O’Death
Alt. Country/Folk/Indie
http://www.myspace.com/odeath

Por: Cleber Facchi

São raros os trabalhos que conseguem de fato fazer uma ligação entre o som proposto no miolo do disco com a capa que o ilustra. Diferente com esse Outside (2011), novo disco de estúdio da banda norte-americana O’Death, que assim como a capa escura, com apenas um único foco de luz ao fundo, os sons em seu interior nos encaminha para dentro de um ambiente também obscuro, muitas vezes metaforizando corações partidos, ausências e melancolias diversas, mas que tem em seus integrantes um ponto luminoso, uma espécie de guia em meio a isso tudo.

Quem se depara com o presente registro logo imagina que o sexteto composto por Bob Pycior, Gabe Darling, Greg Jamie, David Rogers-Berry, Jesse Newman e Dan Sager é mais um grupo da efervescente Nashville, eterna capital da música country. Ledo engano, a banda foi formada em 2003 na região do Brooklyn,em New York, porém, quem pensa em encontrar mais um novo figurão do indie rock ou algum novo nome da música experimental terá no som do O’Death um aconchegante, embora sofrido, arranjo puramente voltado ao Alt. Country e a música folk.

Como um bom disco do gênero que se preze, o sexteto desenvolve tanto suas melodias com base em uma instrumentação genuinamente acústica (ou pelo menos boa parte dela), dando formas cuidadosas a instrumentos como o banjo, transportando ao disco uma climatização tipicamente rural, ocultando por completo a selva de pedra a que o grupo está sitiado. De Bugs na abertura do álbum ao término do trabalho com The Lake Departed, os nova-iorquinos amarram suas sonorizações de maneira a sensibilizar o ouvinte.

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Parte da maestria do disco, porém, não está em sua instrumentação, mas na maneira com que o grupo conduz seus arranjos de voz no decorrer do disco. Mesmo que Greg Jamie assuma os vocais do álbum (e de toda a discografia da banda) com total propriedade é o coro de vocais, muitas vezes duplicações do vocal do próprio Jamie, que dão destaque às faixas. Ghost Head, por exemplo, só alcança seu ápice, quando no refrão a convergência de vozes edifica um pequeno coral melancólico, que em cruzamento com os sons ao fundo demonstram a total beleza deste álbum.

Mesmo que Outside brilhe de forma encantadora por sua sonoridade voltada aos tradicionalismos da música country são nos momentos de em que o grupo arrisca novos sons, que o álbum se revela de verdade. A faixa que melhor demonstra isso é Alamar. A canção vale-se tanto do uso de elementos ruidosos, como de uma guitarra pesada e distorcida, assim como cresce de maneira assustadora com a inserção de uma pequena orquestra sorumbática. A beleza de outrora dá lugar ao sofrimento e finalmente o O’Death se apresenta por completo.

A sequência de onze canções que são os pilares desse disco evidenciam a todo o momento a pluralidade de tendências e sons que abrangem Outside. O álbum pode parecer (e até parece) em uma primeira audição com mais um tradicional trabalho destinado à propagação da sonoridade country, entretanto, esta é apenas a fantasia com que ele se traveste. Entre murmúrios deprimidos, canções emolduradas por doces artifícios acústicos o O’Death dá vida ao melhor disco de sua carreira, e um dos mais cuidadosos álbuns do ano.

Outside (2011)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Bill Callahan, Bonnie ‘Prince’ Billy e Lambchop
Ouça: Ghost Head