Disco: “Open Your Heart”, The Men

/ Por: Cleber Facchi 28/03/2012

The Men
Noise Rock/Punk/Garage Rock
http://www.sacredbonesrecords.com/

Por: Cleber Facchi

Existe um abismo gigantesco entre Leave Home, último álbum dos nova-iorquinos do The Man e o ainda fresco Open Your Heart, mais recente disco do grupo. Para os interessados e mergulhados nas experiências nunca óbvias do noise rock, talvez o atual registro do quarteto vindo do Brooklyn seja uma sucessão de métricas prontas, fórmulas óbvias e que por vezes se afastam completamente dos primórdios quase inaudíveis e repleto de complexidade da banda. Quem agir por essa lógica, entretanto, deixará passar um dos mais originais trabalhos do ano, um álbum que absorve o punk, toca de eleve o indie, esmaga o rock alternativo e de quebra ainda consegue soar melódico e próximo do ouvinte.

Havia no lançamento do último registro uma necessidade em promover um som caótico, inacessível e marcado pela experimentação, tanto que com exceção do apoio de alguns parcos blogs e sites favoráveis, o álbum acabou se destacando e surgindo apenas para uma mínima parcela do público. Não era pra menos. A agressividade que se instala no interior da obra por vezes impede que mesmo os bem instruídos nessa arte sejam deixados de lado. Faixas como L.A.D.O.C.H. ou Lotus se adornam de sons tão crus que mesmo aqueles que já acompanharam toda a discografia do Sonic Youth, talvez encontrem dificuldade em absorver as estranhas formas sonoras propostas pela banda.

Em Open Your Heart temos um oposto, um trabalho que se abre para que os não iniciados possam experimentar das estranhas reverberações da banda. Com pouco mais de 45 minutos, o álbum se revela partidário do mesmo espírito sujo que outros trabalhos como New Brigade do Iceage alcançaram em 2011. Há também um pouco do ar despretensioso do Liars, o tom de desespero do OFF!, além de muito das garage bands da década de 1980, sendo Hüsker Dü a principal e mais influente delas. Por fim, a gravação caseira – o disco inteiro parece gravado em um quarto qualquer com um equipamento tosco e barato – reforça o toque Lo-Fi e quase ao vivo do trabalho, como se a banda estivesse se apresentando do seu lado, no mesmo quarto em que você está.

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Acelerado em sua quase totalidade, o álbum possibilita em alguns momentos que o grupo alcance a “calmaria”, algo que as extensas Country Song (um country-punk-psicodélico e instrumental) e Oscillation (com um ar leve de anos 90) acabam evidenciando. Em ambas as canções, o grupo parece abandonar a temática suja e desesperada do novo disco para se relacionar diretamente com o trabalho anterior, pendendo voluntariamente para os experimentos e a reclusão de outrora. Essa aproximação com o último álbum, contudo, se apresenta de maneira renovada, como se o quarteto apenas olhasse para o passado recente e pouco captasse de lá.

Mesmo destinada ao mesmo nicho de outrora – tudo bem, com certo esforço o The Man pode cair nas graças de um público maior -, com o novo álbum a banda parece desenvolver um tratado que aproxima tanto a velha guarda de ouvintes quanto a nova geração, afinal, cada uma das dez composições do álbum parecem absorver referências temporais tão distintas que por vezes se completam. É como se Iggy Pop (da boa fase) e um Jay Reatard ressuscitado estivessem trabalhando em conjunto, interessados na produção de um trabalho que captasse na íntegra todas as influências e referências de suas carreiras.

O grande “problema” durante a execução de Open Your Heart é que talvez ele faça com que uma série de álbuns como Nouns do No Age, Drum’s Not Dead do Liars ou Public Strain do Women acabem soando como registros infantis. A condução séria e a crueza natural que se revela no interior do disco faz com que a banda nova-iorquina se posicione em um nível acima de boa parte dos artistas partidários do mesmo espírito e sonoridade. Nada ali é projetado ou pensado. Tudo se desenvolve de maneira despojada, intensa e simples. É o Punk para as novas gerações e um ponto de localização para os talvez perdidos veteranos. Basta apenas abrir seu coração. E seus ouvidos.

Open Your Heart (2012, Sacred Bones)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Iceage, OFF! e Jay Reatard
Ouça: Presence, Cube e Oscillation

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.