Disco: “One”, Kate Boy

/ Por: Cleber Facchi 23/11/2015

Kate Boy
Electronic/Synthpop/Pop
http://kateboy.com/

 

Quando Kate Boy apareceu com Northern Lights, em 2012, havia uma lacuna na música eletrônica sueca. Com Robyn em hiato desde 2011, e a dupla The Knife preparando o terreno para o ainda inédito Shaking the Habitual (2013), a cantora e produtora Kate Akhurst – nascida na Austrália, porém, residente na capital Estocolmo -, encontrou um cenário livre para explorar a coleção de sintetizadores, batidas dançantes e versos confessionais que abastecem a inaugural composição. Entretanto, longe da euforia, Akhurst decidiu esperar.

Três anos após o lançamento do bem-sucedido single, Kate Boy finalmente apresente ao público o primeiro registro de estúdio: One (2015, Island / Fiction / IAMSOUND). Mesmo que boa parte das composições sejam velhas conhecidas do público fiel da cantora – caso de The Way We Are, Open Fire, Self Control, além da faixa acima citada -, é difícil não ser arrastado pelo turbilhão de melodias eletrônicas e batidas dançantes assinadas pela artista.

Longe do som empoeirado da década de 1980, base de grande parte dos “novos” representantes do synthpop europeu, Akhurst mantém firme a mesma proposta assumida por grupos como CHVRCHES, Niki & the Dove e outros artistas próximos, acrescentando boa dose de novidade ao estilo. São pouco mais de 40 minutos de duração, tempo suficiente para que a cantora e os parceiros Markus Dextegen e Oskar Sikow finalizem um trabalho que praticamente obriga o ouvinte a dançar.

Como uma versão “desconstruída”, pop, do clássico Silent Shout, obra-prima da dupla The Knife lançada em 2006, One sustenta nas batidas a base de todo o trabalho. Ainda que a cortina de sintetizadores se espalhe da abertura, em Midnight Sun, ao fechamento, com Run As One, são as batidas secas que apontam a direção para o trabalho de Kate Boy. Basta um rápido passeio por faixas como Burn e Higher, duas das canções mais poderosas do disco para perceber isso.

Por falar na obra dos irmãos Karin Andersson e Olof Dreijer, durante toda a construção do trabalho, nítido é o esforço da artista em reverenciar o trabalho dos conterrâneos suecos. São as batidas quebradas de Lion For Real, as bases sobrepostas de Self Real ou mesmo a colagem de temas eletrônicos testada na acessível Northern Lights. Se voltar os ouvidos para os primeiros discos da dupla, como o álbum homônimo de 2001 e Deep Cuts, de 2003, vai perceber que os mesmos conceitos recheiam a obra da “novata”.

Ao mesmo tempo em que flerta com uma infinidade de obras – antigas e recentes – da música eletrônica, não é difícil perceber como a identidade de Kate Boy lentamente se projeta no interior de One. Do uso calculado das batidas, passando pelos vocais e sintetizadores metálicos, sempre próximos, um mundo de detalhes parece orientar o trabalho de Akhurst até o último segundo do disco, prova de que o longo período de espera desde o lançamento de Northern Lights até a concretização do presente registro valeu a pena.

 

One (2015, Island / Fiction / IAMSOUND)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: The Knife, CHVRCHES e Niki & the Dove
Ouça: Northern Lights, The Way We Are e Open Fire

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.