Disco: “One Thousand Sleepless Nights”, CESRV

/ Por: Cleber Facchi 04/12/2013

CESRV
Brazilian/Electronic/Experimental
http://beatwiserecordings.net/
http://cesrvhatesbeats.com/

Por: Cleber Facchi

CESRV

É difícil estabelecer com exatidão onde, ou melhor, em que período da história se posiciona a obra do paulistano CESRV. Assumido pelo produtor Cesar Pierri – uma das mentes no comando do selo Beatwise Recordings -, o projeto encontra na formação do mais recente lançamento um ponto explícito de maturidade e continua descoberta. Longe de qualquer estágio de conforto aparente, One Thousand Sleepless Nights (2013, Beatwise) é uma obra de natural relação com as referências que abastecem a presente cena eletrônica, principalmente a paulistana, assumindo em traços específicos do passado um sustento natural para a construção de cada nova faixa.

Brincando com o mesmo conjunto de referências que há duas décadas transportaram o californiano Madlib para o topo dos grandes nomes do Hip-Hop, Pierri passeia pelo Soul, Funk e música brasileira sem necessariamente se desprender da própria essência. São faixas propositalmente curtas, mas capazes de concentrar um catálogo imenso de colagens e distintas preferências musicais. Definido em um conjunto efêmero de nove faixas, o novo álbum é mais do que uma continuação dos dois EPs anteriores – Chances (2012) e Nowhere (2013) -, mas um catálogo assumido de novas possibilidades.

Pontuado pela leveza das batidas, vozes e bases, CESRV alcança com o presente disco um tratado de forte relação com o público. Ainda que a experimentação seja a base para a junção de distintas essências e gêneros instrumentais, diferente dos dois EPs que antecedem o atual registro, o dinamismo em torno das faixas garante uma estrutura flexível e muito mais acessível para o trabalho. É praticamente impossível se desprender do fluxo dançante que marca a nostálgica Times Like These, como do jogo detalhista que preenche toda a extensão de How I Miss 90’s.

Soando como um Flying Lotus simplificado, ou talvez uma versão “abrasileirada” das batidas noturnas que orquestram a obra do parceiro Sants, Pierri assume em One Thousand Sleepless Nights um resumo de tudo o que marca a produção recente – aqui e fora do país. Enquanto Translation olha com atenção para o panorama Beat californiano, esbarrando em diversos conceitos da obra de Steve Ellison e outros produtores locais, faixas como Dawn apontam para uma direção completamente oposta. São transições pelo R&B britânico e experimentos ocasionais que forçam a compreensão do ouvinte, como se a trilha acessível do começo do disco fosse apenas um preparativo para o eixo final do trabalho.

O mais curioso ao longo do trabalho não está na capacidade de CESRV em passear por diferentes cenários, épocas e tendências, mas em como tudo isso ecoa com simplicidade. Under Those Clouds, por exemplo, é uma canção que dilui décadas de preferências em pouco menos de dois minutos. Apelos jazzísticos, o Hip-Hop da década de 1980 e pequenas colagens eletrônicas atuais – tudo isso sem qualquer quebra brusca ou possível teor de desgaste ao ouvinte. Até quando tenta “provocar”, caso de The Way I Feel About You, o produtor jamais ultrapassa o próprio limite, assumindo uma obra de formas e sons sempre bem definidos.

Ponto de referência para o que deve abastecer a nova safra de produtores nacionais, One Thousand Sleepless Nights é uma obra que usa da própria concisão como uma abertura para novos caminhos. O conjunto imenso de referências no interior de cada faixa é praticamente uma passagem para os futuros inventos de CESRV que, mesmo de forma descompromissada, faz do presente álbum um abastecido catálogo de ideias seguras – algumas já prontas, outras a serem aprimoradas.

 

CESRV

One Thousand Sleepless Nights

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Sants, Flying Lotus e Madlib
Ouça: When It’s Gone, Dawn e How I Miss 90’s

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.