Disco “O Novato”, Nobat

/ Por: Cleber Facchi 16/11/2015

Nobat
Nacional/Indie/Alternative
https://soundcloud.com/nobatmusic

Fotos: Rafael Sandim

O caminho assumido por Luan Nobat em O Novato (2015, Independente) está longe de parecer o mesmo do antecessor Disco Arranhado (2012). Livre do jogo de guitarras, batidas e vozes rápidas que marcam o trabalho apresentado há três anos, o cantor e compositor mineiro faz do segundo registro de inéditas uma peça marcada pela delicadeza. Versos e arranjos que passeiam por pequenos fragmentos do cotidiano, relacionamentos e tormentos que muitas vezes escapam do cercado particular do artista.

Maquiado pela sonoridade detalhista do músico Daniel Nunes, co-produtor do álbum também integrante da banda de rock instrumental Constantina, o trabalho de apenas 10 faixas cresce lentamente, sem pressa ou possíveis exageros. Ainda que a já conhecida LSD, parceria com a cantora Julia Branco lançada em 2014, pareça apontar a direção seguida no interior do disco, está no tempero pessimista da inaugural faixa-título o estímulo lírico e instrumental de todo o restante da obra.

Era uma bíblia na mão / E a pistola na outra / Matando os filhos de Deus pelo próprio Deus”, despeja Nobat em uma solução de versos sóbrios que discutem não apenas a temática da religião, mas todo o universo de conflitos e ilusões que bagunçam o cotidiano de qualquer indivíduo. Ponto de partida para a sequência de faixas que abastecem o álbum, a canção orquestrada de forma crescente, cercada pela bateria marcial de um time de percussionistas, resume o esmero de Nobat na montagem do trabalho.

Produzido em um intervalo de quase dois anos, O Novato encanta pelo imenso catálogo de detalhes que parece crescer a cada nova faixa. Mesmo que a voz do artista falhe em diversos momentos – “E minha voz desafinada exclama e cresce” -, sobram encaixes minimalistas que prendem a atenção do ouvinte com naturalidade. O naipe de metais em Judith; guitarras coloridas na apaixonada Luísa; a percussão descontrolada de Nara Torres (Iconili) em Agosto. Entre curvas sonoras e abismos sentimentais, Nobat finaliza um trabalho que convida o público a se perder dentro dele.

Nos versos, Nobat apresenta uma obra que parece ser ainda maior. Entre personagens (A Triste História De Bruno César) e lamentos (Não Deu), um cenário curioso, detalhista e repleto de boas histórias cresce delicadamente no interior do álbum. “Dentre os cigarros outra coca-cola / Um drink, um beijo e pausa para aquele rock alemão / Que só você cantava / Que ninguém conhecia”, relata Nobat em Outros Dias, um apaixonante resumo do primeiro encontro de um casal e símbolo de todo o preciosismo lírico que preenche grande parte das canções.

Ainda que carregue a assinatura de Nobat, mais do que um exercício individual, O Novato sobrevive como uma obra de intensa e criativa colaboração. Helio Flanders (Vanguart), Tatá Aeroplano (Cérebro Eletrônico), Julia Branco, Tiago Eiras (Dibigode), Nara Torres (Iconili), Fernando de Sá (A Fase Rosa) e Daniel Nunes são alguns dos parceiros que auxiliam o cantor e compositor mineiro. Personagens fundamentais para a construção daquela que é uma das obras mais sensíveis da presente safra de lançamentos nacionais.

 

O Novato (2015, Independente)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: César Lacerda, Cícero e Cérebro Eletrônico
Ouça: O Novato, Outros Dias e LSD

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.