Disco: “Other Life”, Sean Nicholas Savage

/ Por: Cleber Facchi 29/05/2013

Sean Nicholas Savage
Indie/Lo-Fi/Singer-Sonwriter
http://seannicholassavage.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Sean NIcholas Savage

O sofrimento é um instrumento natural nas mãos de Sean Nicholas Savage. Romântico em uma porção sempre exagerada, o cantor e compositor canadense faz de toda música um rompimento completo com os limites da amargura, tratando com certa dose de breguice e nostalgia cada invento assinado. É justamente dentro dessa logica empoeirada, dramática e sustentada em exageros desmedidos que o músico estabelece os limites para o recém-lançado Other Life (2013, Arbutus). Mais novo registro da carreira do músico e a primeira grande obra sob o aval de um pequeno selo, o trabalho concentra tudo aquilo que o cantor acumulou ao longo dos anos, tratando na melancolia a abertura para uma obra consumida pela saudade.

Misto de Lionel Richie com Wando e Ariel Pink’s Hunted Graffiti, Savage assina cada uma das 12 faixas do novo registro como um sofredor assumido. Como se transitasse pela noite sem rumo, relembrando amores que não deram certo, o músico encontra na saudade extrema um exercício para pescar quem talvez passe despercebido pelo disco. São canções intencionalmente esculpidas em cima de rimas simples, porém, tão comprometedoramente honestas, que fugir parece simplesmente um erro. Como bom sofredor, o cantor entende cada aspecto da ferida que escorre do coração do ouvinte, se desmanchando em sussurros ou mesmo vocais alongados que praticamente servem como trilha aos solitários.

Em um espaço que flutua entre o romantismo dos anos 1980 e as paisagens sonoras que abastecem a música Lo-Fi desde o fim da década de 1990, o canadense usa da própria limitação instrumental como um curioso atrativo. Tudo é precário no universo do compositor, como se a melancolia lírica que desmorona pela obra, lentamente desabasse pela sonoridade caseira e tímida do álbum. Sintetizadores alinhados de forma simplista, batidas descompassadas e guitarras comportadas ocupam toda a produção do disco, ambientando com certa dose de controle todo o palco doloroso que lentamente cresce pelo registro.

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Para quem já havia se encontrado com os projetos anteriores de Savage – que acumula seis registros virtuais e um incontável catálogo de singles e outros lançamentos -, a sensação é que Other Life se apresenta como uma tímida coletânea. Apresentando desde faixas mais lentas como She Looks Like You até composições que lidam com uma aceleração comportada, à exemplo de More Than I Love Myself, o músico revisita aspectos específicos da própria obra. Há no exercício controlado uma necessidade em se apresentar a todo um novo público, o que faz com que diversas músicas raspem naquilo que o canadense alcançou em Original Feelings (2010), Flamingo (2011) ou qualquer outra obra dramática prévia.

Ainda que esbarre em doses imoderadas de autoplágio e versões recentes do que foi conquistado há alguns anos, a dor exposta pelo cantor impede que ele soe redundante. Não é difícil se deixar perverter pelos versos de You Changed Me, Bygone Summer e It’s Real, faixas que partilham das mesmas confissões amorosas, mas que estranhamente ecoam tomadas pelo ineditismo. É preciso ainda observar que mesmo tratado dentro de uma atmosfera previsível, Savage em nenhum momento se afasta do que parece ser um engenho primoroso em relação aos demais projetos. Seguindo pela mesma curva de Ariel Pink na delicada Round and Round, o músico usa do toque artesanal e sutil como um complemento, dando ao disco um ar de obra antiga e restaurada.

Definido pela possível previsibilidade dos versos e arranjos, Other Life parece atender uma demanda muito específica do público: indivíduos que talvez partilhem do mesmo sofrimento de Savage. Dessa forma, o músico estabiliza a construção de uma obra temporária, aquele tipo de registro que você esconde na gaveta e resgata nos momentos de maior agonia.

Sean Nicholas Savage

Other Life (2013, Arbutus)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Mac DeMarco, Ariel Pink’s Hunted Graffiti e Majical Cloudz
Ouça: She Looks Like You, Lonely Woman e More Than I Love Myself

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.