Disco: “Off the Record”, Karl Bartos

/ Por: Cleber Facchi 28/03/2013

Karl Bartos
Electronic/Synthpop/Alternative
http://www.karlbartos.com/

 

Por: Cleber Facchi

Karl Bartos

Karl Bartos é um desses artistas que bem representam o real significado da palavra “veterano”. Tecladista, percussionista e compositor, o músico germânico iniciou a carreira em 1974, ingressando logo no ano seguinte como membro fixo do Kraftwerk. Ao lado de Ralf Hütter e dos demais integrantes da banda, o músico assumiu importante papel na construção de alguns dos maiores clássicos da banda, clássicos como Radio-Activity (1975), Trans-Europe Express (1977) e Computer World (1981) que ainda hoje influenciam boa parte dos registros orientados pelas experimentações eletrônicas e o uso confortável dos sintetizadores.

A partir da década de 1990 o músico deu início a uma série de novos projetos, se desligando a antiga banda e explorando um pouco mais seu lado produtor. Foi só no começo dos anos 2000, com o lançamento do single 15 Minutes of Fame (uma visão melancólica sobre a própria obra) que Bartos deu vida ao primeiro trabalho em carreira solo. Um aquecimento para o que viria a ser traduzido com perfeição com a chegada de Communication, primeiro registro solo do compositor entregue em meados de 2003. Sempre próximo da sonoridade que ajudou a construir ao longo da década de 1970, Karl traz de volta a persona “robótica” abandonada com o Kraftwerk para fazer de Off the Record (2013, Bureau) a obra mais bem detalhada do artista até aqui.

Assim como qualquer trabalho assinado pelo Kraftwerk depois da segunda metade década de 1980, ao estabelecer os limites do novo álbum Bartos lida com o que parece ser um futurismo nostálgico. São sons que talvez pareçam coesos com os primeiros registros da música eletrônica (nas décadas de 1960/1970), mas que em relação ao que predomina no cenário atual reproduz um efeito naturalmente datado. A medida não chega a ser um problema, afinal, o mesmo sentimento aparece quando nos deparamos com obras literárias como Neuromancer (1984) de William Gibson ou diversas obras cinematográficas de ficção científica que parecem ter se perdido no tempo tamanho o salto tecnológico entre o ano de lançamento e o período atual.

 

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O grande problema em Off the Record está na incapacidade de seu realizador em se decidir pela uniformidade que rege as composições. Produzido ao longo dos últimos anos, cada faixa apresentada no decorrer da obra parece mergulhar em uma proposta musical bastante específica, o que torna o disco naturalmente irregular. Se Atomium, na abertura do álbum, despeja o que parece ser a trilha sonora de um thriller futurístico, International Velvet volta no tempo de forma instável, se acomodando em um synthpop ameno e descompassado, quase a música de fundo para um daqueles antigos registros em VHS de casamentos ou formaturas.

Quando mantém firme a proposta de visitar o passado sem alterar o que encontra por lá, o acerto de Bartos é inegável e inspirador. Basta mergulhar no Technopop de Musica Ex Machina, na sombria Vox Humana (faixa que parece transitar pelo universo da dupla Crystal Castles) ou nos sintetizadores frenéticos de Atomium. Faixas que parecem construídas em um mesmo período de tempo, mas posteriormente divididas durante a construção do trabalho. Até a leveza de Instant Bayreuth parece bem aproveitada, um plano de fundo climático para conduzir musicalmente a clássica película Metrópolis (1927). Pena que o músico não consegue manter a mesma linearidade, intercalando momentos de acerto, com instantes de puro erro.

Talvez pela individualidade em torno da obra – o registro foi todo musicado e produzido por Bartos -, Off the Record pareça funcionar apenas na cabeça de seu idealizador, o que não impede que o trabalho revele alguns bons momentos. Cabe ao ouvinte decidir se ele embarca na viagem do músico por diferentes décadas e tendências, ou se filtra a obra de acordo com as próprias preferências e firma uma possível linearidade.

 

Karl Bartos

Off the Record (2013, Bureau)


Nota: 6.0
Para quem gosta de: Kraftwerk, New Order e Jean-Michel Jarre (!)
Ouça: Atomium e Vox Humana

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.