Disco: “Pale Green Ghost”, John Grant

/ Por: Cleber Facchi 20/03/2013

John Grant
Electronic/Alternative/Singer-Songwriter
http://johngrantmusic.com/

Por: Gabriel Picanço

John Grant

Em 2010, o lançamento do primeiro disco solo de John Grant, Queen of Denmark, foi para muitos o despontar de um dos grandes compositores da atualidade – mesmo não sendo aquela a estreia propriamente dita de Grant no mundo da música. Ele foi o líder da banda The Czars, projeto de indie rock responsável por álbuns bem cotados pela crítica, mas que nunca deu certo comercialmente e teve fim em 2004. Por pouco o termino da banda não representou também a morte da carreira musical de Grant. Para sorte do músico (e nossa), em 2010, Grant foi redescoberto pelos membros da banda Midlake. Com o suporte do grupo, finamente foi capaz de mostrar ao mundo quem era de verdade.

O disco surpreendeu pelas boas melodias, pela belíssima voz de Grant e, principalmente, por suas letras incomparáveis, que tratam abertamente e com muita honestidade e coragem os seus problemas relacionados ao vício de drogas, distúrbios psicológicos, relacionamentos amorosos traumáticos, o preconceito sofrido por ser homossexual. Com a ótima recepção do disco, vendo a carreira musical finalmente chegar a algum lugar e conseguindo se manter longe de problemas de seu passado, tudo parecia estar dando certo para Grant. Ate que um novo e grave episódio atropela sua vida: o diagnostico de HIV positivo. Assim, Pale Green Ghost (2013, Bella Union), mais do que o segundo álbum de Grant, é a continuação da terapia escolhida pelo artista para tentar amenizar as reverberações das experiências trágicas vividas no passado e no presente.

Bem mais do que remoer os episódios desastrosos de sua vida pessoal com letras depressivas, Grant é especialista em escrever músicas cheias de dor, mas, ao mesmo tempo, com grandes sacadas, boas referências e altas doses de humor e ironia. Grant é também mestre em auto depreciação, mas nunca sem desejar piedade de seu público. Descarrega tudo o que sente em e canta com uma verdade que nos atinge profundamente. GMF, espécie de relatório dos muitos defeitos de Grant, dirigido provavelmente a algum ex-namorado, culmina no refrão: “But I am the greatest motherfucker that you’re ever gonna meet / From the top of my head down to the tips of the toes on my feet“.

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Dessa vez, a produção do álbum foi (muito bem) conduzida por Biggi Veira, líder do grupo Islandês GusGus e especialista em uma sonoridade que difere completamente do que foi feito por Midlake e Grant em seu primeiro disco. Assim, Pale Green Ghosts é um misto de faixas eletrônicas com referencias a gêneros da década de 80 e 90, como o synthpop, Techno e os primórdios do house, ao lado de outras canções que caberiam muito bem no disco anterior, levadas principalmente por pianos delicados e guitarras mais próximas das baladas soft rock da década de 70. Isso fica clara na abertura do disco, uma sombria e épica peça de synthpop. Em seguida, Blackbelt carrega um vintage clima clubber.

Importante parceria de Grant ao longo do disco, a veterana Sinead O’connor adiciona bastante ao disco com sua voz dramática em faixas mais atmosféricas e sérias, como Why Don’t You Love Me Anymore e It Doesn’t Matter To Him, onde o destaque fica por conta da interessante combinação entre violões e sintetizadores. Glacier fecha o trabalho de forma sublime. A canção, na mesma medida simples, bela e dolorosa, trata da discriminação e rejeição sofridas por Grant quando assumiu a sua sexualidade. Composta basicamente por voz e piano, auxiliado por um belo arranjo de cordas, a música sintetiza a dor, velha companheira de Grant: “This pain is a glacier moving through you and carving out the valleys”.

Ao conhecer sua obra e sua vida pessoal, fica claro que Jonh é um homem forte e corajoso. Com a interpretação dramática e cheia de emoção, sua bela voz e o modo sincero como conta até mesmo os detalhes mais delicados de sua história, o artista acaba por diminuir a distancia entre ele e quem tem contato com sua obra. Mas, longe de querer compaixão, a intenção de Grant é compartilhar o que já viveu e sofreu e como forma de tentar curar essas feridas internas. E também, quem sabe, fazer com que suas músicas ajudem quem se identifique com o que ele tem para dizer.

 

John Grant

Pale Green Ghost (2013, Bella Union)


Nota: 8.0
Para quem gosta de: Midlake, Hercules and Love Affair e Bon Iver
Ouça: GMF e Why Don’t You Love Me Anymore?

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.