Disco: “Passo Elétrico”, Passo Torto

/ Por: Cleber Facchi 28/05/2013

Passo Torto
Experimental/Alternative/Rock
http://passotorto.com.br/

Por: Cleber Facchi

Passo Torto

A necessidade em firmar terreno e a busca pela separação dos projetos individuais dos próprios integrantes fez com que a estreia do Passo Torto flutuasse em experimentos. Ambientado de forma inevitável na poesia urbana de Rômulo Fróes, por vezes habitando as crônicas de Rodrigo Campos e até antecipando o que o Metá Metá viria a desenvolver em Metal Metal (2012), o primeiro registro em estúdio do quarteto paulistano trouxe na capa escura a única aproximação entre o composto de ideias, sons e temáticas variadas que abasteciam a banda. Uma leitura moderna da vanguarda paulista em meio a perversões do samba, além de uma forma bruta de romper com o que parecia em voga naquele instante.

Curioso que ao apresentar o segundo trabalho da carreira, Passo Elétrico (2013, YB), a banda – composta por Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Romulo Fróes e Marcelo Cabral – parece cada vez mais distante de firmar um limite para a própria obra. Pelo contrário, rivalizando com as direções acertadas há dois anos, cada instante do presente registro se afasta com vontade daquilo que lentamente parecia encarado como fórmula ao final do primeiro álbum. Uma aproximação maior com as individualidades de cada membro (em sua melhor fase) e um caminho tão irregular, que a sensação de novidade e desconfiança se apodera naturalmente de toda nova música espalhada pelo disco.

Ao passo que o primeiro álbum brincava com as experiências obscuras do samba – ambientando o grupo naquilo que Fróes havia testado em No Chão Sem O Chão (2011) e Campos com São Mateus Não é Um Lugar Assim Tão Longe (2009) -, ao alcançar o novo registro o ouvinte se depara com a crueza excêntrica do rock. Tomado pela instabilidade, o trabalho obriga a dupla de letristas a fugirem do hermetismo quase imposto no primeiro registro, arriscando como propósito intencional para a obra. Dessa forma, a presença de músicas carregadas de erotismo (Simbolo sexual e Isaurinha), além de faixas abastecidas pela angústia (Homem Só e Helena) se encaixam com perfeição naquilo que objetiva o acerto instrumental da obra.

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Predominante de forma ativa em todo o álbum, Dinucci percorre solto cada uma das 12 músicas que sustentam o projeto, despejando na instabilidade de riffs sujos e ruídos uma continuação do que foi acertado com o Metá Metá no último ano. Mais do que resgatar elementos do próprio universo, o músico faz crescer a liga ruidosa que aproxima cada faixa do álbum dentro de um tratado único, permitindo que o trabalho cresça em percursos incertos, mas sem fugir do que parece ser um claro limite (ou controle) para a banda. Livre da timidez do debut, o guitarrista estabelece orquestrações crescentes em Helena, lida com métricas jazzísticas em Passarinho Esquisito e se entrega ao noise na segunda metade de Simbolo sexual, desestabilizando qualquer possível relação com as faixas entregues em 2011.

Ainda que a explosão de sons e temáticas abstratas preencham com dureza toda a porção sonora do registro, ao lidar com a clamaria a banda acerta na mesma medida. Enquanto Tempestade explora aspectos específicos do que Rômulo Fróes provou em começo de carreira, Rárárá reforça parte do que foi construído pela banda com o primeiro disco, ambientando tudo em um samba amargo e liricamente instável. Entretanto, é na beleza do descontrole que reside a real firmeza de Passo Elétrico, um trabalho que consegue convencer tanto na agressividade rápida de Adeus como nas climatizações intransponíveis de O buraco, reforços instrumentais e principalmente poéticos que ampliam os horizontes da banda.

Talvez o que mais surpreenda na formatação de Passo Elétrico não sejam os experimentos que se esparramam pela obra, mas um estranho fascínio da banda por instantes de melodias e versos acessíveis que se aproximam do ouvinte. Ainda que Dinucci e os companheiros de banda assumam com propriedade o título do projeto, o descompasso entre os ruídos e os versos das canções ambientam o ouvinte em um cenário movido pela descoberta. Uma necessidade estranha de caminhar até o fim da obra, como se mesmo enclausurado pelo volume das distorções ou letras agressivas que sustentam o trabalho, o ouvinte se sentisse motivado a assumir os mesmos passos tortos assumidos pelo quarteto.

Passo Elétrico DOWNLOAD

Passo Elétrico (2013, YB)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Metá Metá, Sambanzo e Rodrigo Campos
Ouça: Homem Só, Passarinho Esquisito e Simbolo Sexual

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.