Disco: “Our Love”, Caribou

/ Por: Cleber Facchi 09/10/2014

Caribou
Electronic/Experimental/Alternative
http://www.caribou.fm/

Por: Cleber Facchi

Quando Dan Snaith apresentou Odessa, em janeiro de 2010, as melodias hipnóticas e ritmo eufórico da canção apenas anunciavam: o som assinado pelo produtor já não era o mesmo dos últimos discos. Longe da folktrônica e experimentos encaixados em The Milk of Human Kindness (2005) e Andorra (2007), primeiros trabalhos como Caribou, Snaith parecia lidar com um material menos abstrato, harmônico, ainda que provocativo em se tratando da adaptação de temas psicodélicos. Apenas um fragmento do que seria apresentado em essência com Swim, naquele momento, o trabalho mais completo do canadense.

Interessado na constante desconstrução da própria obra, algo explícito desde o lançamento de Up in Flames (2003) – quando se apresentava como Manitoba -, Snaith volta a flertar com a ruptura. Em Our Love (2014, City Slang/Merge), novo registro do produtor à frente do Caribou, o ouvinte é mais uma vez convidado a explorar o território apresentado no álbum de 2010, todavia, as experiências, arranjos e principalmente sentimentos incorporados em cada canção agora são outros.

Como indicado na capa sutil e título, Our Love é um registro orquestrado pelos sentimentos. Partindo de uma exposição romântica que vai das melodias ao verso cíclico da inaugural Can’t Do Without You, Snaith revela ao público o trabalho mais confessional e sensível de toda a carreira. Mesmo que não seja um projeto conceitual, linear, difícil não encarar o “amor” e diferentes sentimentos próximos como as principais engrenagens do álbum. Dor, inveja, carinho e declaração; interpretações pessoais que interferem em cada peça da obra.

Não por acaso, toda essa “exposição sentimental” resulta no componente de maior encanto do disco: os versos. Ainda que músicas de peso como Can’t Do Without You e a própria faixa-título resgatem a mesma fórmula pronta de Snaith nos últimos discos – um verso simples trabalhado em loop -, letras extensas, delicadas e íntimas do público lentamente ocupam o interior do trabalho. Um reforço para o contexto doce da obra, algo explícito com naturalidade nos versos de All I Ever Need (“Ter você de volta é tudo que eu sempre precisei“) e demais peças líricas do canadense.

Casado há mais de uma década, Snaith confessou em entrevistas que parte dos temas explorados em Our Love refletem aspectos simples da própria vida conjugal. Observando os versos de cada canção, não seria um erro interpretar o disco como uma imensa carta de amor musicada. Todavia, o conteúdo dissolvido pela obra logo escapa dos limites do próprio criador. Sussurros românticos, declarações e referências ainda particulares, porém, adaptadas ao universo de qualquer casal.

De forma a representar o aspecto comum das experiências costuradas pelo disco, Snaith espalha uma série de brechas, autorizando a passagem de diferentes convidados. Dos arranjos de Owen Pallet ao vocal preciso de Jessy Lanza em Second Chance, da interferência de Kieran Hebden às observações da esposa durante a construção do disco, Our Love sobrevive dos fragmentos sentimentais de qualquer indivíduo. Um material talvez comum, mundano, mas aqui isolado pelo produtor, transportado para um ambiente de fórmulas minimalistas e cuidadosamente traduzido em música.

 

Our Love (2014, City Slang/Merge)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Four Tet, Daphni e SBTRKT
Ouça: Can’t Do Without You, Our Love e Second Chance

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.