Disco: “Panda”, The Vain

/ Por: Cleber Facchi 18/06/2011

The Vain
Brazilian/Alternative Rock/Indie
http://www.myspace.com/thevainbrasil

Por: Cleber Facchi

A distância geográfica que separa a interiorana Taubaté do influente Reino Unido, não foi o suficiente para que um sexteto de garotos deixassem de manifestar todos os seus interesses pelos sons vindos do território insular. Desde 2002 brincando com as mais variadas tendências do rock briânico, o The Vain tem manifestado em suas discos – um álbum duplo lançado em 2008, alguns singles e EPs – um tipo de som dividido entre a dança e a apreciação, totalmente entregue às guitarras, vocais despojados e sintetizadores sujos, inseridos sempre com total precisão e desenvoltura.

Os contornos grandiosos do disco Let Them Come lançado em 2008 (com uma capa que lembra muito I Can Hear the Heart Beating as One do You La Tengo) e todas as suas 22 faixas (sempre cantadas em inglês), hoje denotam um passado quase distante e uma espécie de oposto ao que é encontrado no novo disco da banda, Panda (2011). Bem mais concentrado que o trabalho anterior, o atual álbum dos paulistanos delimita em suas dez faixas velhas experiências vindas do hemisfério norte, cruzando sons que ultrapassam quase três décadas de produção musical em prol da construção de algo fácil e tomado pela qualidade musical.

Se através das duas dezenas de faixas que montavam o álbum de 2008, o sexteto – Bruno Bottossi  (Voz), Fabio Figueira (Guitarra), Fabio Gagliotti (Teclado), Julio Cavalcante (Baixo), Fábio Andrade (Guitarra) e Lourenço Jeans (Bateria) – dava formas a um registro que dialogava com bandas como Oasis, The Verve e The Stone Roses, com o recente trabalho o grupo se volta para a elaboração de algo bem mais dançante, tomado pela acid house e que faz jus aos grandes álbuns do Primal Scream e Happy Mondays.

Mesmo que as preferências da banda ainda sejam as expostas pela música britânica da década de 1990, muito do que se revela em Panda carrega as influências do novo rock, momentaneamente dissolvendo texturas como as de Close To The Fire e Yellow Cake, ecoando a mesma frequência de sons encontrados nos melhores trabalhos do Kaiser Chiefs, Kasabian e alguns toques de um Franz Ferdinand mais viajado. Esse cruzamento de gerações mantém o álbum flutuando entre um passado recente e o presente, propondo um tipo de som que se diferencia com êxito de um grande número de bandas nacionais que se apoiam nos mesmos gêneros.

Talvez isso venha de maneira involuntária, mas torna-se perceptível uma divisão agradável dentro do disco. Na primeira parte do trabalho, a banda concentra seu conteúdo mais explosivo, manifestando faixas como Rogue, Close To The Fire, Land Of The Damned, além da canção homônima, sempre recheadas por teclados dançantes e refrões fáceis. Da metade do álbum para frente os sons se mantém dentro da mesma temática, porém mais esparsos, totalmente viajados e trazendo as velhas referências do rock inglês, sendo talvez a parte do álbum que mais agrade aos antigos seguidores do The Vain.

Se a condução instrumental do álbum com seu aspecto “sujo” recebe destaque ao longo do trabalho, o mesmo não pode ser dito para os vocais de Bottossi. Não que eles sejam ruins, pelo contrário, o problema está na gravação das vozes, excessivamente carregadas de efeito (tudo bem que em alguns casos de forma intencional) ou muito distantes da instrumentação, o que por vezes tornam a audição de algumas faixas algo penoso. Entretanto, a fluidez do álbum e a funcional musicalidade suprem essas pequenas lacunas e fazem com que ao fim, Panda surja como um registro satisfatório.

Panda (2011)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Primal Scream, Happy Mondays e Kasabian
Ouça: Close To The Fire

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.