Disco: “O Pensamento É Um Imã”, Vivendo do Ócio

/ Por: Cleber Facchi 24/01/2012

Vivendo do Ócio
Brazilian/Indie Rock/Alternative Rock
http://vivendodoocio.com/

 

Por: Cleber Facchi

Vivendo do Ócio

O grande mal de uma banda que começa a fazer enorme sucesso não são os prováveis rumos que um dia ela irá tomar. Não há qualquer problema na variedade de fãs cegos que praticamente obrigam o artista a se situar em uma única vertente musical ou muito menos as tentativas frustradas em alcançar um novo resultado sonoro em prol de mais alguns minutos de repercussão. O grande problema de qualquer arista cercado pelo louvor do público e as exaltações da crítica está na soma incontrolável de novos grupos, que inspirados pelos trabalhos da banda, partem em busca da produção de um som genuinamente plagiado, insosso e nada relevante.

Teria sido assim com o quarteto baiano Vivendo do Ócio se a temática proposta ao longo dos dois últimos discos da banda fosse continuada. Partidários dos mesmos riffs dançantes e guitarras rasgadas que os britânicos do Arctic Monkeys tomaram como seus na década passada, além de naturalmente serem parte da geração moldada pelas vozes de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, o grupo tinha tudo para ser apenas mais uma banda dona de um som genuinamente plagiado, insosso e nada relevante. Um grupo como boa parte das bandas nacionais, artistas que ainda insistem em desenvolver algo que não é seu como se fosse um produto inédito e nunca antes apreciado pelo público.

Entretanto, é preciso crescer, experimentar e ganhar identidade, feito que o quarteto vindo de Salvador, Bahia alcança agora com a chegada de O Pensamento É Um Imã (2012, Deckdisc), trabalho que rompe com as limitações instrumentais e (principalmente) líricas de outrora, encaminhando o grupo para uma maturidade natural e não óbvia. Menos tocado pelo sentimento adolescente que se fazia visível em Teorias de Amor Moderno (2008) e Nem sempre tão Normal (2009), o disco é mais do que um ressaltar do indie rock cru que iniciado no nascer do novo século ainda segue firme e influente, o álbum é acima de tudo uma aproximação com os sons naturais da música pátria e um caminho de novas possibilidades para a banda.

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Acompanhados dos experientes Chuck Hipolitho (ex-Forgoten Boys e atual Vespas Mandarinas) e Rafael Ramos (que já produziu Los Hermanos e Cachorro Grande) na produção, a banda faz nascer um registro sólido e inteiramente pensado em cima do uso das guitarras. Da abertura explosiva ao som de Bomba Relógio, passando pelo hit Radioatividade (que em alguns aspectos lembra a sonoridade da paranaense Sabonetes) até o desfecho com a curtinha Eu Gastei (quase um garage rock lo-fi), todo o registro cresce e se desenvolve em cima de uma instrumentação distorcida e decisiva. Se ainda há traços de Arctic Monkeys, estes vêm da fase Humbug, não mais de maneira plagiada, apenas uma leve inspiração.

Ao mesmo tempo em que a banda reforça a estrutura de um som mais denso e raivoso (calma, ainda é possível dançar descompromissadamente no desenrolar do disco), outro caminho se abre no interior do trabalho: o da experimentação. Sejam as incursões leves pela eletrônica em Dois Mundos (não apenas a melhor faixa do disco, como o resultado mais firme da sóbria maturação do grupo) ou o regionalismo em O Mais Clichê (com a participação da lenda viva Dadi, do grupo Novos Baianos), as pequenas viagens da banda por novos sons trazem uma energia e um escape para o grupo, que rompe com a aceleração da obra nos encaminhando para um plano de suaves calmarias.

Mesmo distinto e claramente maduro em relação aos demais trabalhos da banda, o disco ainda enverga para alguns pequenos excessos. É o caso de Preciso Me Recuperar, penúltima canção do álbum a faixa ressalta uma temática excessivamente jovial, quase pueril, com a proposta do alcoólatra inconsequente servindo como combustível para o motor da canção, aspecto que não compactua com a boa estrutura do disco. O pequeno deslize, entretanto, não condena a solidez da obra, que pela primeira vez revela a Vivendo do Ócio como uma banda tomada pela originalidade e um som próprio. Se pensamentos são imãs, os baianos conseguiram captar apenas os melhores deles.

O Pensamento É Um Imã (2012, Deckdisc)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Vespas Mandarinas, Colombia Coffee e Sabonetes
Ouça: Dois Mundos, Nostalgia e Radioatividade
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.