Disco: “Nostalgia, Ultra”, Frank Ocean

/ Por: Cleber Facchi 21/07/2011

Frank Ocean
Hip-Hop/R&B/Rap
http://frankocean.tumblr.com/

Por: Cleber Facchi

Quem acompanha o Odd Future Wolf Gang Kill Them All (OFWGKTA) desde que o coletivo iniciou suas atividades no final de 2007, ou mesmo quem aprecia particularmente a carreira de seu representante maior, o complexo Tyler, The Creator, talvez ao se deparar com a estreia de Frank Ocean (um dos membros do coletivo californiano) seja recepcionado com um grande balde de água fria. Longe dos versos anárquicos de seus comparsas, que entre sessões de psicanálise imaginárias e pregações ao estupro e assassinatos, Ocean segue por uma linha mais suave, calcada no R&B, um completo oposto de qualquer coisa que seus companheiros venham a desenvolver.

Enquanto o OFWGKTA é visto como uma nova possibilidade dentro das convenções do Hip-Hop, fazendo uso de batidas sujas, versos contrários ao posicionamento glamuroso do estilo e a mais pura diversão em meio ao caos, Ocean – nascido Christopher Breaux – parece percorrer um caminho completamente inverso, fazendo de seu primeiro álbum Nostalgia, Ultra (2011, Independente), um registro de pura proximidade com o que há de mais tradicional no cenário norte-americano. Entretanto, mesmo dentro dessa similaridade com o que outros artistas como Drake, John Legend e The-Dream vem desenvolvendo, o rapper de 23 anos se afasta dos excessos e passeia através de um disco mais simples, porém bem conduzido.

Enquanto uma maioria escancarada de representantes do R&B se oculta em meio a produções grandiosas, colossais arranjos de cordas e uma climatização épica para versos muitas vezes enfadonhos, Frank se concentra no básico. Movimentando seus vocais – ora cantados, ora versados – através de uma produção modesta, samplers relacionados à música pop ou ao rock alternativo, o rapper vai construindo um tipo de condução que lentamente seduz o ouvinte, um trabalho mascarado por uma produção tradicional, mas que aos poucos se apresenta como um projeto singular e distante de qualquer forma de redundância radiofônica.

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Talvez pela construção instrumental branda ou pelo apresentar de um universo atmosférico suave ao longo das faixas, Nostalgia, Ultra acaba se aproximando muito de House Of Balloons, trabalho de estreia do canadense Abel Tesfaye (The Weeknd). Contudo, enquanto o produtor de faixas como The Morning e What You Need se fecha dentro de um hermetismo melancólico e excessivamente sintetizado, Ocean opta por um trabalho mais aberto, acessível e tão belo quanto o do vizinho canadense. O resultado disso se traduz no uso de samplers de artistas como Coldplay (!), Radiohead, MGMT e até Hotel California do The Eagles, tornando o álbum um registro que mesmo fácil se revela de maneira minuciosa e madura.

Longe do hedonismo proclamado por seus conterrâneos do Odd Future, Frank parte em busca de versos mais ampliados e que parecem até confrontar os ideais ressaltados por seus parceiros californianos. Em Novacane, por exemplo, Ocean traduz os abusos com as drogas de forma melancólica, repleta de pessimismo e dor, algo que pelas mãos de qualquer um de seus outros colegas resultaria em uma sequência de versos agressivos e de pura exaltação. O rapper ainda abre espaço para pequenos devaneios românticos, como em Love Crimes, além de alguns toques de um existencialismo sombrio em Dust e There Will Be Tears.

Distante do OFWGKTA e ainda mais distante do rap norte-americano tradicional, Frank Ocean monta em seu primeiro álbum solo um registro de pura maturidade, um álbum que se opõem de maneira adulta aos princípios de seus conterrâneos e que constrói um tipo de caminho próprio. Surpreendentemente simples, mas ainda assim cuidadoso em suas composições, Nostalgia, Ultra surge como um álbum necessário, um trabalho que brinca com o básico, mas que esconde uma variedade de boas produções.

Nostalgia, Ultra (2011, Independete)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: The Weeknd, OFWGKTA e Tyler, The Creator
Ouça: Nature Feels e There Will Be Tears

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.