Disco: “Paranormal Songs”, Malbec

/ Por: Cleber Facchi 30/10/2012

Malbec
Brazilian/Indie Rock/Alternative
http://www.malbec.mus.br/

Por: Cleber Facchi

Malbec

Por mais experimental que seja uma obra, bastam os minutos iniciais da canção de abertura para estabelecer uma base e prever boa parte do que será encontrado no restante do álbum. Este não é o caso da banda amazonense Malbec. Apostando em rumos contraditórios, experimentos que brincam com o indie rock convencional e toda uma gama de percursos que corrompem a lógica, a banda de Manaus, Amazonas faz de Paranormal Songs (2012, Independente) um ponto distinto dentro do que ecoa no recente cenário musical. Seguindo os passos da conterrânea Luneta Mágica, o quinteto se apodera de formas instrumentais nunca fáceis, brincando com os rumos do disco e com compreensão do próprio ouvinte.

Com a produção caprichada de Ian Fonseca, que ainda assume os vocais, teclados e boa parte da instrumentação da obra, o disco cresce e soa atrativo aos ouvidos, muito em virtude da participação ativa de Victor Rice e Joe Lambert (que já trabalhou com Animal Collective), respectivamente encarregados da mixagem e masterização do álbum. Mais do que isso, vê-se no esforço individual de cada membro da banda – também composta por Zé Cardoso (guitarra e nos vocais), Silvio Romano (baixo e guitarra), Leo Garcia (guitarra) e Natan Fonseca (bateria e percussão) – a necessidade de fugir do básico, trabalhando cada instrumento de maneira única e individual.

Paranormal Songs é sem sombra de dúvida um aglutinado de ideias divergentes, talvez por isso seja tão difícil se situar com o passar da obra. Se a inicial (e excelente) Memórias do Subsolo pende de forma inevitável ao rock alternativo dos anos 1990, lembrando em alguma medida o pós-hardcore de bandas como The Dismemberment Plan, Relógio da Torre rompe de vez com a proposta, caindo em referências típicas do Los Hermanos do Bloco do Eu Sozinho (2001). Surgem ainda rápidas passagens pelo ska (Uptown), encaixes sombrios do Radiohead da fase OK Computer na faixa-título e até percursos de pura associação com a música pop, como bem se manifesta no decorrer da música Consaguíneo – faixa que explora as vozes de forma cuidadosa e inventiva.

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Contudo, ainda que rara a capacidade e a coragem da banda em se aventurar por percursos ilógicos e predisposições sempre renovadas, o excesso de rumos assumidos ao longo do álbum torna (por diversos momentos) cansativa a absorção do trabalho. Mesmo dotado de criativos enquadramentos não lineares e preferências que passam longe dos erros convencionais de bandas do gênero, fica parecendo que temos em mãos não uma, mas diversas bandas, todas concentradas em uma única coletânea. Dessa forma, apegar-se ao trabalho do quinteto é um exercício para poucos, visto que não sabemos exatamente qual é de fato a real face da banda: o ícone do rock alternativo, os herdeiros de Marcelo Camelo ou os discípulos de Thom Yorke.

Para agravar o desempenho irregular do disco, a divisão entre versos em inglês e português impossibilita ainda mais que a banda alcance um registro de acertos concisos do princípio ao fim. Tendo como base a execução de músicas como Memórias do Subsolo, Fitas Livres e Calo fica nítido que o propósito do grupo não está em arriscar nos versos em língua estrangeira, mas nas frases em audível português. Vale notar que é justamente dentro das mesmas canções em língua pátria que a banda mantém o ponto de maior aproximação e beleza do trabalho, registro que involuntariamente se divide em dois grupos de criações que pouco conversam entre si. Atentem: todas as composições são bem produzidas e cuidadosamente preparadas pela banda, apenas incapazes de se conectar e contribuir para um disco de resoluções maiores.

Por mais esta seja a proposta do grupo – a confusão entre as formas, vozes e sons -, falta mesmo dentro desse aglomerado de experimento um elemento que costure e seja capaz de garantir maior significado (talvez lírico) ao disco. Condensado de incontáveis referências, muitas delas contraditórias, Paranormal Song entrega ao grupo amazonense uma variedade de caminhos a serem assumidos, basta apenas ao quinteto decidir qual rumo deve percorrer em um futuro próximo. Independente da escolha, o acerto parece quase certo, basta apenas que ele seja definido.

Paranormal Songs (2012, Independente)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Mezatrio, Luneta Mágica e Los Hermanos
Ouça: Memórias do Subsolo, Cala e Consanguíneo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.