças que parecem distantes de encontrar qualquer ordem exata nas mãos de seu criador.

 

The Range

Nonfiction (2013, Donkey Pitch)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: James Holden, Squarepusher e Aphex Twin
Ouça: Jamie, Seneca e Metal Swing

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.