Disco: “Nootropics”, Lower Dens

/ Por: Cleber Facchi 04/05/2012

Lower Dens
Shoegaze/Indie/Post-Punk
http://lowerdens.com/

Por: Cleber Facchi

Não são poucos os lançamentos musicais (ou qualquer outra forma de mídia) capazes de prender a atenção do espectador de forma sincera. Se observar atentamente, verá que pelo menos uma vez por dia você se depara com alguma canção capaz de te emocionar, que te faça recordar momentos importantes do passado ou que simplesmente te garanta alguns instantes de alegria, exaltação ou simples melancolia. Entretanto, raros são os discos que conseguem manter o mesmo resultado durante toda a extensão das faixas. Mínimos lançamentos capazes de manter a atenção e a emoção ouvinte em alta da primeira à última canção. Trabalhos raros, mas que vez ou outra surgem para nos impressionar e, mais uma vez, emocionar.

Talvez dentro de uma linguagem particular e até certo ponto limitada, Nootropics (2012, Ribbon Music), segundo e mais recente trabalho da banda de Baltimore, Maryland Lower Dans é um desses discos. Meticuloso e imerso em uma névoa sombria, o registro manifesta a construção de um caleidoscópio acinzentado de ritmos, sons e versos. Retratos sinceros de composições que passeiam por recordações do passado, doses de um cotidiano macambúzio e pequenas frações de pensamentos individuais que ao serem musicadas soam estranhamente partilhadas e próximas de qualquer ouvinte. Faixas que simplesmente parecem conversar.

Sucessor daquilo que hoje soa como um aprimorado estudo, o álbum Twin-Hand Movement de 2010, o recente disco de apenas dez composições usa de uma herança musical apurada como ferramenta de movimento para os mais de 50 minutos que o definem. Tempo que parece se extinguir assim que os acordes iniciais de Alphabet Song tomam formas. Intencionalmente denso, o trabalho transparece o resultado de uma banda que já nasceu madura, dotada de um som abrangente e tomado pelos detalhes. Como projeto adulto, o que encontramos no interior do álbum são ajustes, pequenas reformulações cruciais para que faixas como Lion in Winter Pt. 1, uma mera composição dotada de sobreposições sonoras, seja capaz de manter o tom hipnótico que preenche a obra.

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Nootropics é um disco que honestamente valeria apenas pelos mais de sete minutos ininterruptos que unem as faixas Brains e Stem logo no começo do trabalho. Uma verdadeira viagem sonora por mais de cinco décadas de produção musical conduzida apenas pelas guitarras de Will Adams. Um passeio surpreendente que mergulha na vanguarda do The Velvet Underground, passa pela curta discografia do Joy Division, absorve Kevin Shields até desaguar em um resultado instrumental que, mais uma vez, emociona. Curioso notar, mas ao mesmo tempo em que o disco explode em detalhes há um ar de simplicidade, resultado de um autocontrole assumido pela voz suave de Jana Hunter, única constante do disco.

Assim como diversas são as melancolias ou amarguras que ecoam no interior da obra, muitos são os destinos instrumentais que a banda opta por navegar. Talvez pela forma como os teclados são aproveitados em Nova Anthem, Alphabet Song e Stam, a aproximação mais lógica seja com o trabalho dos vizinhos do Beach House – de fato, os vocais de Hunter lembram muito os de Victoria Legrand. O leque de aproximações, entretanto, é ainda mais amplo. Em Brains, por exemplo, é possível encontrar um fundo de The Walkmen, talvez do disco You & Me de 2008, enquanto o ar nostálgico de Lion in Winter Pt. 2 manifesta um fino recorte da década de 1980, com a banda de Ian Curtis e até The Smiths surgindo como referências.

O mais estranho nisso tudo é observar que todas essas influências (e mesmas sonoridades) mencionadas já foram testadas centenas, se não milhares de vezes por outros artistas apenas nos últimos meses. Surpreende perceber o quanto o grupo – aos comandos vocais de Hunter – entrega um trabalho ainda mais abrangente, não pela maneira detalhada como as faixas são construídas, mas pela forma honesta como elas dialogam sinceras com o ouvinte. Em um mundo de constantes lançamentos excessivamente cuidadosos e sempre épicos, produzir um disco sincero e que consiga emocionar ainda é algo fundamental para qualquer artista. Nootropics é apenas uma mínima, porém, necessária fração disso.

Nootropics (2012, Ribbon Music)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: The Walkmen, Beach House e Wild Beasts
Ouça: Brains, Lion in Winter Pt. 2 e Nova Anthem

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.