Disco: “Pelos Trópicos”, Andreia Dias

/ Por: Cleber Facchi 14/01/2013

Andreia Dias
Brazilian/Indie/Female Vocalists
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Por: Cleber Facchi

Andreia Dias

Quando Efêmera, registro de estreia de Tulipa Ruiz foi apresentado em meados de 2010, o título caricato de Pop Florestal se transformou em um rótulo necessário – tanto para a iniciante artista em busca de divulgar sua obra, como por parte da imprensa em encontrar uma definição exata ao colorido gracejo musical. Se observarmos o completo desligamento de Ruiz em relação ao mesmo título durante o processo de divulgação de Tudo Tanto (2012), fica mais do que claro que tal definição perdeu sua validade. Entretanto, mesmo desgastada ou talvez até exagerada sob certo ponto, curioso perceber que não há definição mais exata ao trabalho da também cantora Andreia Dias, artista que ao atravessar os jardins instrumentais de Pelos Trópicos (2013, Scubidu) deixa fluir um honesto e coerente “Pop Florestal”.

Terceira e mais recente obra em carreira solo da cantora e compositora paulistana, o álbum traz na proposta itinerante de passear por 10 diferentes capitais brasileiras um estímulo para romper com a mesmice. Imerso em um cenário de versos e sonorizações sempre agradáveis, o disco percorre as corredeiras do rock, desbrava os ritmos mais exóticos, até desaguar em um composto adocicado por diferentes temperos vindos dos mais remotos cantos do país. Do Rio de Janeiro ao Maranhão, passando por Pernambuco, Bahia, Ceará, Paraíba e Alagoas o álbum absorve uma variedade cativante de ritmos, resultando em um projeto que acerta pela multiplicidade.

Embora íntimo de uma grandiosa paleta de cores, sons e preferências instrumentais, é preciso notar que o disco jamais tende ao exagero ou se relaciona com apropriações sonoras que pareçam inexatas ao espectador. Por mais variados os percursos assumidos pela cantora durante a execução de todo o trabalho, cada uma das 12 composições que sustentam o disco se orientam dentro de uma formatação regular e de extrema proximidade, resultado visível na constante relação da artista (e seus distintos parceiros de gravação) em reviver o pop-rock típico da década de 1970 de forma renovada e ainda assim nostálgica. Uma viagem musical que absorve aspectos coesos da carreira de Rita Lee nos primeiros (e inventivos) anos da carreira solo, mas que acima de tudo deixa crescer a marca da própria Dias.

Andreia Dias

Assumindo a relação com as referências tropicais logo no título, Pelos Trópicos rompe com os clichês que caracterizam o estilo (e aos poucos pervertem a música nacional) pela construção assinada por diferentes colaboradores. Enquanto Xuxu Beleza (em parceria com os cariocas da banda Do Amor) e Aquilo (dividida com o duo de Blues Rock The Baggios) reforçam a identidade “rock” da obra, o restante do trabalho deixa fluir de maneira imoderada uma apropriação maior dos ritmos nacionais e até com a MPB. Surgem assim acertos diretos com o brega paraense (em Beijin na Nuca, parceria com Felipe Cordeiro) e até conversas com os ritmos latinos, proposta bem incrementada no toque caliente de Feliz e mareado.

O mais curioso no passeio musical assumido por Dias é perceber que mesmo abraçando diferentes gêneros pelos mais distantes cantos do país, todas essas peças regionais se encaixam em um composto único. É como se a cantora amarrasse propostas musicalmente distintas de forma coesa, convertendo a possível multiplicidade de ritmos em um bloco sonoro de força constante. Dentro desse universo de referências diversas que se completam, a cantora e os parceiros de banda possibilitam o surgimento de pequenos passeios experimentais. É o caso da curtinha Corpo e Mente, que brinca com inexatos realces sonoros ou mesmo a faixa-título, canção que encerra o álbum e solidifica uma proposta ainda menos óbvia para o futuro da cantora.

De natureza envolvente, Pelos Trópicos encanta pela suavidade das melodias e principalmente por não lidar com as referências que assume de maneira redundante ou pouco inventiva. Ainda que o trabalho seja construído dentro de uma sequências de sons e vozes traduzidos de maneira simples, Andreia Dias trata de cada aspecto da obra dentro de uma formatação delicada e honesta, o que faz com que logo na faixa de abertura sejamos fisgados pela proposta acolhedora do trabalho. Doce e colorido à sua maneira, o disco é sem dúvida alguma o passeio mais delicioso e seguro pela atual fase da música brasileira.

 

Pelos Trópicos

Pelos Trópicos (2013, Scubidu)


Nota: 7.7
Para quem gosta de: Tulipa Ruiz e Felipe Cordeiro
Ouça: Pelos Trópicos, Xuxu Beleza e Bejin Na Nuca

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.