Disco: “Paracosm”, Washed Out

/ Por: Cleber Facchi 02/08/2013

Washed Out
Chillwave/Electronic/Lo-Fi
http://washedout.net/

 

Por: Cleber Facchi

Washed Out

O sexo funcionou como base para o trabalho de Ernest Greene em Within and Without (2011), registro de estreia do produtor com o Washed Out. Dono de uma verdadeira cama de sintetizadores, colagens e sons esvoaçantes, o músico alcançou com o registro um visível esforço singular, convertendo pequenos atos preliminares das faixas em um ambiente exótico e de plena provocação. Ampliando de forma significativa esse mesmo resultado, o Greene alcança com o segundo registro em estúdio um sentido de descoberta, proposta que rompe os limites do quarto abafado construído há dois anos, para viver em um cenário paradisíaco.

Intitulado Paracosm (2013, Sub Pop), o novo álbum rompe com a timidez letárgica da Chillwave para brincar com os sons em um esforço cada vez menos experimental. Assim como as imposições de Chaz Bundick com o presente álbum do Toro Y Moi, Anything In Return, Greene vai em busca de uma sonoridade ampla, de apelo quase comercial. Mais uma vez acompanhado pelo produtor Ben H. Allen, com quem trabalhou no registro anterior, o músico foge da estética eletrônica para expandir uma maior carga de instrumentos pelo disco. Dessa forma, tão colorida quanto a capa que pinta álbum, é o catálogo de sons que o compõem, transportando o ouvinte para uma selva de detalhes e nuances talvez inimagináveis há dois anos.

Logo de cara, a dobradinha composta por It All Feels Right e Don’t Give Up deixa mais do claro os interesses do produtor com o novo disco. Manipulando doses de psicodelia em uma essência bucólica, Greene fortalece os sons em uma sequência de arranjos essencialmente detalhistas. Enquanto a primeira música reforça a presença das guitarras com um toque vivo de reggae, a segunda resgata elementos específicos da apresentação em Life of Leisure. Todavia, o passado exposto pelos primeiros singles do Washed Out surge em uma arquitetura inédita, muito mais tocada pela produção orgânica do que pelos acertos eletrônicos e sintetizadores em si.

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Claro que a velha relação com os teclados e sons abafados de outrora não seria rompida. Em Paracosm as mesmas harmonias sintetizadas ocupam com prontidão toda a extensão da obra, por vezes com maior detalhe, como na faixa título, e em outros instantes de forma naturalmente densa, vide a composição que habita Weightless. Entretanto, é curioso observar o quanto os sintetizadores assumem uma função de complemento aos vocais, como se fossem orquestrados de acordo com as emanações de Greene. Independente dos rumos, tudo se posiciona em um segundo plano, com as guitarras, batidas e vozes prevalecendo em totalidade pela obra, prova do novo conceito da obra.

Mesmo que Greene enverede para uma solução musical delimitada em maior parte pelos instrumentos, é no manuseio dos efeitos e distorções que o disco sobressai. Com uma maior predisposição ao Dub, já visível anteriormente, o músico finaliza cada faixa em um cenário delicado de camadas e sobreposições, exercício que expande com naturalidade o bloco curto de faixas. Se a busca em Within and Without era por um som que esboçasse relações com os temas da década de 1980, em Paracosm o músico volta ainda mais no tempo, acolhendo referências nostálgicas do reggae e rock psicodélico concebidas nos primórdios dos anos 1970.

Trabalhado dentro de conceitos bem estabelecidos, o álbum trata de cada faixa como fragmentos de uma composição ainda maior. A julgar pelo cenário colorido esboçado na arte do trabalho e nos sons que o registro emana, Paracosm nada mais é do que a construção de um paraíso tropical imaginário. Um universo de sonhos e movimentações idílicas pensadas por Ernest Greene, mas que também podem ser nossas. Logo, dar início ao disco, é como abrir os olhos dentro desse mesmo cenário.

Paracosm

Paracosm (2013, Sub Pop)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Toro Y Moi, Neon Indian e Memory Tapes
Ouça: It All Feels Right, Don’t Give Up e Great Escape

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.