Disco: “Observator”, The Raveonettes

/ Por: Cleber Facchi 14/09/2012

The Raveonettes
Danish/Indie Rock/Shoegaze
http://www.theraveonettes.com/

Por: Bruno Leonel

O Raveonettes parece estar bem inspirado em 2012. Apenas cinco meses depois de ter lançado o EP Into the Night, o duo apresenta um novo álbum de longa duração, Observator sexto da carreira da banda. A produção, assim como no EP anterior, fica por conta do guitarrista Sune Rose Wagner e de Richard Gottehrer (colaborador de longa data do casal). O novo trabalho, de forma semelhante aos discos mais recentes, mantém a banda mostrando uma faceta mais melódica e cheia de passagens marcantes, mas, somada a ela traz novos elementos que expandem o repertório do grupo. Em junho o primeiro single do trabalho, a sombria canção Observations, calcada em um piano fúnebre, mostrou uma faceta da banda pouco evidente até então.

O título do álbum não é por acaso, as nove canções aparecem todas permeadas por uma sensação de curiosidade e busca de um alguém distante, quase como se o eu-lírico o tempo todo se referisse a alguém que persegue incansavelmente, e usasse essa estranha fixação como matéria-prima para os versos. Sobre o processo de criação do disco, o próprio Sune Rose Wagner mencionou em uma entrevista que desenvolveu um estranho hábito de aproveitar ideias e frases soltas que ele captura de suas vivências do dia-a-dia. Um pouco antes do período de gravação, o cantor viajou para a região de Venice Beach, e conta que durante três dias entrou em um período de intenso uso de álcool e drogas que coincidiu com uma fase depressiva pela qual o mesmo passou. Grande parte das letras de Observator teria sido inspirada nas pessoas que o músico conheceu durante essa época. Suspeito ou não, a história até faz sentido quando se nota o clima doloroso de algumas faixas.

O álbum abre com a faixa Young and Cold com ares de folk setentista e os conhecidos vocais em harmonia da dupla. Um quase folk, exceto pelas sutis camadas chiadas presentes. Um som de bateria abafada e cheio de groove introduz a bela Curse the Night a canção é doce, uma quase lamento sutil. Boa faixa, ainda que não demonstre nada de novo em relação ao que o Raveonettes já tenha feito anteriormente. Em seguida está a sublime The Enemy repleta de riffs cristalinos que dão à voz de Sharin Foo um fundo musical envolvente, um dos pontos altos do disco.

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Iniciando a segunda metade do álbum o barulho aparece pontual na acelerada Sinking with the sun mostrando leves referências de surf music, acompanhadas de melodias sujas e refrão marcante (segundo grande ponto alto do disco). O clima de “observar a distância” chega poderoso na balada She Owns the Street canção belamente triste e com ecos de grupos como The Smiths. Em inglês, o uso do verbo “Tantalize” é comum para definir algo que estimula atração e grande desejo ao mesmo tempo em que não pode ser possuído de jeito nenhum. A palavra não possui tradução literal para o português mas seria perfeito para definir a relação explícita na letra que contempla e observa uma figura que “dança pelas ruas”, interessante pensar sobre o tipo de pessoa que pode tê-la inspirado (Qualquer semelhança com I Want the one that i can’t have dos Smiths não deve ser coincidência ).

A animada Downtown traz a tona as já conhecidas referências da dupla (como The Jesus and Mary Chain) com a faixa seguinte You Hit Me (i’m Down) utilizando de teclados e inúmeras camadas sonoras com transmitem uma notável evolução sonora do grupo. É facilmente uma das faixas que mais se destacam em meio ao conjunto todo – se comparada a algumas outras que são bem redundantes.

Chegando aos 11 anos de carreira (10 anos desde o primeiro lançamento) o Raveonettes mantém a qualidade de sua trajetória nesse novo trabalho. As, poucas, inovações sonoras surpreendem e mostram que o grupo acerta também quando ousa experimentar, o que faz pensar que eles poderiam ter saído mais da zona de conforto (uma vez que já mostraram ter habilidade para tal). Foo e Rose – que não são um casal como muita gente pensa – nunca foram notórios por comporem faixas super conhecidas, mas já se estabeleceram com referência no meio. No entanto, para um público já fiel que sempre está a “observar” novos passos da dupla, é válido repensar se o fantasma do comodismo já não começa a afligir a história da banda.

Observator (2012, Vice)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: The Kills, A Place To Bury Strangers e Crystal Stilts
Ouça:  Curse The Night, The Enemy e Till the End

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.