Disco: “Origin Of Love”, Mika

/ Por: Cleber Facchi 26/09/2012

Mika
British/Pop/Electronic
http://www.mikasounds.com/

Por: Cleber Facchi

Enquanto fazia esporádicas audições de Origin Of Love (2012, Casablanca/Barclay Records) na última semana passei a elencar algumas das pequenas, porém essenciais definições que tornaram o trabalho do cantor e compositor britânico/libanês Mika atrativo aos mais distintos públicos. Tendo como base os dois primeiros e satisfatórios (com algumas ressalvas) álbuns do artista, Life in Cartoon Motion (2007) e The Boy Who Knew Too Much (2009) a pequena lista com as principais “características” ficou assim:

  • As letras sentimentais, fáceis e de lógico apelo comercial – vide a construção de clássicos como Grace KellyLove TodayWe Are Golden e qualquer outra música do cantor que ainda hoje surja com destaque em qualquer balada por aí.
  • A assumida relação com a música pop dos anos 1970. Seja a aproximação constante com o trabalho de Elton John ou os acertos com a Disco Music de diferentes interpretes e artistas.
  • Os vocais límpidos, épicos e magistrais do cantor que se projetavam ao longo de cada nova faixa, um feito que mesmo a sonoridade mais sintética do trabalho passado não conseguiu ocultar.

Partindo dessa série de pequenos e essenciais fatores, o terceiro e mais recente disco do cantor inglês talvez seja o projeto de maior distinção na ainda curta trajetória estabelecida. Logo de cara, Mika perverte a verve de elementos que lhe concederam destaque para se aproximar de um registro “experimental” e ainda mais íntimo da música eletrônica – proposta apenas anunciada nos remixes que acompanhavam os singles do cantor. Diga adeus aos versos que se derramavam em anseios macambúzios e principalmente aos vocais claros e límpidos por ele edificados. Tão logo o álbum valoriza as vozes sintéticas da faixa-título somos arrastados para um jogo de novas percepções líricas e sonoras que praticamente reconfiguram a carreira do compositor.

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Do ponto de vista musical Origin Of Love dá um passo gigantesco (entenda como você quiser) em relação aos dois anteriores projetos do músico. Da década de 1970, maior característica instrumental dos primeiros discos, pouco sobreviveu – talvez uma fina camada em algumas canções posicionadas na segunda metade do trabalho até sejam encontradas. Pulando de vez os sintetizadores da década de 1980 (inseridos de forma leve na execução do trabalho passado), Mika se aconchega de vez na eletrônica estabelecida ao longo dos anos 1990, preferência que se materializa inicialmente na faixa de abertura e aos poucos preenche de forma nítida todos os instantes do trabalho.

Mesmo em meio a diversas mudanças, a veia pop, preferência óbvia incorporada pelo músico desde o debut apresentado há cinco anos, ainda se mantém frequente. Por mais que o trabalho esteja longe de alavancar composições de formatação similar aos ricos singles arquitetados por Mika em um passado recente, Make You Happy e outras criações mais rápidas do álbum serão capazes de agradar os velhos seguidores do músico. A predominância, entretanto, é pelo novo, com o britânico se aproximando do rap em Popular Song, do R&B em Step with Me e, claro, da eletrônica convencional em Stardust (faixa que muito lembra os trabalhos de Cher ao final dos anos 90).

Por mais corajosa que seja a tentativa do cantor em se aproximar de um resultado novo – percepção que está além da capa “gozada” e não compatível com projeto visual dos demais discos -, o afastamento do que trouxe destaque ao trabalho de Mika é sem dúvidas o que torna o novo disco insosso e repetitivo do ponto de vista de outros registros do gênero. Nada do que o cantor desenvolve ao longo do álbum parece distinto quando próximo dos recentes trabalhos de Jessie J ou tantos outros ícones do pop inglês atual. Origin Of Love é apenas mais do mesmo, um projeto que pode até animar por hora, mas em poucas audições cairá em esquecimento.

Origin Of Love (2012, Casablanca/Barclay Records)

Nota: 3.0
Para quem gosta de: Scissor Sisters, Marina and The Diamonds e Jessie J
Ouça: Make You Happy

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.