Disco: “O Mais Feliz da Vida”, A Banda Mais Bonita da Cidade

/ Por: Cleber Facchi 03/10/2013

A Banda Mais Bonita da Cidade
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.abandamaisbonitadacidade.art.br/

Por: Cleber Facchi
Imagens: Rosano Mauro

A Banda Mais Bonita Da Cidade

Beleza é uma palavra que flui com naturalidade em O Mais Feliz da Vida (2013, Independente). Segundo registro em estúdio d’A Banda Mais Bonita da Cidade, o trabalho se esquiva com firmeza da confusão de temas deixados para trás no álbum de estreia, ambientando o coletivo curitibano em uma obra que não apenas busca ser grande, como assume com acerto essa função. Equilibrando todos os efeitos e tramas para sustentar o proposto enquadramento sem descrédito, o grupo segue agora sem orações, exageros e longe de canções tortas de amor para apostar na intimidade entre os temas. Uma sequência bem aproveitada de traços líricos e instrumentais que em pouco tempo substituem a beleza inicial para exaltar evolução.

Se a pressa em lançar o primeiro álbum – ainda em 2011, aproveitando do fenômeno em torno do hit Oração -, praticamente obrigou a banda a construir uma obra inexata, recheada por boas composições, mas de unidade falha, com o presente disco o tempo é parceiro do coletivo. Gravado sem correria e longe de grandes pressões, o álbum expõe no enquadramento sutil dos arranjos a manifestação clara de toda a boa forma que reflete a estética atual da banda. Entretanto, mais do que abrir espaço para coros de vozes, peças orquestrais e uma interpretação épica do pop, com o novo projeto a banda parece entender a obra em totalidade, fazendo com que cada faixa, da abertura ao fechamento, seja posicionada em um cercado musical que sobrevive por conta própria.

Com todas as inspirações do grupo aflorando em um sentido preciso de união, ao longo do álbum não é difícil esbarrar uma série de marcas que vão de Arcade Fire a Fiona Apple, passando por uma série de outros projetos – nacionais ou estrangeiros. Enquanto o uso dos instrumentos na canção de abertura (produzida por Chico Neves) se escora em efeitos típicos do coletivo canadense, as vozes firmes (e límpidas) de Uyara Torrente repetem a identidade da cantora nova-iorquina no ainda recente The Idler Wheel… (2012). Somam transições pela estética de Justin Vernon (com o Bon Iver ou no Volcano Choir), além, claro, de uma predisposição ao rock de arena – seja ele firmado na herança do U2 ou de quaisquer outros projetos lançados entre os anos 1970 e 1980.

A própria escolha do repertório que marca a recente obra parece dizer muito sobre os rumos que o grupo assume. Da versão (totalmente reformulada) de Que Isso Fique Entre Nós, faixa que dá título ao último álbum do paulistano Pélico, ao reaproveitamento de Olhos da Cara, canção escrita pelo artista plástico/poeta Nuno Ramos, todos os elementos selecionados para o disco parecem convergir em um resultado melancólico, mas nem por isso desesperançoso. O que antes era testado de forma excêntrica em canções como Mercadoramama e A Balada da Bailarina Torta, agora se desmancha de forma sóbria na construção de faixas existenciais (Uma Atriz) ou mesmo versos de maturidade romântica (Deixa Eu Dormir Na Sua Casa), músicas que reforçam o domínio da banda sobre a própria obra.

Ainda que a beleza do projeto resida no cruzamento entre os sons e os versos alicerçados por compositores externos, é no invento interno do coletivo que o álbum brilha com nitidez. Como se tivesse reservado parte do repertório montado para o Lemoskine, Rodrigo Lemos assume com destaque os versos (e até vozes) da faixa-título como da melódica A Balada Da Contramão. Possivelmente a composição mais cuidadosa do registro (junto de Potinhos e Maré Alta, claro), a música carrega de volta toda a essência do músico fixada na extinta Poléxia, substituindo o minimalismo natural do antigo grupo pela grandeza do presente álbum. Tudo aponta para cima.

Grandioso em essência, O Mais Feliz da Vida derruba qualquer dúvida ou possível crítica que conteste a capacidade da banda em ir além de uma única canção de sucesso. Quem emprestar os ouvidos para o grupo por alguns minutos não terá apenas uma, mas uma verdadeira sequência de acertos, vozes, versos e sentimentos que se esparramam em um convencimento claro, adulto e harmônico. Se até então o grupo parecia cercado por uma base específica de ouvintes, ao abrir as portas do novo álbum os curitibanos parecem livres para ir ainda mais longe, quem sabe, tocando de vez o grande público, sem necessariamente assumir nisso a busca por um caminho rápido para o descarte.

 

O Mais Feliz da Vida

O Mais Feliz da Vida (2013, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Leo Fressato, Marcelo Jeneci e Ana Larousse
Ouça: A Balada da Contramão, Maré Alta e Potinhos

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.