Disco: “Край”, Olga Bell

/ Por: Cleber Facchi 30/04/2014

Olga Bell
Experimental/Indie/Alternative
http://bellinspace.tumblr.com/

Por: Cleber Facchi

Olga Bell

Em 2012, passado o processo de apresentação de Swing Lo Magellan, obra que apontou os novos rumos do Dirty Projetors pós-Bitte Orca (2009), David Longstreth e seus parceiros de banda estavam em busca de alguém que pudesse ocupar a lacuna deixada por Angel Deradoorian, musicista que havia abandonado o coletivo um ano antes. A escolha (assertiva) veio na inclusão de Olga Bell, cantora e compositora que nasceu na extinta União Soviética, cresceu no Alaska, mas encontrou no cenário multicultural de Nova York um ambiente exato para expandir as próprias experiências.

Seguindo as pistas e referências excêntricas assumidas pelos novos parceiros de banda, Bell abre as portas para o curioso Край (2014, New Amsterdam), mais novo álbum em carreira solo e uma pequena mostra da diversidade conceitual que caracteriza o trabalho da artista. Tão esquizofrênico e ainda assim acolhedor quanto os inventos do Dirty Projectors, o álbum cresce como uma colagem de tendências que vão além da própria trajetória da cantora. Trata-se de um registro que brinca com a estranheza e toda a variedade de domínios que ocuparam a música – pop ou alternativa – nas últimas quatro décadas.

Ocupado em totalidade por versos em idioma russo, o álbum de nove composições está longe de esbarrar em uma provável barreira linguística, pelo contrário, usa do próprio isolamento como um caminho para o universo autoral conquistado por Bell. De fato, este suposto caráter de afastamento da cantora parece ser a base para o direcionamento artístico do álbum. Com os versos escritos em uma passagem pela Rússia e tomado por canções recheadas pela saudade, o disco materializa o enclausuramento da artista como uma base para as harmonias e arranjos – tratados do primeiro ao último ato em um aspecto nítido de esquizofrenia.

Como um mosaico de tendências específicas, Край absorve tanto conceitos do folk lançado na década de 1970 (Stavropol Krai), como músicas entregues em essência ao experimento (Altai Krai). São criações extensas, como a inaugural Krasnodar Krai, em que a cada curva rítmica da canção a proposta da musicista assume um novo significado, indo da eletrônica ao Chamber Pop e suas imposições orquestrais. Mesmo na “limitação” de faixas mais curtas, caso de Krasnoyarsk Krai e Kamchatka Krai, a versatilidade se revela um objetivo, moldando de forma inexata a atmosfera do disco.

Das vocalizações quebradas que lembram Björk (na fase Vespertine), como a companheira de banda Amber Coffman (no EP Mount Wittenberg Orca), Bell utiliza dos vocais como a principal ferramenta de equilíbrio para o álbum. Como um instrumento extra, a base vocal tecida pela cantora cobre todas as lacunas da obra, ambientando o ouvinte em um cenário homogêneo e sem prováveis separações. Curioso observar que ao mesmo tempo em que estabelece um esforço de aproximação entre as músicas, a voz da artista se revela como um passo seguro em direção às possibilidades, quebrando uma possível zona de conforto instantaneamente.

Operístico, pop e complexo em uma divisão exata, Край é um disco que mostra apenas uma pequena fração das impressões e experiências de sua criadora. Arquitetado de forma dinâmica, o disco funciona de maneira evidente como uma coletânea de ideias aleatórias, reflexo das várias direções assumidas por Bell no decorrer da obra. Entretanto, mesmo a evidente versatilidade do disco não oculta a ideia final da cantora, que usa do condimento rico do álbum como uma pequenas brecha para um cenário ainda em expansão. Край está longe de parecer um disco óbvio, o que faz dele uma obra difícil de ser evitada.

 

Olga

Край (2014, New Amsterdam)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Dirty Projectors, Björk e Holly Herndon
Ouça: Perm Krai, Krasnodar Krai e Khabarovsk Krai

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.