Disco: “Personal Record”, Eleanor Friedberger

/ Por: Cleber Facchi 07/06/2013

Eleanor Friedberger
Indie Rock/Alternative/Female Vocalists
http://www.eleanorfriedberger.com/

Por: Cleber Facchi

Eleanor Friedberger

Com as atividades temporariamente paralisadas desde 2011, o destino da dupla The Fiery Furnaces parecia incerto. Longe dos possíveis experimentos e inventos musicais que apresentaram os irmãos Matthew e Eleanor Friedberger no começo da década passada, os apreciadores da dupla não tinham outro destino se não o resgate da própria discografia da banda. Todavia, longe de alimentar um possível fim para o projeto, Eleanor trouxe no primeiro registro em carreira solo uma continuação natural daquilo que já vinha desenvolvendo, transformando o bem recebido Last Summer, de 2011, em um princípio para uma obra talvez maior.

Sem se distanciar daquilo que construiu ao lado do irmão em mais de uma década de carreira, Friedberger encontra no recém-lançado segundo registro solo, Personal Record (2013, Marge) uma evolução inevitável. Saem as pequenas experimentações – que alimentaram Blueberry Boat (2004) e EP (2005) – para que a cantora aprofunde ainda mais a inevitável relação com o pop e as melodias acessíveis. Assim, da mesma forma que My Mistakes, I Won’t Fall Apart on You Tonight e demais composições do trabalho passado pareciam cobertas por um brilho radiofônico, ao trilhar o novo disco o mesmo esforço se amplifica.

Como se fosse um clássico perdido do Indie Rock da década passada, o novo disco traz em cada composição um objeto de pura aproximação com o ouvinte. Trabalhado em cima de versos cantaroláveis, dolorosos e até de esforço cotidiano, o disco brilha em uma medida acolhedora, lembrando em alguns aspectos o que o The New Pornographers alcançou com Mass Romantic (2003), ou Neko Case nas interpretações pessoais de Blacklisted (2002). Mais do que isso, o novo álbum é a representação exata dos próprios sentimentos e melodias que embalam Friedberger, como ela própria logo aponta em My Own World.

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Desprovido do aspecto tímido que delimitava o registro passado em alguns aspectos, o novo álbum dança em um misto de descontrole e pequenas limitações. Por vezes amargurado por aspectos pessoais da artista, Personal Record (como o próprio título logo aponta) faz de músicas como I’ll Never Be Happy Again, Tomorrow Tomorrow e You’ll Never Know Me um reflexo inevitável do coração e da presenta fase de sua criadora. São canções que olham com saudade para um passado ainda recente, mas que aos poucos parece deixado para traz. Uma busca inevitável pela mudança, sem que isso exatamente aconteça.

Trabalhado de forma dual desde o primeiro instante, Personal Record reflete no descontrole emocional de Eleanor um combustível assertivo para o terreno criativo e estranho que cresce pelo disco. Um caminho torto de faixas amargas e versos de superação que se sobrepõe a todo o instante, como se a irregularidade fosse a única constante da obra. Enquanto músicas trabalhadas em cima de uma atmosfera branda, como Other Boys, trilham o percurso mais doloroso do álbum, faixas a exemplo de Stare at the Sun incorporam um novo enquadramento, trazendo em picos de raiva uma extensão do que a artista havia delimitado no trabalho anterior.

Embora carregue no exercício particular uma representação lírica e sonora específica da presente obra, Eleanor Friedberger faz das confissões um elemento sem prazo de validade ou público aparente. Personal Record é um trabalho leve, a ser revisitado centenas de vezes, como um pequeno catálogo de representações sonoras para os mais distintos sentimentos – sejam eles amargos ou apaixonantemente nostálgicos.

Personal Record

Personal Record (2013, Marge)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The New Pornographers, Wild Flag e The Fiery Furnaces
Ouça: I’ll Never Be Happy Again, Stare At The Sun e You’ll Never Know Me

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.