Disco: “Pink”, Four Tet

/ Por: Cleber Facchi 27/08/2012

Four Tet
Electronic/IDM/Techno
http://www.fourtet.net/

Por: Gabriel Picanço

Graças ao trabalho de altíssima qualidade que vem desenvolvendo já há alguns anos e que pode ser atestado em álbuns quase perfeitos,  Kieran Hebden pode ser considerado hoje uma unanimidade no universo da música eletrônica. Além de DJ requisitado em clubes e festivais importantes, já remixou Deus e o mundo e é colaborador recorrente de outros grandes músicos de reputação equivalente, como Burial, Thom Yorke e Steve Reid. Com o seu projeto principal, Four Tet, mesmo quando parece já ter alcançado o apogeu de sua sonoridade e linguagem musical, o produtor continua se reinventando e deliciando o seu público.

A grande maioria das faixas de Pink, o seu mais novo álbum, já era conhecida e estavam sendo lançadas como singles desde o ano passado. Duas delas (Locked e Pyramid) inclusive, fizeram parte da coletânea FabricLive.59, compilada por Hebden e lançada também no ano passado. Por isso, pode se dizer que um ponto negativo do álbum seria a sua falta de surpresas durante a audição. Porem, tal argumento só se aplica aos que já conheciam tais faixas. E, mesmo esses não podem negar que as composições de Kieran Hebden, apesar de certa simplicidade, escondem detalhes que se revelam e surpreendem para muito além das primeiras audições. A verdade é que essa quase coletânea está catalogada como um álbum de estúdio do Four Tet, e funciona muito bem assim.

Continuação da evolução da sonoridade do Four Tet, em Pink fica claro que a maioria das faixas foram feitas para funcionar na pista. A batida, por exemplo, transita de algo quase lembre o free-jazz dos primórdios do Four Tet, até a precisão e rigidez do techno. As energéticas Ocaras e Pyramids chegam a apresentar uma batida 4×4 característica do house. 128 Harps, como o nome já diz, mescla perfeitamente o suave instrumento de cordas com os loops de bateria e o sample vocal da faixa. Já Jupters, a grande faixa de Pink, começa em um emaranhado de sintetizadores que parece nos levar para um lugar mais distante e etéreo, mas acaba por desaguar em outra faixa para dançar com um baixo pulsante. Até mesmo a escolha do formato em que foram lançadas originalmente, em vinis de 12”, muito usados pelos DJs, comprova a intenção para a pista.

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A poderosa Locked, que abre o disco, traz consigo um retrato de pink como um todo: grave mais fortes, batida quebrada (porem rígida), camadas que são construídas e sobrepostas lentamente e melodias surgem e parecem ser absorvidas automaticamente. Uma única exceção é Peace For Earth, penúltima faixa do disco, uma hipnotizante e sensível peça ambiente de mais de onze minutos onde a percussão é menos marcante e contemplação é fundamental (aqui, bons fones são mais do que recomendados) Mas, antes que o álbum termine de uma forma mais meditativa, Kieran Hebden nos leva de volta para a pista de dança de forma elegante com Pinnacle, faixa recheada de elementos acústicos e um memorável contrabaixo de jazz.

Se tratando de Four Tet, o detalhismo minucioso de Habden é certamente uma de suas características mais admiráveis, sendo ele capaz de provocar grandes sensações com pequenas intervenções, como é o caso do bumbo saindo-voltando ligeiramente do compasso em Lions e os tons cintilantes na melodia da mesma faixa. Nessa e em outros momentos tocantes do disco, o produtor consegue atingir os ouvintes com bastante eficácia e intensidade, mas sem nunca precisar apelar ou sair de sua elegante forma de compor.

A presença do grande número de influências diferentes em Pink, assim como o fato de as faixas terem sido lançadas separadamente antes, não trazem uma sensação de falta de coesão ao álbum. Ele funciona, é claro, de forma diferente dos anteriores. Em There is Love in You o produtor resolveu compor o disco por inteiro e lançá-lo como uma obra única. Teve como resultado um dos discos mais importantes da última década, mas a forma com que foi lançado não foi essencial para esse sucesso. No novo disco, resolveu apostar em algo diferente, mesmo sempre tendo em mãos fórmulas que já funcionaram antes. Na verdade, esta é só mais uma prova de que Kieran Hebden, além de nunca se acomodar, pode avançar em muitas direções e conseguir ótimos resultados em todas.

Pink (2012, Text)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Caribou, Burial e Gold Panda
Ouça: Pyramid, 128 Harps e Ocaras

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.