Disco: “Oxymoron”, SchoolBoy Q

/ Por: Cleber Facchi 26/02/2014

SchoolBoy Q
Hip-Hop/Rap/West Coast Rap
http://www.txdxe.com/

Por: Cleber Facchi

SchoolBoy Q

Sobriedade e exagero se encontram no interior de Oxymoron (2014, Top Dawg/Interscope). Passo seguro dentro da carreira de SchoolBoy Q, o novo álbum é mais do que a entrada definitiva do rapper em um grande selo – a Interscope, um dos braços da Universal Music -, mas um disco que reforça o pleno domínio do artista em um cenário de temas, arranjos e versos particulares. Seguindo a trilha lisérgica de Habits & Contradictions (2012), com o presente disco Q ultrapassa os limites de um simples “exercício de criação”, chegando aos ouvintes como a apresentação definitiva de sua obra em um território domindo por gigantes.

Previsto para estrear ainda em 2013, Oxymoron demorou a ser lançado por conta de problemas na liberação do samples de algumas músicas. Uma lenta espera que irritou o rapper, testou a paciência dos fãs, mas serviu para um instrumento perfeito para um melhor delineamento de cada composição. Contrariando o caráter artesanal dos dois primeiros discos do rapper, que além do álbum de 2012 conta com a mixtape Setbacks (2011), o novo álbum pode ser apresentado como o primeiro registro em estúdio de Q, tratamento evidente na massa límpida de sons, bases e imposições seguras que se espalham de forma plástica até a última música.

Tão logo foi lançado, Good Kid, M.A.A.D City (2012), registro que apresentou oficialmente Kendrick Lamar, acabou caracterizado como o novo “The Chronic”. A referência obvia ao maior disco de Dr. Dre não está apenas na presença do veterano quanto produtor executivo da obra, mas na forte comunicação estética entre os trabalhos. Curioso observar como a mesma ciclicidade e influência parece orquestrar a presente obra de SchoolBoy Q. Todavia, enquanto Lamar foi em busca do personagem de maior influência do período, Q abraçou o descompromisso de Snoopp Dog, parceiro apresentado por Dre no álbum de 1992, mas que foi oficialmente lançado no chapado Doggystyle (1993).

A julgar pelas peças lisérgicas escolhidas pelo rapper em Oxymoron, boa parte das canções assumem o mesmo tratamento imposto pelo veterano há duas décadas. Porém, enquanto Dogg se acomoda em uma densa marofa, cruzando rimas e  baforadas em um mesmo propósito “conceitual”, a preferência de Schoolboy pelas drogas sintéticas transporta o disco para um novo estágio. Instável, o álbum alucina por entre faixas essencialmente frenéticas (Collard Greens) e composições amenas, quase letárgicas (What They Want). Uma inconstância que se comunica com a formação paradoxal do título e brinca com a interpretação do rapper, criador de um cenário em que a loucura e a insanidade se confundem o tempo todo.

Parte do distanciamento de Q da realidade está na constante interferência dos convidados pela obra. Enquanto Kendrick Lamar participa do percurso alucinado de Collard Greens, o veterano Raekwon assume pleno domínio da melancolia instalada em Blind Threats, deixando para Tyler The Creator um tempero sombrio extra na faixa The Purge. Sobram ainda aberturas para os parceiros do selo TWE, caso de SZA, na perturbadora His And Her Fiend, e Jay Rock, na enérgica Los Awesome. Mesmo a interferência de Joy Hanley, filha do rapper, serve para potencializar o teor de insanidade do disco. Como pequenos respiros em meio ao conjunto de reverberações densas do trabalho, a garota se diverte com liberdade por entre as músicas, surgindo como um personagem louco que dança pela mente do rapper.

Íntimo de uma série de referências anunciadas em Habits & Contradictions, Q se acomoda em meio a samples de Portishead, Chromatics e outros fragmentos raros – como Las Vegas Tango de Gary Burton, em Blind Threats -, reforçando a construção de um ambiente particular. Ainda que parta de uma série de traços lançados há duas décadas, cada instante do álbum evoca ineditismo, orientação que encaminha o rapper com originalidade até o último segundo do álbum. Oxymoron é um verdadeiro passeio pela mente de SchoolBoy Q, ou melhor, o que talvez tenha sobrado dela.

 

Oxymoron

Oxymoron (2014, Top Dawg/Interscope)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Kendrick Lamar, Ab-Soul e Jay Rock
Ouça: Blind Threats, Man of the Year e Prescription/Oxymoron

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.