Disco: “Passo Torto”, Passo Torto

/ Por: Cleber Facchi 12/11/2011

Passo Torto
Brazilian/Samba/Experimental
http://passotorto.com.br/site/

Por: Cleber Facchi

Já virou tradição sermos anualmente agraciados (ou prejudicados) pelos sempre polêmicos encontros entre distintos personagens do mundo da música, indivíduos que ao se agruparem em algum canto ou estúdio dão formas a um novo e sempre badalado supergrupo. Entre projetos relevantes como The Raconteurs e Them Crooked Vultures, ou encontros pouco satisfatórios, como o vergonhoso Tinted Windows, o que não faltam são frequentes projetos colaborativos, trabalhos como o recente e nacional Passo Torto, “supergrupo” que concentra apenas a nata do samba paulistano.

Mais do que um mero encontro entre aficionados por uma mesma vertente musical, o trabalho gerado da união entre Romulo Fróes, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral se materializa como um produto de uma profunda ligação que há tempos aproxima os quatro companheiros. Seja a colaboração e produção de Cabral nos projetos individuais dos três, a presença de Dannuci nas apresentações de Campos – que também auxilia na banda de apoio de Fróes -, o que não faltam são motivos para que um encontro entre o quarteto fosse enfim gerado.

Urgente e projetado de forma quase intuitiva, o primeiro registro gerado do esforço coletivo entre os paulistanos denota um forte caráter de necessidade, como se o desenvolvimento de algo material entre os compositores fosse exposto de maneira essencial. Condensado dentro das veias do samba contemporâneo que salta através do trabalho de cada um dos integrantes, o registro de 11 faixas se afunda nas peculiares nances que delimitam o trabalho de cada um de seus realizadores, produzindo um trabalho que mesmo uno, se revela vasto e apoiado em distintas características.

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Por mais que cada um dos quatro membros do projeto falem na mesma altura e contribuam de maneira similar, não há como contestar a forte presença de Fróes no interior do virtual registro. Do aglutinado de sons acinzentados que definem A Música Da Mulher Morta, faixa de abertura do disco, até a chegada de Cavalieri, no desfecho da obra, tudo reverbera as experiências de Romulo, que parece encontrar no álbum uma espécie de continuidade do recente Um Labirinto em cada Pé, seu último trabalho de estúdio.

Totalmente afastado de elementos percussivos e quase oculto em uma névoa de sons abafados, o homônimo trabalho concentra em seus pouco mais de 30 minutos uma compilação de canções peculiares, faixas que observam temáticas cotidianas de forma própria e totalmente específica. Mantendo constante o tom de sobriedade e enunciando um conjunto de versos que dialogam sobre aspectos diversos da cidade de São Paulo – talvez o grande elemento de aproximação entre os quatro integrantes do projeto -, o trabalho segue dentro de um tempo, uma instrumentação e um ritmo próprio, soando possivelmente inacessível a quem busque por um registro óbvio e prático.

Talvez o explorar de um som demasiado próximo entre a totalidade de canções, acabe por transformar a apreciação do registro um exercício que se divide entre o melancólico e até o sufocante em alguns pontos. Entretanto, torna-se difícil ao ouvinte se manter impassível mediante a fluidez escura que escorre em faixas como É Mesmo Assim e Detalhe Azul, com o quarteto transformando a audição do álbum em um processo peculiar, arrastando (mesmo sem explicação) o ouvinte para seu interior.

Passo Torto (2011, Phonobase)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Romulo Fróes, Kiko Dannuci e Rodrigo Campos
Ouça: Detalhe Azul

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.