Disco: “Numbers”, MellowHype

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2012

MellowHype
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://www.oddfuture.com/

Por: Fernanda Blammer

 

Por mais que as associações aos trabalhos do OFWGKTA sejam inevitáveis, Hodgy Beats e Left Brain sempre encontraram no HellowHype um propósito diferente do que estabelecem ao lado dos parceiros do coletivo de hip-hop. Flutuando em um universo sujo, comicamente satânico – você encontrará 666’s ou cruzes invertidas por todos os lados -, além de ser temperado do principio ao fim pelas drogas, cada lançamento da dupla se organiza como um registro dividido entre a anarquia (herança dos colegas do Odd Future) e concisão (esforço exigido do mercado). Uma dicotômica medida que rege a ordem das produções desde o debut YelloWhite (2010) e um propósito que se intensifica agora com o lançamento do mais novo trabalho dos californianos: Numbers (2012, Odd Future/RED).

Sucessor do melhor registro já apresentado pela dupla até hoje, o desconcertante BlackenedWhite – trabalho originalmente apresentado ao público em 2010 e relançado em junho do último ano -, com o terceiro disco o duo parece ter encontrado a medida exata entre o caráter obscuro de outrora e a maior aproximação com o público e as melodias. Mesmo “acessível”, o disco segue permeado pela ironia, não poupando na maneira como os versos parecem dispostos a ofender ou agredir com cusparadas o espectador. Contudo, tão logo o registro inicia com a eletrônica e sombria Grill percebemos que se trata de um projeto distinto, afinal, por mais íntimo que ele seja das anteriores propostas da dupla, os rumos são completamente outros.

Tanto BlackenedWhite como o disco de estreia dos rappers pareciam intencionalmente esquematizados em cima de uma única ordem: o caos. Por mais que as melodias plásticas estivessem por lá, tudo era inteiramente similar aos desajustes sombrios que acompanham o conterrâneo Tyler, The Creator durante a execução das duas últimas obras, principalmente dentro do polêmico (e comercial) Goblin (2011). Partindo dessa proposta a dupla conseguiu estabelecer uma sequência de bons versos e rimas que se acomodavam sem grandes esforços nos ouvidos do público, resultado identificado de forma clara na maneira como Gunsounds, Deaddeputy e Right Here foram pensadas. Verdadeiros hits, mas sem parecer com criações exageradas ou descartáveis.

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Em Numbers a proposta é outra de maneira baste lógica. Como se a dupla pensasse de fato nos números – fãs, vendas ou possíveis shows -, tudo é organizado de forma calculada, quase matemática. Fica parecendo que a dupla preza a todo o momento pela construção de um disco vendável, talvez reflexo da imensa aceitação em torno de Channel, Orange e uma proposta que acaba por conduzir cada pequena fração do atual disco de maneira até artificial em alguns momentos – tudo é excessivamente calmo em algumas faixas. Pelo caráter do registro é constante a sensação de “álbum por encomenda”, com Hodgy Beats e Left Brain em várias faixas aparecendo em segundo plano dentro do trabalho, que se conduz de maneira automática, robótica.

Se as líricas e a própria presença da dupla é reduzida pelo disco, musicalmente o novo álbum supera sem grandes esforços todos os anteriores lançamento dos rappers. Por vezes mergulhando em bases jazzísticas (Brain), eletrônicas (NFWGJDSH), experimentais (Under 2) e até tocadas pelos ritmos latinos (La Bonita), a diversidade de sons amplia os horizontes da dupla, ainda que as pequenas doses de caos façam falta pelo disco. Ótima mostra da evolução das bases que dirigem o atual projeto está na sonoridade melancólica de Astro, canção que segue de maneira crescente em meio ao uso aprimorado de teclados, uma preparatória para os versos do agora gigante Frank Ocean.

Por vezes confuso, em outros assertivo, e ainda curioso por diversos instantes, Numbers consegue ao longo das faixas incorporar uma das marcas que naturalmente conduzem as composições do MellowHype desde o primeiro disco: provocar. Longe de ser o melhor trabalho da dupla, o álbum fornece além de boas canções bases consistentes para o que pode ser melhor aproveitado em um futuro próximo. Por enquanto o caos de outrora aparece convertido, controlado e limpo, mais ainda assim dentro dos padrões dos rappers.

Numbers (2012, Odd Future/RED)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: OFWGKTA, Mike G e Tyler, The Creator
Ouça: Snare, La Bonita e Astro

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.