Disco: “Pain Is Beauty”, Chelsea Wolfe

/ Por: Cleber Facchi 21/08/2013

Chelsea Wolfe
Experimental/Female Vocalists/Gothic
http://www.chelseawolfe.net/

 

Por: Fernanda Blammer

Chelsea Wolfe

Quem passava pelas canções de Apokalypsis (2011), último registro em estúdio de Chelsea Wolfe, talvez fosse impedido de antecipar qualquer tendência ou possível transformação que viesse a abastecer a obra da artista estadunidense. Construído de forma natural em uma nuvem de sons e experiências musicais incertas, o álbum trouxe no cenário obscuro – apontado pela voz, sons e temas – a única previsão sobre o projeto, exercício que sustenta na chegada de Pain Is Beauty (2013, Sargent House), novo álbum da cantora norte-americana, o crescimento espontâneo para um cenário de novas e, cada vez mais, incertas possibilidades musicais.

Desprovida do possível conforto acústico que parecia crescer no decorrer da última obra, Wolfe chega ao terceiro álbum da carreira se esquivando de todos os exageros ou mesmo da timidez até então implantada. Nada da velha tapeçaria tímida de violões (engatados de forma confessa na cena Freak Folk) e vocais consumidos pelos ruídos, tão logo tem início, o novo disco faz crescer de forma expressiva a obra da compositora, que entre acertos eletrônicos e mergulhos profundos na música gótica, extrai todas as bases para o trabalho. “Ruptura” talvez seja a expressão mais exata para identificar o esforço atribuído ao álbum.

Proposto como uma dança pelas trevas e pelo passado, Pain Is Beauty se divide de forma constante entre os versos pessoais da autora e toda a base musical construída na década de 1980. Entretanto, longe de parecer como mais uma cópia de Kate Bush, The Cure e tantos outros representantes da cena firmada há três décadas, Wolfe encontra na essência de veteranos um princípio para a desconstrução. São músicas como We Hit A Wall e Reins, que mesmo íntimas de tudo o que foi anunciado há décadas, trazem algo de novo, como uma extensão voluntária de tudo o que foi conquistado previamente.

Chelsea Wolfe

Como se buscasse por uma versão simplificada daquilo que a dupla The Knife trouxe com Shaking The Habitual (2013), mas sem desabar nos mesmos erros do Austra, no recente Olympia, Wolfe orienta o trabalho em uma atmosfera sombria e ainda assim próxima de sons acessíveis. É o caso de Feral Love, logo na abertura do disco, ou mesmo outras como House of Metal e The Warden, composições que mesmo vestidas com uma capa experimental, encontram na arquitetura eletrônica um acolhimento constante, quase tocando as pistas em alguns momentos. É possível até observar uma presença maior das guitarras em pontos estratégicos da obra, princípio para os sons densos que alimentam Destruction Makes the World Burn Brighter.

Claro que a cantora não poderia deixar de lado o velho arsenal de experiências tortas e colagens musicais típicas do trabalho anterior. Para os possíveis “órfãos”, Wolfe reservou parte expressiva da segunda metade do disco justamente para isso. É o caso de canções como Sick, música que bem poderia ser aproveitada como alguma invenção paralela do Fever Ray, ou mesmo They’ll Clap When You’re Gone, que traz nos violões uma forte aproximação com as tramas soturnas de Apokalypsis. O ponto de maior satisfação da obra talvez seja The Waves Have Come, música que parece posicionada exatamente no meio dos dois trabalhos, trazendo no uso de sons e vozes épicas o ponto de maior crescimento para a obra.

Surgindo na mesma época em que Zola Jesus, White Ring e toda uma nova geração de artistas inclinados a reviver as experiências sombrias da música, Chelsea Wolfe assume cada vez mais um distanciamento e visível identidade dentro desse universo. Prova disso está na forte unidade que abastece as canções do atual lançamento, obra que poderia facilmente se vestir de redundância e sons já desgastados, mas que traz nas vozes, versos e letras bem aproveitadas um teor marcado pelo ineditismo. Ainda há muito o que extrair das sombras, e Pain Is Beauty é uma mera representação desse resultado.

 

Chelsea Wolfe

Pain Is Beauty (2013, Sargent House)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Zola Jesus, Austra e Fever Ray
Ouça: We Hit A Wall, The Waves Have Come e Sick

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.