Disco: “Paralytic Stalks”, Of Montreal

/ Por: Cleber Facchi 12/01/2012

Of Montreal
Indie Pop/Psychedelic/Experimental
http://www.ofmontreal.net/

Por: Cleber Facchi

Existe um sério problema quando uma banda ultrapassa uma década de carreira bem como a marca cada vez mais rara de dez registros lançados: a constante mutabilidade de suas formas musicais. Em atividade desde 1996, o Of Montreal é hoje um dos grandes exemplares da música indie dos anos 1990 e que ainda se mantém dentro de uma ativa produção musical. Com 16 anos de invenções ininterruptas e diversas apresentações ao redor do globo, o grupo comandado pelo inquieto Kevin Barnes é de forma indiscutível um imenso camaleão musical, o que pode ser traduzido como algo positivo aos amantes da variabilidade do grupo, ou como algo confuso, em vista da constante substituição rítmica que ser abate sobre o projeto.

Se até começo dos anos 2000 a banda formada em Athens, Geórgia fazia uso de uma instrumentação essencialmente melódica e pensada em cima das bases do indie pop, com a chegada de Satanic Panic in the Attic em idos de 2004 todas essas percepções foram aos poucos se modificando. Doses de psicodelia, uma intensa aproximação com o funk proposto por Prince e toda uma pluralidade de elementos (que ainda incluem o synthpop) fizeram com que a banda se aventurasse em uma sonoridade totalmente distinta, culminando em 2007 no lançamento do registro máximo do coletivo, Hissing Fauna, Are You the Destroyer?

De lá para cá, os dois seguintes trabalhos da banda, Skeletal Lamping (2008) e False Priest (2010) acabaram puxando os americanos para distintos rumos. Enquanto o primeiro se afundou de vez nas experiências relacionadas à neo-psicodelia, o segundo veio perfumado por um ar pop e comercial, algo que o tom agradável de I Feel Ya Strutter ou os teclados coloridos de Sex Carma acabaram justificando com total propriedade. Mas e depois de tantas invenções e reinventos, como prosseguir? A resposta para isso chega agora com Paralytic Stalks, décimo primeiro álbum do Of Montreal e espécie de ponto de encontro para todas as distintas referências do grupo norte-americano.

Do borbulhar de elementos singelos que caracterizaram a primeira safra de lançamentos da banda à explosão de criações marcadas pela psicodelia, o álbum se solidifica como um enorme caleidoscópio de cores e sons. Dividido entre composições amenas, hinos épicos e faixas tocadas por uma forte presença experimental, o tratado converge em quase uma hora todas as diferentes bases que caracterizaram (e ainda caracterizam) a multiplicidade musical do Of Montreal. Estranho, pop, distante e pegajoso, o disco lida com o “tudo” ao mesmo tempo em que busca estabelecer certa linearidade em meio aos diversos experimentos que o compõem.

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Assim como fora proposto por Barnes no álbum de 2007, Paralytic Stalks (que mantém o sentido cômico até no título) apresenta uma variedade de temas que acabam por circundar as sensações e experiências particulares do compositor. Grande parte das letras presentes no registro acabam se orientado para questões sentimentais que englobam a vida e o relacionamento do músico com sua esposa, a artista plástica Nina Aimee Grøttland. Dessa forma, Barnes acaba se transformando na matéria-prima para o disco, que tem nas excentricidades do artista uma base para a variedade de sons e ritmos que entrecortam o trabalho.

Da mesma forma como são vastas as personagens incorporadas por Barnes durante as apresentações ao vivo da banda – indo do melodramático ao enérgico em segundos -, inúmeras são as possibilidades alavancadas no interior do disco. Repleto de faixas extensas, algumas ultrapassando os sete minutos, as canções possibilitam que a banda navegue por vários oceanos musicais ao longo de cada composição, passando do progressivo para o psicodélico e para o pop em curtos minutos, algo que o hit Dour Percentage e Gelid Ascent tem aplicado habilmente em toda sua execução.

Ao mesmo tempo em que essa fluência diversificada acaba resultando em composições verdadeiramente agradáveis, os pequenos excessos e a experimentação em demasia acabam desgastando o álbum em alguns momentos. Exorcismic Breeding Knife, por exemplo, passa por quase oito minutos de pura colagem de ruídos, experiências lisérgicas instrumentais e sons facilmente relacionáveis com o último álbum do The Flaming Lips, Embryonic, reproduzindo uma composição que mesmo vanguardista em relação a carreira do grupo, parece atrasada em se tratando de outros trabalhos já lançados e melhor executados por outras bandas.

Assumindo individualmente a produção, gravação e composição do disco, Kevin Barnes estabelece um trabalho que é obviamente um retrato musical de sua própria mente, resultando em um projeto que em diversos momentos parece compreendido apenas por si próprio. Instável e condensando centenas de referências, o disco novamente põe em debate a extensa carreira do grupo e os diversos caminhos que até agora foram percorridos, sendo um provável delírio aos interessados pela diversidade sonora da banda ao mesmo tempo em que deve se revelar como um completo lixo aos que preferem o grupo em formatos lineares e estáveis.

Independente das transformações, o Of Montreal segue em meio a diversas mudanças, ora naturais, ora forçadas, cabendo apenas ao ouvinte decidir se acompanhará o grupo ou não.

 

Paralytic Stalks (2012, Polyvinyl)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: The Olivia Tremor Control, Islands e The Fiery Furnaces
Ouça: Dour Percentage

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.