Disco: “O Passo do Colapso”, Dado Villa-Lobos

/ Por: Cleber Facchi 28/06/2013

Dado Villa-Lobos
Brazilian/Alternative/Rock
http://www.dadovilla-lobos.com.br/

 

Por: Cleber Facchi

Dado Villa-Lobos

O ruído sempre foi parte do trabalho de Dado Villa-Lobos. Influenciado pela proposta de Lou Reed e, principalmente, ícones da década de 1980 como The Jesus and Mary Chain, o instrumentista passou boa parte da carreira brincando com as distorções, manifestação rompe com o referencial ou possíveis doses de plágio para encontrar uma composição de esforço próprio. Veterano da cena nacional e ex-integrante da idolatrada Legião Urbana, o músico prova (mais uma vez) que está longe da aposentadoria, exercício que se cumpre com acerto na chegada de O Passo do Colapso (2013, Rockit!), segundo registro em carreira solo e representação musical de um pequeno universo.

Menor em relação aos conceitos e parcerias que desenvolveu com a estreia Jardim de Cactus (2005), Villa-Lobos encontra na manifestação de referências particulares um exercício seguro para movimentar todo o novo disco. São composições que dançam com firmeza pelo ruído (Colapso), brincam por entre aspectos do Pós-Punk (Tudo Bem) e até referências que primam pelo Dream Pop (Sobriedade), décadas sustentadas em audições de obras clássicas, mas que encontram nas mãos do guitarrista um sentido de novidade. Mais do que caminhar por um terreno seguro, o Dado converte a presente obra como um trabalho que busca se libertar.

Com os vocais abertos e guitarras que crescem livremente, o músico se distancia da timidez que envolvia a construção do trabalho passado, resultado que até funcionava em músicas como Quase Nada e Diamantes, mas que morria por completo na presença de faixas tomadas pela intensidade. Exagerando sob controle, o músico estabelece um sintoma de homogeneidade natural que cobre todo o disco, acerto que se esquiva de possíveis deslizes ao finalizar toda composição esparramadas pelo álbum dentro de um mesmo propósito. Da faixa de abertura ao encerramento desconsertante de O Parto, Villa-Lobos sabe exatamente onde pisa.

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Claro que nem tudo é tratado com pleno acerto e convencimento no decorrer do disco, caso de faixas como Brilho de Gente Que Faz Brilhar e Beleza Americana. Enquanto a primeira se perde nos versos, aproveitando de um sintoma de agradecimento insosso e já batido em qualquer obra do gênero, a segunda repete de forma pouco segura diversos elementos já implantados por Fausto Fawcett na produção do último álbum. Uma poesia previsível se levarmos em conta tudo o que Faveloura & Lov e outras colaborações da dupla deram conta de abastecer em Jardim de Cactus. Todavia, é preciso notar que nas duas músicas se salvam as bem conduzidas bases instrumentais, composições naturalmente seguras e amplificadas nos domínios do músico.

A qualidade do álbum, entretanto, subtrai a formação dos erros, deslizes que desaparecem por completo na segunda metade do trabalho. Brincando com diferentes temáticas instrumentais, Dado vai desde a aceleração de Tudo Bem (quase uma versão para o clássico I’m Waiting For The Man) até a sutileza dos elementos em Quando a Casa Cai, parceria com Mallu Magalhães e uma das faixas mais adoráveis da obra. Sobram doses de melancolia em O homem que Calculava, bases detalhistas em Overdose Coração e até uma avalanche de groove em O Passo do Colapso, música que assume uma curva individual em relação a tudo que preenche o álbum.

Sem exageros e trilhando a passos firmes um caminho próprio, Villa-Lobos completa uma obra que traz na proximidade das canções seu maior acerto. Visivelmente atento ao passado, porém inclinado a desenvolver um som de essência contemporânea, o músico atravessa o disco dividido entre a atenção e descoberta, um esforço de quem já atravessou décadas de rock nacional, mas sabe que ainda há muito a ser desvendado.

 

Dado Villa-Lobos

O Passo do Colapso (2013, Rockit!)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Edgard Scandurra, Arnaldo Antunes e Nevilton
Ouça: Tudo Bem, Colapso e Quando a Casa Cai

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.