“Organ Music Not Vibraphone Like I’d Hoped”, Moonface

/ Por: Cleber Facchi 05/08/2011

Moonface
Electronic/Experimental/Indie
http://moonface.ca/

Por: Pedro Primo

No início de 2011 o Wolf Parade, uma das grandes bandas indies da última década entrou em hiato – logo depois de lançar um dos melhores discos de 2010, Expo 86. Esta tragédia, no entanto, já era quase inevitável (quase mais fácil de se prever do que a morte da pobre Amy Winehouse). Os dois integrantes principais (Krug e Boeckner), sempre mantiveram projetos paralelos e, quando era possível se reuniam para gravar o novo disco do Wolf Parade. Foi nesse curto-circuito doentio que eles vomitaram o último álbum da banda – tão incrivelmente neurótico e apressado quando o debut (o melhor que eles gravaram até hoje).

Junto com a mulher, Boeckner formou o Handsome Furs, a bandinha caseira que escreve canções eletro-rock no mesmo modelo de Expo 86. Já Krug, obcecado pelo pop embrião, foi a batalha e junto com outros companheiros gravou o genial Dragonslayer – um dos meus favoritos da década passada. Olhando assim, é facílimo perceber a enorme distância que separa os dois. Um, o compositor que engasga com a própria euforia. O outro, um mago medieval que trabalha suas obras cuidadosamente – entre o ensaio e o delírio.

Enquanto Boeckner optou por dar continuidade à sonoridade que inaugurou no último disco do Wolf Parade, Krug iniciou um outro projeto, o Moonface. Ouvindo o disco de estréia é possível de uma vez por todas chegar a conclusão que Spencer sempre mira o cérebro (é por isso que é necessário mais paciência para se apaixonar por suas melodias), enquanto Dan Boeckner opta pelo suor, pela pegada, pela fúria – ainda assim, me parece um crime dizer que o rock do Handsome Furs é burro.

Se vejo em Dan um grande compositor, em Krug vejo um grande artista (um belíssimo autor, para bater de novo nesta tecla). Para mim, este é um dos poucos caras do indie que podemos chamar de Midas: tudo que o sujeito põe a mão vira ouro. Organ Music not Vibraphone like I’d Hoped (2011, Jagjaguwar) ainda que quase monocromático, cheira a ambição, a gana, a procura por novos horizontes. Spencer sabe que pode errar feio, mas ainda assim arrisca todas as fichas. Este é, quem sabe, o disco mais ousado que ele gravou. Não que o álbum faça arrombos criativos (e fica evidente que essa não é a sua proposta), mas parece desenvolver uma temática muito pessoal. “I heard you hate it all just based on your principles now” ele explica, na abertura, Return to the Violence of the Ocean Floor.

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Apesar do tamanho das faixas, não é um álbum exatamente longo – ainda que Krug não acenda quase nenhuma lanterna pop durante a execução. É um trabalho feito de camadas de sons que se repetem enquanto fuzilam raios vermelhos sobre a mixagem. Algumas simulam climas tensos, outras são apenas exuberantes. Mas de Krug nunca esperamos o rock imediato, o torpor automático na pele. Ele é um músico que nos conquista aos poucos, quando estamos prestes a esquecer o que ouvimos.

Krug monta todo o esquema do álbum de forma a isolá-lo num limbo pessoal. O compositor e sua criação – o médico e o monstro – afastados de qualquer traquinagem da produção ou da expectativa de um público que o segue desde Apologies to the Queen Mary. “I am the singer at the bottom of the well” ele revela entre os bits coloridos de Whale Song, enquanto a melodia da voltas como numa faixa de pós-rock, sempre tensa – para nosso aflição, ela jamais explode.

O importante é que ele jamais larga o tom enérgico do Wolf Parade, mesmo em canções preguiçosas que vão se desdobrando sem pressa alguma. Assim como jamais larga a narrativa fantástica do Sunset Rubdown. Este é um álbum completamente diferente de tudo que ele gravou, ainda assim nas bordas de uma sonoridade novíssima podemos encontrar relances que rapidamente nos lembram dos outros trabalhos que dele (há faixas que mostram claramente o apego que ele tem com a dance music, coisa que Dan também preza muito). Gosto de pensar que, antes de imaginar a reação dos demais, Krug criou uma expectativa pessoal. E por isso, me lembra do Destroyer do Kaputt e, também a imagem do cavaleiro solitário à Scott Walker.O eu antes do nós.

É verdade que o álbum soa extremamente padronizado. Audições mais atentas mostram diferenças muito sutis entre uma faixa e outra: o dance hipnótico de Shit-Hawk in the Snow, a eletrônica troncha e lânguida de Loose Heart = Loose Plan (que lembra LCD Soundsystem). Porém, me agrada como toda a condução do disco é feita com extremo capricho, detalhismo, preocupação com espaços vazios, puro Krug.

Organ Music not Vibraphone like I’d Hoped deve agradar aqueles que não esperam a continuação exata do Wolf Parade (para esses recomendo o Handsome Furs e até o Sunset Rubdown), aqueles que gostam da imagem de um artista que não se cansa, mesmo quando ousa pisar em territórios pantanosos. Assim como vários outros ídolos da música pop, Krug vai caminhando, cada vez mais só.

Organ Music not Vibraphone like I’d Hoped (2011, Jagjaguwar)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Handsome Furs, Wolf Parade e Sunset Rubdown
Ouça: Return to the Violence of the Ocean Floor

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.