Disco: “Pale Fire”, El Perro Del Mar

/ Por: Cleber Facchi 09/10/2012

El Perro Del Mar
Swedish/Indie Pop/Female Vocalists
http://www.elperrodelmar.com/

Por: Fernanda Blammer

“O amor não é pop”, assumiu Sarah Assbring no decorrer do último e bem sucedido álbum à frente do El Perro Del Mar. Quarto registro em estúdio da cantora vinda de Gothenburg, Suécia, o trabalho parecia aprimorar tudo que a musicista conseguiu estabelecer em pouco mais de meia década de atuação dentro do cenário independente sueco (e por que não internacional), feito que se anunciava de maneira coerente em cada uma das canções presentes na execução do cuidadoso disco. Ainda próxima do mesmo resultado coerente expresso há três anos, Assbring faz do recente Pale Fire (2012, Memphis/Ingrid) uma sequência que de tão próxima do trabalho anterior, quase se materializa como uma segunda parte do mesmo álbum.

Dentro do mesmo campo conceitual que bem define os trabalhos da conterrânea Lykke Li – imagine um Wounded Rhymes (2011) menos obscuro -, ao alcançar o quinto disco a cantora não apenas se torna de fato consciente de sua obra, como parece contribuir para o encaminhamento adequado de cada composição que surge pelo trabalho. Conhecedora de toda mínima porção que define o resultado final do álbum, a artista fornece as bases para um registro que se anuncia vasto, capaz de abordar de forma atrativa tanto composições inspiradas por um clima mais leve (e até dançante), quanto outras músicas mais sombrias e donas de uma finalização dolorosa.

Esse resultado de rumos duplos já era previstos após a finalização do último disco da cantora, afinal, desde o lançamento do autointitulado álbum apresentado em 2006 que Assbring parece inclinada a reproduzir esse mesmo tipo de sonoridade a cada novo trabalho. Em Pale Fire – diferente dos anteriores discos da artista sueca -, temos em mãos um álbum que segue de maneira suave, descompromissado em relação aos projetos anteriores e ainda assim capaz de apresentar um acabamento rico e tão atrativo quanto os primeiros registros em estúdio do EPDM. Talvez menor do ponto de vista instrumental, o novo disco acerta por apostar em músicas pontuais e capazes de fisgar sem esforços o grande público.

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Capaz de passear pela década de 1980, ao mesmo tempo em que mantém firme a aproximação com o indie pop arquitetado em princípios da década passada, o disco garante durante toda a extensão faixas dotadas de uma sonoridade “prática”, como se a artista atendesse todas as demandas do público que há tempos a acompanha. Surgem assim criações que se dissolvem em anseios românticos (Love Confusion), doses moderadas de melancolia eletrônica (Dark Night) e até criações que sintetizam todas essas propostas em um composto dançante e capaz de brincar com o pop de forma peculiar (To The Beat Of A Dying World).

Liricamente próximo dos registros que o precedem, em se tratando da instrumentação que circula no interior de Pale Fire temos uma transformação bastante visível. Seja pela reconfiguração do pop oitentista que já vinha sendo aprimorada nos projetos anteriores, seja pelo uso consciente das batidas que por vezes flertam com o Trip-Hop – resultado aplicado de maneira inteligente no decorrer do single Walk On By -, cada pequena reformulação no decorrer da obra estabelece um propósito criativo e um novo caminho ao disco. Até passagens pelo reggae podem ser encontradas, como Love In Vain identifica com um acabamento peculiar e sempre dentro das propostas que engenham o disco.

Assumindo uma postura distinta em relação ao que circula de maneira quase convencional na cena musical sueca, Assbring transforma o presente álbum em um projeto de afastamento ainda maior do que os trabalhos anteriores. Fazendo parte de um grupo restrito de artistas suecos que apostam em um som não convencional e comercial na mesma medida – incluindo a já mencionada Lykke Li, além da também ótima Victoria Bergsman (Taken By Trees) -, a cantora prova (mais uma vez) que é possível estimular o nascimento de um disco recheado por criações acessíveis aos mais variados públicos, sem que para isso seja preciso percorrer as redundâncias que há décadas atrasam a música pop.

Pale Fire (2012, Memphis/Ingrid)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Lykke Li, Taken By Trees e Twin Sisters
Ouça: Walk On By

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.