Disco: “Pala”, Friendly Fires

/ Por: Cleber Facchi 09/05/2011

Friendly Fires
British/Indie Rock/Electronic
http://www.myspace.com/friendlyfires

Por: Cleber Facchi

Depois do rock ser assolado pela invasão de bandas inspiradas por todas as temáticas levantadas na década de 1990 – vide o efeito Yuck, The Pains Of Being Pure At Heart, Cloud Nothings e Smith Westerns – chega a vez da música eletrônica ser puxada para dentro do mesmo vórtice. Embora o efeito venha parcialmente se estendendo em amplos setores do gênero ao longo dos últimos anos, de janeiro pra cá uma quantidade mais do que espantável de artistas reassumiu tais sonoridades, fazendo com que todo o cenário das raves, o panorama Italo Disco, House e Trance encontrado da Europa aos Estados Unidos do século passado recebesse uma cuidadosa revisão.

Entre tentativas, experimentações e êxitos – que vão dos trabalhos do Hercules and Love Affair, passando Holy Ghost! e Jessica 6 – quem faz de seu novo álbum uma sucessão de faixas assertivas é o trio britânico Friendly Fires, que após despontar de maneira tímida em 2008 com um mais do que agradável disco de estreia, agora retorna com Pala (2011), um álbum que mais do que imediatamente te convida para as pistas, transportando o ouvinte para dentro de toda a energia construída ao longo dos anos 90.

Assim como a banda – Ed Macfarlane, Jack Savidge e Edd Gibson – fazia com o álbum de estreia, prendendo o ouvinte em uma sequência de sons viciantes, carimbando no cérebro as marcas de faixas como In The Hospital, Paris, Skeleton Boy e Lovesick, com o segundo disco o trio volta ainda mais resolvido, mandando outra avalanche incontrolável de arrasa-quarteirões, que começa com a canção de abertura, Live Those Days Tonight e só consegue parar de fato em Helpless, no fechamento do disco. Instrumentalmente radiantes e brincando com os versos fáceis, o grupo faz jus aos frequentes elogios recebidos pela crítica internacional.

De fato Pala é um disco que não tinha como dar errado, depois de uma bem sucedida turnê ao redor do mundo, divulgando o trabalho de estreia, o grupo tomou fôlego e sob o aval do produtor Paul Epworth – que em seu extenso currículo já trabalhou com The Rapture, Primal Scream, Bloc Party e  Ce-Lo Green – partiu para a criação do novo álbum, em um exercício que levou mais de dois anos. Epworth, que já havia trabalhado com a banda no disco de 2008, torna sua presença essencial dentro do novo álbum, trazendo a mesma polidez e vivacidade que preenchia a dezena de canções do debut.

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O toque de Midas do produtor, entretanto, não é o ponto chave do álbum, já que o explorar de novas sonoridades por parte do trio é o grande ponto de destaque do trabalho. Não apenas o panorama eletrônico inglês dos anos 90 (e final da década de 1980) que serviu de inspiração para a temática do novo álbum, mas sim uma pluralidade de ritmos distintos que rompem continentes na busca pela sonoridade perfeita. A percussão de Pala chega calcada tanto pelas temáticas africanas, como (principalmente) pelas baterias de escola de samba brasileiras, as quais atraíram os olhares do trio durante sua passagem pelo Brasil em 2009.

Entretanto, o ponto central do álbum não está na utilização de novos ritmos, fórmulas ou gêneros oriundos dos mais diversos cantos do globo, mas sim da habilidade da banda em fazer música pop da melhor qualidade. A percussão despojada, os teclados bem manejados e a maneira como a banda expões seus sons são apenas um adorno para as letras fáceis, dotadas de palavreados redundantes, porém grudentos, típicos dos mais comerciais trabalhos pop radiofônicos. Pala nada mais é do que uma sucessão de hits, dignos daqueles que marcaram os anos 90 e que ainda hoje ecoam em nostálgicas programações de rádio, especiais de TV ou nas festas Ploc pelo mundo afora.

Ao contrário de outros trabalhos intelectualmente definidos como conceituais, o novo trabalho do Friendly Fires utiliza-se dos mesmos ideais temáticos abordados por uma infinidade de grupos relacionados ao panorama britânico e mundial, contudo a diferença está num ponto chave do álbum: a diversão e o real conhecimento sobre o tema ressaltado. Uma das maiores críticas ao último disco do The Strokes está ligada à fragilidade e inconsistência com que a banda explorou o álbum, tudo soa forçado demais, uma quase nostalgia não vivenciada, algo que dentro desse segundo álbum do FF torna-se inexistente. Ao mesmo tempo em que cada acorde, batida ou vocal são inseridos de forma calculada, torna-se perceptível o entusiasmo e a sapiência de seus compositores, por não apenas copiarem os sons do passado, mas por darem nova roupagem à eles.

Assim como na estreia, o recente álbum conta com o caso raro de “convidar” o ouvinte a apreciá-lo seguidas vezes. Sem perceber você estará preso ao disco em um looping confortável, onde toda faixa se renova a cada recente audição. Ao contrário de muitos lançamentos que diariamente tomam conta do cenário musical, e posteriormente acabam abandonados em um canto na estante ou em alguma pasta no computador, Pala praticamente obriga que seus apreciadores o explorem seguidas vezes. Se for para entregar um ponto negativo do álbum, que seja relacionada às dores proporcionadas pelas inúmeras doses de ácido lático ou a surdez, motivados pelas convidativas danças e audições incontroláveis do trabalho. Sejam bem vindos aos anos 90.

Pala (2011)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Two Door Cinema Club, Passion Pit e Late Of The Pier
Ouça: Live Those Days Tonight

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.