Disco: “Ômega III”, Sara Não Tem Nome

/ Por: Cleber Facchi 27/10/2015

Sara Não Tem Nome
Nacional/Indie/Alternative
http://saranaotemnome.com/

 

É difícil não se identificar com o trabalho da mineira Sara Não Tem Nome. Em Ômega III (2015, Independente), primeiro registro de estúdio de Sara Braga, cantora e compositora original da cidade de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, temas como isolamento, tédio, medo e separação invadem o delicado conjunto de versos assinados pela jovem adulta. Uma coleção de recordações compostos durante a adolescência da artista, mas que permanecem atuais, dolorosas, durante toda a construção da obra.

Basta uma rápida passagem por composições como Água Viva (“Nessa grande piscina de mentiras / Eu não dou pé / Não dou pé / Vou me afogar”) e Páscoa de Noel (“Deus esqueceu de mim / Deus esqueceu de nós”) para que a identificação com o trabalho de Braga seja imediata. Salve o isolamento (quase nonsense) da faixa-título, nada é tão particular dentro do álbum que não possa ser absorvido pelo ouvinte, sempre íntimo do universo de conflitos detalhados no lento desenrolar dos versos.

É são dias difíceis de se viver / É são dias difíceis de se entender”, suspira a cantora na inaugural Dias Difíceis, um retrato tímido de qualquer jovem atormentado, mas também uma faixa que também parece dialogar com o mesmo cenário político, social e econômico do país nos últimos meses. De maneira involuntária, vozes e versos aos poucos se distanciam de um ambiente essencialmente claustrofóbico, estreitando de forma provocativa a relação com o ouvinte.  

Dosando entre instantes de euforia e completo recolhimento, Sara Não Tem Nome parece testar os próprios limites e possibilidades. Enquanto faixas como Ajuda-Me e Atemporal dançam em meio a arranjos de cordas e dedilhados tímidos de violão, composições aos moldes de Água Viva e Carne Vermelha autorizam a interferência direta de guitarras e arranjos fluidos, enérgicos. Um jogo contrastado que serve de estímulo para o ambiente de incertezas moldado pela cantora em grande parte do registro.

Embora protagonista do álbum, Braga está longe de parecer a única responsável pela construção de Ômega III. Além de dividir a produção da obra com Julito Cavalcante (Bike / Macaco Bong), nomes como Daniel Fumega (Macaco Bong), Haffa Buleto, Gustavo Athayde (BIKE), Fábio Gigliotti, Marcelo Nunes, Vanessa de Michelis (Post) e Guto Borges (Dead Lovers Twisted Hearts) contribuem para o desenvolvimento de cada uma das 12 canções – parte delas reservadas ao uso de versos em inglês.

O resultado está em uma verdadeira coleção de ideias e temas instrumentais que atravessam os limites da música brasileira de forma a dialogar com diferentes cenas e tendências estrangeiras. Difícil não pensar em novos nomes da música folk como Angel Olsen e Jessica Pratt ao mesmo tempo em que gigantes como Elliott Smith e Death Cab For Cutie ecoam em diversos momentos do trabalho. No tumultuado ambiente proposto por Sara Braga há espaço para tudo, menos sorrisos.

 

Ômega III (2015, Independente)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Lulina, Bike e Mallu Magalhães
Ouça: Água Viva, Dias Difíceis e Solidão

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.