Disco: “Oceania”, The Smashing Pumpkins

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2012

The Smashing Pumpkins
Rock/Alternative Rock/Progressive
http://www.smashingpumpkins.com/

Por: Cleber Facchi

O teor emocionado tomava conta de boa parte dos textos que exaltaram o retorno de Billy Corgan e o lendário The Smashing Pumpkins em 2005. Depois de uma nada inteligente aventura em carreira solo – que aproximou o músico de referências eletrônicas – e a tentativa de montar uma nova banda – o Zwan -, Corgan estava de volta, acompanhado do baterista Jimmy Chamberlin e até então esbanjando criatividade. Todavia, se o lançamento do disco Zeitgeist em julho de 2007 dividiu opiniões, a chance de ver a banda apresentando um registro influente ainda parecia possível, percepção que músico de Illinois tratou de sufocar com o passar dos últimos anos e extinguir por completo com a chegada do recente Oceania (2012, EMI).

Continuação do que fora testado nos últimos três anos dentro do imenso e incompleto Teargarden by Kaleidyscope – trabalho inspirado nas cartas do tarô e que contará com 44 faixas -, o novo disco traz Corgan e seus rotatórios parceiros brincando com as mesmas predisposições ao rock Progressivo, pós-punk e doses de Heavy Metal que há décadas acompanham o grupo. Com exatos 60:02 minutos de duração, o registro entrega um artista que a todo momento tenta se encaixar no recente panorama musical, ora brincando de ser Arcade Fire (Wildflower), ora querendo ser Mastodon (Panopticon) ou ainda brincando com o autoplágio (The Celestials).

Usurpando em diversos momentos de padrões instrumentais e líricos estabelecidos há mais de quinze anos no clássico Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995), o músico se deixa consumir pelo passado, abandonando qualquer possibilidade de inovar ou trazer qualquer nova referência para dentro da banda. Como se buscasse o tempo todo atrair uma nova parcela de ouvintes que desconhecem sua obra prévia, Corgan despeja uma seleção de faixas que parecem versões de antigos hits. De reformulações da faixa Beautiful em Pinwheels, passando pela transformação acelerada do hit Rocket na “renovada” The Chimera, todos os antigos hinos proclamados pelo músico ganham versões quase idênticas com o novo disco.

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Oceania é praticamente masturbação transformada em música. Na mente de Corgan tudo parece se revelar de forma sedutora, com formas envolventes e um resultado explosivo ao final, quando na verdade o registro se manifesta como um exercício penoso e lento para quem assiste. Da capa aos sons tudo reverbera um caráter de oposição ao que fora testado em Zeitgeist, afinal, enquanto há cinco anos o norte-americano ainda se dava ao trabalho de parecer empolgado, destilando riffs coesos e vocais rasgados, hoje encontramos o contrário, com o cantor se afundando em uma calmaria instrumental barata e que em nada remete aos bons momentos alcançados por ele na década de 1990.

Claro que comparar o recente trabalho do músico com clássicos como Mellon Collie and the Infinite Sadness, Gish e Siamese Dream seria de um erro absurdo, entretanto, mesmo quando observado próximo de outros registros também fracos como Adore e Machina, a percepção do erro cometido pelo artista se torna ainda mais evidente. Oceania não é apenas mais do mesmo ou uma tentativa (frustrada) do cantor em se manter ativo, o álbum é a mais sincera constatação de que o músico precisa se aposentar, embora insista em capengar por aí. A própria presença do produtor Bjorn Thorsrud apenas contribui para estimular o erro, afinal, é ele o responsável por dar suporte e produção tanto ao fracassado lamento solo de Corgan bem como a vergonhosa transição pelo desnecessário Zwan.

Ensimesmado, Billy Corgan utiliza do álbum como um registro particular, um tratado tão próprio que por vezes parece compreendido apenas por ele. A escolha de Oceania para dar título ao disco parece ser a mais coesa possível, afinal, com extensos nove minutos de duração a música sintetiza todo o caráter penoso do trabalho, um disco que praticamente tortura o ouvinte com suas formas sonoras que se repetem, letras nada convincentes e uma falta de bom senso que beira o constrangimento. Com tanta gente revivendo os sons e referências abordados na década de 1990, com Oceania fica estabelecido o quanto alguns artistas e figuras típicas da mesma época jamais deviam ter saído de lá.

Oceania (2012, EMI)

Nota: 4.0
Para quem gosta de: Zwan, Muse e Billy Corgan
Ouça: Wildflower

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.