Disco: “Pitanga”, Mallu Magalhães

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2011

Mallu Magalhães
Brazilian/Indie/Female Vocalist
http://www.mallumagalhaes.com.br/

Por: Cleber Facchi

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Pode falar qu’eu nem ligo
Agora eu sigo o meu nariz
Respiro fundo e canto
Mesmo que um tanto rouca

Se alguém ainda insistia em ver Mallu Magalhães como uma jovem precoce, com voz de pudica e entoando composições adolescentes que ao acaso fizeram sucesso, os minutos iniciais de seu novo álbum praticamente obrigam o espectador a rever seus conceitos. Longe do catálogo de versos em inglês e da suposta ingenuidade de outrora, a paulistana faz de seu terceiro registro um projeto maduro, algo que já era visível desde sua mais do que comentada estreia, em 2008, mas que talvez só agora pareça melhor compreendido.

Sob o colorido nome de Pitanga (2011, Sony/BMG), a terceira epoeia musical de Mallu reverbera uma atmosfera harmoniosa, transborda sensações puramente românticas e casuais, além de comprovar o que para alguns ainda não fosse perceptível: a cantora é de longe uma das grandes artistas da nossa música, talvez uma das mais interessantes da recente safra. Flertando com a velha MPB, mas sem em nenhum momento desligar sua constante ligação com o presente, a paulistana faz de seu recente lançamento um dos mais interessantes projetos musicais que correram ao longo de 2011.

Muito embora o título e os louros sejam todos destinados a ela, muito do que traz sustento e beleza ao disco não está na jovem, hoje com 19 anos, mas na figura de Marcelo Camelo, seu namorado, produtor do novo álbum e grande mentor nessa nova empreitada musical que acompanha a artista. Se em seu recente disco, Toque Dela, o carioca (que se mudou para São Paulo para viver próximo da amada) transformou cada segundo do registro em um motivo para expressar seu amor, com o álbum de Magalhães a proposta não é diferente.

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Do romantismo despretensioso e bem humorado da bela Cena, passando pela confessional Olha Só, Moreno, ou jovial jogo de palavras em Youhuhu, por todos os cantos de Pitanga é visível o amor desenfreado do casal. É praticamente possível estabelecer uma ligação entre o terceiro álbum de Mallu com o último de Camelo, como se ambos os discos surgissem como um complemento, duas cartas de amor transformadas em músicas, dois retratos românticos que se encontram, dialogam e de maneira deliciosa expressam todos seus sentimentos.

Diferente do segundo registro do carioca, entretanto, o novo trabalho de Magalhães parece melhor desenvolvido, menos “bobo”, como se todas as canções fossem exploradas de forma cuidadosa, como se cada segundo do registro fosse entalho de maneira precisa, não matemática, mas natural. É praticamente impossível não se deixar absorver pelas doces emanações que ecoam através de Sambinha Bom, Por Que Você Faz Assim Comigo? ou demais composições que vão se desdobrando ao longo do álbum.

Embora já fosse visível a aproximação da cantora com a música brasileira em seu último disco – algo bem explorado em canções como Nem Fé, Nem Santo -, é com este terceiro trabalho que a paulistana se entrega de vez aos sons nacionais. Da bossa nova ao samba, passando rápido pela Tropicália, boa parte do trabalho ecoa sons calorosos e compostos de novas texturas, afastando a cantora das antigas predisposições ao folk de Bob Dylan ou as mínimas aproximações com a obra de Johnny Cash. Tudo esbanja frescor, delicadeza e sentimento, rompendo o aspecto demasiado plástico de outrora, principalmente se observamos o último disco da cantora.

Da árvore de experiências que originaram seu novo álbum, a artista e o parceiro escolheram justamente o fruto mais maduro, doce e suculento de todo o pé, fazendo com todas essas sensações sejam encontradas logo na primeira mordida ou na primeira audição do registro. Mallu Magalhães não é mais a jovem precoce, com voz de pudica, entoando composições adolescentes que ao acaso fizeram sucesso, quem ainda insiste nisso está deixando passar um dos frutos mais saborosos da árvore musical que cresce em solo brasileiro.

Pode falar, não importa
O que eu tenho de torta
Eu tenho de feliz
Eu vou cambaleando
De perna bamba e solta

Pitanga (2011, Sony/BMG)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Marcelo Camelo, Tiê e Lulina
Ouça: Velha e Louca, Sambinha Bom e Olha Só, Moreno

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.