Disco: “Panda Bear Meets the Grim Reaper”, Panda Bear

/ Por: Cleber Facchi 26/01/2015

Panda Bear
Psychedelic/Experimental/Alternative
http://www.pbvsgr.com/

Vozes submersas em um lago de efeitos psicodélicos, colagens instrumentais e arranjos essencialmente excêntricos. Quem Noah Lennox está tentando enganar? Mesmo que fórmulas complexas e temas pouco “usuais” dentro dos padrões da música comercial sirvam de base para o trabalho do músico norte-americano, ao esbarrar no acervo colorido de Panda Bear Meets the Grim Reaper (2015, Domino), quinto álbum do também integrante do Animal Collective como Panda Bear, todos os esforços do artista residente em Portugal se concentram no explícito diálogo com melodias típicas do pop.

Seja no refrão ascendente de Mr. Noah – a faixa mais enérgica de Lennox em carreira solo – ou pela leveza mágica de Latin Boys, cada instante do presente registro confirma a imagem de um compositor livre, acessível, ainda que experimental em essência. A julgar pela overdose de efeitos eletrônicos e projeções instrumentais inspiradas no Hip-Hop da década de 1990 – principalmente Q-Tip e A Tribe Called Quest -, este talvez seja o trabalho que o público do Animal Collective tanto esperou depois do ápice criativo alcançado em Merriweather Post Pavilion (2009).

Em construção desde o lançamento de Centipede Hz, de 2012, Panda Bear Meets the Grim Reaper – o nome é uma brincadeira com os discos de dub em parceria lançados na década de 1970 – soa como uma completa oposição aos temas propostos pelo músico em Tomboy (2011), então, último trabalho de Lennox em carreira solo. Da capa cinza – agora colorida -, passando pelo abandono de bases drone, ruídos opacos e fórmulas sóbrias, cada instante do novo trabalho se transforma em um passeio por um cenário onírico/lisérgico, talvez uma versão menos “caseira” do mesmo Panda Bear oficialmente apresentado em Person Pitch (2007).

Embora irônico, o conceito de parceria – entre “Panda Bear e a Morte” – que rege todo o disco está longe de parecer uma brincadeira. Tão presente quanto o próprio Lennox, Peter “Sonic Boom” Kember ultrapassa a função de produtor da obra, garantindo o movimento e presença necessária para o crescimento das canções. Colaborador desde o álbum de 2011, o ex-Spacemen 3 aos poucos afasta Panda Bear da zona de conforto criada ao lado dos parceiros do Animal Collective, invadindo o território da música negra – vide o sample de Ashley’s Roachclip em Crosswords -, além do constante reciclar de elementos da música clássica em faixas como a delicada Tropic Of Cancer.

Mais do que uma visível ponte para o passado, PBMTGR talvez seja o registro que melhor se aproxima da neo-psicodelia imposta pelos australianos do Tame Impala com Lonerism (2012). Do momento em que Sequential Circuits abre o disco até o fechamento instável em Acid Wash, cada peça do trabalho se espalha em um campo imenso de possibilidades. Fragmentos instrumentais recortados de outros trabalhos, a colorida chuva de sintetizadores que cresce ao longo do registro, guitarras e sentimentos dissolvidos em uma ambientação leve, quase flutuante. Como as diferentes fases de um sonho ao longo da noite, Lennox muda de direção a cada instante do álbum.

Mesmo constante, a detalhada transformação da obra em nada interfere na segurança e explícita linha central que orienta todo o trabalho. Em se tratando das vozes, Lennox mantém firme o diálogo com as harmonias impostas pelos Beach Boys há mais de quatro décadas, condensando na massa de sintetizadores vintage um ambiente acolhedor. Dessa forma, não é difícil visualizar uma delicada linha no horizonte do paraíso onírico criado por Panda Bear, promovendo a criação de um cenário tão próximo do fantástico quanto do mundo real.

 

Panda Bear Meets the Grim Reaper (2015, Domino)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Animal Collective, Spiritualized e Tame Impala
Ouça: Crosswords, Tropic Of Cancer e Mr. Noah

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.