Disco: “One Nation”, Hype Williams

/ Por: Cleber Facchi 09/03/2011

Hype Williams
Experimental/Lo-Fi/Hip-Hop
http://www.myspace.com/hypheewilliams

Por: Cleber Facchi

É por pequenas bizarrices contemporâneas como esse novo trabalho da dupla londrino-germânica Hype Williams que dá gosto de se aventurar pela música experimental. Carregado por uma sonoridade densa, que passeia pelo hip-hop, minimalismo, psicodelia e experimentações pop lo-fi, One Nation (2011) é um desses álbuns que traga o ouvinte para dentro de um universo próprio logo na primeira audição. Chapado e tendo cada textura, batida e acorde elaborado de maneira precisa o disco é uma das boas surpresas deste ano.

Formado pelo inglês Blunt Dean e pela alemã Copeland Inga, o projeto circula constantemente pela Europa, mas tem como sua sede a capital alemã Berlim. Embora pouco seja encontrado sobre o casal, o Hype Williams já conseguiu se apresentar em um bom número de festivais por todo o velho continente, feito que deve se intensificar após o lançamento desse belo compendio excêntrico. Em suas treze pequenas insanidades sonoras, o duo movimenta um tipo de som viajado e sombrio, como se todo o universo criado pelo casal fosse um grande espaço enevoado e convidativo.

Diferente de outros projetos como o Zola Jesus, Twin Shadow e How To Dress Well, que faziam esse retrospecto dos sons da década de 1980 através do uso intenso de reverberações lo-fi, o duo europeu dissolve-se em uma sonoridade muito mais rebuscada e ruidosa quando comparada ao som de álbuns como Forget (2010) ou Stridulum II (2010). A premissa em One Nation está no desenvolvimento de espessas camadas de som ambiental em que as batidas, os parcos vocais e os mínimos efeitos aparecem de maneira pacata e quase inaudível. É como se todo o álbum fosse gravado de uma transmissão de rádio com o sinal fraquíssimo, falhando constantemente.

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Em William, Shotgun Sprayer a sensação é a de que a faixa foi toda gravada em uma velha fita de vídeo e que anos mais tarda foi encontrada em algum porão úmido, para só depois ser transportada para dentro do disco sem a mínima necessidade de edições. A forma abafada como essa e outras músicas do álbum vão se orientando acabam de maneira inexplicável prendendo o ouvinte a cada nova audição. As enormes massas de som que são criadas em pérolas como Homegrown atuam de maneira hipnótica por meio de seu groove suavemente dançante.

One Nation é um trabalho que deve ser apreciado por seus detalhes. Em Businessline a dupla vai lentamente edificando uma composição harmoniosa por meio da inclusão de teclados vintage, batidas com eco e ruídos adicionais que vão esporadicamente sendo encaixados ao longo da canção. Durante os mais de sete minutos de Mitsubishi, Dean e Inga vão tecendo uma tapeçaria repleta de loopings rudimentares e uma batida cacofônica estranhamente convidativa. A extensa duração da música permite ao casal explorar ao máximo o uso de tonalidades diversas e sons condensados.

Essa pequena obra da dupla Hype Williams só funciona de maneira adequada se apreciado como unidade. Cada uma das faixas parece conversar entre si, funcionando dentro de um universo muito próprio e que dificilmente parece sobreviver além dele. One Nation desponta um tipo de som contemplativo, viajado e quase filosófico, um disco para ser tragado aos poucos e que tem seu poderio ampliado a cada nova e extasiante audição.

One Nation (2011)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: WU LYF, How to Dress Well e Zola Jesus
Ouça: Warlord

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.