Sara Não Tem Nome
Nacional/Indie/Alternative
http://saranaotemnome.com/
É difícil não se identificar com o trabalho da mineira Sara Não Tem Nome. Em Ômega III (2015, Independente), primeiro registro de estúdio de Sara Braga, cantora e compositora original da cidade de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, temas como isolamento, tédio, medo e separação invadem o delicado conjunto de versos assinados pela jovem adulta. Uma coleção de recordações compostos durante a adolescência da artista, mas que permanecem atuais, dolorosas, durante toda a construção da obra.
Basta uma rápida passagem por composições como Água Viva (“Nessa grande piscina de mentiras / Eu não dou pé / Não dou pé / Vou me afogar”) e Páscoa de Noel (“Deus esqueceu de mim / Deus esqueceu de nós”) para que a identificação com o trabalho de Braga seja imediata. Salve o isolamento (quase nonsense) da faixa-título, nada é tão particular dentro do álbum que não possa ser absorvido pelo ouvinte, sempre íntimo do universo de conflitos detalhados no lento desenrolar dos versos.
“É são dias difíceis de se viver / É são dias difíceis de se entender”, suspira a cantora na inaugural Dias Difíceis, um retrato tímido de qualquer jovem atormentado, mas também uma faixa que também parece dialogar com o mesmo cenário político, social e econômico do país nos últimos meses. De maneira involuntária, vozes e versos aos poucos se distanciam de um ambiente essencialmente claustrofóbico, estreitando de forma provocativa a relação com o ouvinte.
Dosando entre instantes de euforia e completo recolhimento, Sara Não Tem Nome parece testar os próprios limites e possibilidades. Enquanto faixas como Ajuda-Me e Atemporal dançam em meio a arranjos de cordas e dedilhados tímidos de violão, composições aos moldes de Água Viva e Carne Vermelha autorizam a interferência direta de guitarras e arranjos fluidos, enérgicos. Um jogo contrastado que serve de estímulo para o ambiente de incertezas moldado pela cantora em grande parte do registro.
Embora protagonista do álbum, Braga está longe de parecer a única responsável pela construção de Ômega III. Além de dividir a produção da obra com Julito Cavalcante (Bike / Macaco Bong), nomes como Daniel Fumega (Macaco Bong), Haffa Buleto, Gustavo Athayde (BIKE), Fábio Gigliotti, Marcelo Nunes, Vanessa de Michelis (Post) e Guto Borges (Dead Lovers Twisted Hearts) contribuem para o desenvolvimento de cada uma das 12 canções – parte delas reservadas ao uso de versos em inglês.
O resultado está em uma verdadeira coleção de ideias e temas instrumentais que atravessam os limites da música brasileira de forma a dialogar com diferentes cenas e tendências estrangeiras. Difícil não pensar em novos nomes da música folk como Angel Olsen e Jessica Pratt ao mesmo tempo em que gigantes como Elliott Smith e Death Cab For Cutie ecoam em diversos momentos do trabalho. No tumultuado ambiente proposto por Sara Braga há espaço para tudo, menos sorrisos.
Ômega III (2015, Independente)
Nota: 8.3
Para quem gosta de: Lulina, Bike e Mallu Magalhães
Ouça: Água Viva, Dias Difíceis e Solidão
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.